segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Meditação

Nas últimas décadas, a idéia de meditação foi infiltrada na cultura tradicional do ocidente, de forma muitas vezes excêntrica para nossos padrões. Assim, o mundo cristão viu-se de repente inundado por novas correntes espirituais, que lhe apresentavam a meditação tibetana, zen, hindu-yoga ou mesmo meditações criadas aleatoriamente por alguns ditos gurus, que colocavam em xeque nossos dogmas milenares, o que a tornou uma prática de certa forma marginal.

E é exatamente por estar ligada milenar e tradicionalmente aos ensinamentos místico-religiosos que a meditação tem sido sistematicamente psicologizada. O que me parece, neste momento, é que a meditação precisa ser desmistificada e encarada como algo tão natural e necessário ao ser humano, quanto a locomoção e a alimentação.

Afinal, o que é meditar? Conceitos existem ás mancheias. Técnicas, também. Ensinam-se procedimentos facilitadores (muitas vezes complicadores) ou indutores de um estado meditativo, mas o conteúdo deverá sempre caber ao praticante, ou não passará de uma manipulação autoritária.

Assim como o corpo precisa de um tempo para adequação e aprendizado, até que possa, paulatinamente, ensaiar seus primeiros passos e ingerir alimentos cuja digestão é mais complexa, a introdução à meditação também pressupõe conhecimento, preparo e adaptação.

Não há fórmulas melhores ou piores, pois praticar meditação é uma questão essencialmente subjetiva. A meu ver, meditar é um estar-disponível à inspiração e à transcendência, a qualquer momento e em qualquer lugar, desapegado dos estímulos externos que nos induzem a um permanente estado re-ativo. Meditar é, portanto, um estado de espírito.

Alimento do espírito e importante meio de locomoção para os vários níveis da consciência, a prática correta da meditação requer um certo amadurecimento psico-mental – uma mente compassiva, uma inteligência fundada no amor – antes de alçar grandes vôos.

Como ensina Krishnamurti, pré-requisito da meditação correta é colocar a “casa psicológica” em ordem (desejos, prazeres, relacionamentos, etc.), sem o que podemos sentar de pernas cruzadas ou mesmo ficar de ‘cabeça para baixo’ pelo resto de nossas vidas, que apenas seremos levados a toda espécie de ilusão.

Significa dizer que as práticas meditativas não devem ser usadas como terapia, embora sejam reconstitutivas ou transformadoras da consciência, pois, a meditação sistemática pode promover a integração do Self e ajudar a curar as dores da alma ou até mesmo a nos religar com o cósmico ou outras tantas formas de doação de sentido para a vida.

Mas meditar, acima de tudo, diminui a ansiedade existencial, porque nos descondiciona das mazelas do passado e das frustrantes expectativas quanto ao futuro. É uma forma bastante confiável de buscar o autoconhecimento, principalmente se for praticada constantemente.

Uma das formas mais conhecidas e praticadas de meditação é a entoação de mantras, fórmulas que podem estar contidas em uma palavra, um verso ou uma oração que, de tanto serem repetidas, nos induzem a um estado contemplativo, instalando-se em nosso coração e em nossa mente.

Outras formas de “suporte” para a prática da meditação são a vitalidade (observar a respiração), a reflexão – exclusivamente sobre um tema ou uma frase, a identificação com uma qualidade (o sentimento do amor ou da paz, por exemplo), ou a imaginação direcionada (ou visualização, que inicialmente deve ser exercitada com orientação de um instrutor, para não se confundir com fantasia).

O importante, a meu ver, é não ficar preocupado em “parar os pensamentos” como muitos ensinam, mas deixar que eles fluam sem se apegar a eles. Quando estamos tentando meditar, se algum pensamento perturbador insistir em chamar nossa atenção, não devemos nos envolver com ele, mas penas ‘observá-lo’ tranqüilamente e ele se afastará.

Aliás, a tranqüilidade é essencial a quem se dispõe a meditar. Assim, procurar um lugar silencioso, sentar-se comodamente, inspirar e expirar profundamente (sem forçar), relaxar o corpo e a mente na medida do possível, é um bom começo. Pode-se, também, simplesmente observar a inspiração e a expiração, sentindo o ar entrando e saindo de nossas narinas.

Com essa prática por 10 minutos, duas vezes ao dia, iremos aprendendo a soltar as tensões do corpo e as preocupações da mente, formando o “ânimo de prontidão” que aos poucos nos despertará para a verdadeira meditação. A persistência é o grande segredo.

Leituras sobre o tema também são indicadas porque nos vão tornando mais receptivos e conscientes de que a meditação é uma real possibilidade de auxílio para tornar a vida mais tranqüila. A prática diária desinteressada é como um investimento que nos fortalece para enfrentar os problemas do cotidiano.

* Publ. durante algum tempo, sob o título Meditar é Preciso, no site Caminhos do Equilíbrio, da terapeuta e especialista em cromoterapia Dra. Sílvia Fávero.

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