sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

HE R Ó I S

Tarde dessas, entre raios e trovões que faziam prever uma chuva torrencial, desliguei o computador acreditando assim proteger meu trabalho de uma eventual queda de energia e resolvi assistir ao noticiário, preocupada com o estrago que a tempestade que se avizinhava pudesse estar fazendo em outras regiões da cidade.

Na zona norte, o flagelo não vinha dos céus, mas parecia surgir do inferno, já que o fogo grassava assustadoramente numa favela. Na tela, bombeiros se expunham ao perigo enquanto alguns moradores travavam uma batalha (pasmem!) entre eles próprios. Sim, homens brigavam, mulheres desmaiavam, crianças choravam, aumentando o trabalho dos bombeiros que se dividiam entre o combate ao fogo e o atendimento a todos.

Desconsolada, mudei o Canal. Mais um drama, enfrentado agora pela polícia militar: Baderneiros de uma comunidade próxima à Marginal Tietê atiravam pedras nos policiais, chamados para desimpedir o trânsito que eles haviam paralisado ao fechar a via expressa e algumas ruas das proximidades, ateando fogo a pneus. Horário de rush, confusão total por uma bandeira inusitada, pois (pasmem novamente!), a manifestação havia sido deflagrada contra a transferência de presos perigosos após uma rebelião na penitenciária.

Antes de mudar novamente o Canal, me impus uma condição: ‘apenas mais uma tentativa’! Na tela, dois policiais civis atolados às margens de um córrego barrento tentavam, em luta inglória, salvar uma mulher que fora levada pelas águas que despencavam dos céus da zona Leste. Já ia desligar, quando o apresentador assumiu uma postura indignada para anunciar que “os gastos da Administração Pública com o ‘nosso’ (dele?) dinheiro, não diminuíram, apesar dos vergonhosos serviços públicos prestados”.

“Vergonhosos”? Desliguei e chorei. Pelo sofrimento de toda uma população inerme diante da fúria dos elementos e de sua própria ignorância. Pelo diuturno heroísmo mal reconhecido e mal pago de tantos servidores. Pela inversão de valores alimentada por alguns aproveitadores que desonram toda a classe Política e por parte de uma mídia bem paga, que faz acreditar que todo servidor é ‘Marajá’ e que sequer paga impostos.

Desconsolada, senti-me impotente num primeiro momento e me encorujei, mas a seguir, inspirada pelo heroísmo de tantos servidores anônimos, que não se deixam abater não obstante a discriminação que os transforma em ‘bodes expiatórios’ das mazelas sociais e governamentais, me reergui. Religuei o computador e tentei fazer a minha parte da forma que me é mais familiar: escrevendo.

* Crônica publicada in Folha do Servidor Público nº 185, abril/2008, pág. 9.

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