domingo, 25 de janeiro de 2009

O Universo Infantil


Dia desses, participando de uma oficina de origami com um grupo de crianças, procurei observar mais atentamente as reações individuais dos pequenos, para ver se conseguia aprender alguma coisa de seu universo, fora de meu restrito entorno familiar.


Ainda que a maioria das crianças prestasse atenção nas orientações, vi um menino de uns seis anos amassar a dobradura do vizinho porque não havia conseguido terminar a sua própria, enquanto uma menina um pouco mais nova atirava um gibi no meio da mesa, sobre os trabalhos dos companheiros, exigindo que a instrutora lesse uma historinha para ela. “Leia agora!”, gritava.


Um garoto de uns oito anos trocou seu trabalho amassado com o do vizinho distraído que já havia terminado o seu e tentava ajudar uma criança menor, enquanto duas meninas também dessa idade se empurravam disputando o mesmo lugar, embora houvesse acomodação para todos.


Será que já não vimos esse filme antes na política, nas ong(s), no clube, na escola, na família? Será que as crianças não estariam apenas reproduzindo socialmente o nosso próprio comportamento, assim como reproduzimos o comportamento social como um todo?


Claro que o universo infantil é muito mais complexo e rico em manifestações, que vão da ansiedade a uma grande persistência, da insegurança a uma criatividade e sabedoria inatas que sempre nos surpreendem.


Sua transparência ainda não está viciada pela dissimulação que caracteriza a vida adulta. É, portanto, uma pródiga fonte de representações que nos permite analisar a nós mesmos e à sociedade em todas as suas expressões culturais. Somos espelhos uns para os outros, assim é melhor nos cuidarmos para que possamos refletir uma imagem digna de ser vista pelas crianças. O futuro agradece.



Publ. in Revista do Ypiranga nº 143, mai/jun/08, pág.5.




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