sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Poder e ambição

A Política é uma ciência e uma arte. Como toda ciência, requer conhecimento e metodologia. Como toda arte, requer habilidade e inspiração.
Todos sabemos que política e poder são indissociáveis, o que nos faz conferir uma certa “importância” a quem a exerce oficialmente. Dirigir, administrar, organizar negócios, seja em organizações públicas ou privadas, dá status, confere prestígio social.
Como padecemos todos (embora em diferentes graus, ou seja, uns mais que outros) de uma certa carência existencial, o prestígio nos é tão caro que o ambicionamos, exaltamos, invejamos.
A auto-imagem que projetamos – e na qual ingenuamente acreditamos – nos faz acreditar que preenchemos todas as qualidades necessárias ao exercício do cargo que ambicionamos, em direção ao qual nos atiramos com garras afiadas, como se fora uma disputa de vida ou morte.
Confundimos competência com competitividade e esquecemos que, para ser e ter Autoridade, não basta querer, há que ser legitimado pelos outros.
A Autoridade é aceita como tal, se impõe por si mesma, sem determinações, ou será mero exercício de autoritarismo. Este é arbitrário (abusivo), pois sobrepõe o interesse pessoal ao coletivo; pretensioso (ambicioso), pois aspira ao poder pelo status que o poder confere; e desumano, pela crueldade com que é invariavelmente exercido.
O exercício da Autoridade tem um fim (término) feliz: leva à consciência do dever cumprido; o do autoritarismo é triste: leva à frustração, ao ostracismo ou mesmo a situações ridículas.
Sobre o tema, há que considerar, ainda, o imprescindível papel da ética. Ética requer princípios, dentre os quais o mais importante é o respeito ao outro, à verdade, à palavra empenhada. Ética requer consciência e responsabilidade. Política sem ética é politicagem, irresponsabilidade, molecagem.
Mas nem só a política confere poder. O dinheiro, a cultura, a beleza, também o outorgam a quem os possui. Poder-se-ia dizer que ambicioná-los comedidamente, dentro de nossa capacidade de administrá-los é um sentimento normal. Essa a prudentia necessária, de que falava Aristóteles.
O problema, como em qualquer paixão a que nos entreguemos, está na desmesura (falta de medida): sem nenhuma, tornamo-nos apáticos, estagnamos; em excesso, toda paixão é deletéria.
Participar social ou comunitariamente, oferecendo o melhor de nós - sem ambições desmesuradas -, é a melhor maneira de fazer jus ao reconhecimento de nossa competência e, conseqüentemente, a mais eficiente forma de fazer jus ao Poder.

Publ. in Revista do Ypiranga nº 121, mai/jun/2003, pág.7.

2 comentários:

Anônimo disse...

Suzete, todos os seus artigos e contos são maravilhosos e ajudam a mudar a vida de quem os lê. Vc continua sendo minha mãe espiritual. Muito obrigada por tudo. Silvia.

Suzete Carvalho disse...

Obrigada pelas palavras bondosas, Sílvia, mas a admiração é recíproca. Seu trabalho sobre assuntos que dizem respeito à espiritualidade levam a crer que você encontrou sua estrela guia. Eu ainda não encontrei esse ponto de mutação que permite o salto quântico. Ainda preciso de críticas e provocações que incentivem meu trabalho-pé-no-chão.