sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

JAULA

Meu corpo é uma jaula.

Gaiola encaixada, incrustada

Num imenso parque... zoológico.

Sou provida de potentes asas coloridas

Que se anulam e se encolhem doloridas

Ao trombarem com as grades que me cercam.

Visitantes a sorrir se acercam,

Farsantes com ar simpático,

Num processo automático

De deslumbramento ante o brilho

Das luzes que irradio.

Eu retribuo. Sorrio.

Sou provida de antenas imensas mas invisíveis,

Que captam o tom apático, tão próprio e sintomático

Dos irmãos mais insensíveis.

Alguns, menos ariscos, em ousado gesto de altruísmo,

Estendem as mãos às minhas “penas”,

Mas a seguir, assustados, as recolhem apressados,

Talvez por pressentir minhas antenas.

Às vezes, quase chego a ser feliz,

Pois sou muito bem “tratada”.

Chego mesmo a ser mimada!

E pasmem, sou invejada

Pelos irmãos prisioneiros.

Leões cegos; animais bisbilhoteiros.

Mas quando a noite desce

E a paz se instala,

Eu clamo ao Infinito.

Não mais grades, tratadores, visitantes,

Não mais farsantes.

Inefável percepção...

De uma outra dimensão.

*Publ. na Página Poética do Jornal "O Meirinho em Roteiro", agosto/1982 (pág.13).

2 comentários:

Suzete Carvalho disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

oi mae prefiroo o outro modelo....