Meu corpo é uma jaula.
Gaiola encaixada, incrustada
Num imenso parque... zoológico.
Sou provida de potentes asas coloridas
Que se anulam e se encolhem doloridas
Ao trombarem com as grades que me cercam.
Visitantes a sorrir se acercam,
Farsantes com ar simpático,
Num processo automático
De deslumbramento ante o brilho
Das luzes que irradio.
Eu retribuo. Sorrio.
Sou provida de antenas imensas mas invisíveis,
Que captam o tom apático, tão próprio e sintomático
Dos irmãos mais insensíveis.
Alguns, menos ariscos, em ousado gesto de altruísmo,
Estendem as mãos às minhas “penas”,
Mas a seguir, assustados, as recolhem apressados,
Talvez por pressentir minhas antenas.
Às vezes, quase chego a ser feliz,
Pois sou muito bem “tratada”.
Chego mesmo a ser mimada!
E pasmem, sou invejada
Pelos irmãos prisioneiros.
Leões cegos; animais bisbilhoteiros.
Mas quando a noite desce
E a paz se instala,
Eu clamo ao Infinito.
Não mais grades, tratadores, visitantes,
Não mais farsantes.
Inefável percepção...
De uma outra dimensão.
*Publ. na Página Poética do Jornal "O Meirinho em Roteiro", agosto/1982 (pág.13).
2 comentários:
oi mae prefiroo o outro modelo....
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