quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Ação e Reação


O desenvolvimento da linguagem foi, provavelmente, o grande fator que levou os seres humanos a se diferenciarem das outras espécies animais. Expressando-se inicialmente com poucas palavras, o homem foi, à medida das necessidades sociais, das novas descobertas e invenções, enriquecendo progressivamente seu vocabulário.
A palavra, especialmente a escrita, como toda riqueza e conhecimento humanos, logo passou a ser fonte de poder por parte de alguns reacionários que, arbitrariamente, manipulam a verdade, temerosos de que as transformações sociais – aliás, inevitáveis – possam abalar seu status.
É arquimilenar o ensinamento oriental - experiencialmente vivido por Gandhi e outros grandes mestres -, de que o verdadeiro poder do ser humano não está na reação destruidora, mas no exercício da capacidade, que todos possuímos, de agir conscientemente.
A alegre irreverência do povo brasileiro consolidou esse ensinamento na fórmula “malandro que é bom, não chora, espera a volta”, insinuando na entrelinha que, para superar as agressões, é necessário um certo savoir-faire e atenção às voltas que a vida dá.
Essa velha sabedoria popular me parece importante, mas não suficiente, porque não basta esperar, há que agir perseverantemente, pois, “quem sabe, faz a hora, não espera acontecer”. Esta estrofe, banida da linguagem musical pelos déspotas da ditadura, tornou-se um símbolo bem brasileiro da coragem e criatividade que nos são inatas e da qual não prescindimos, ainda que sob pressão.
Ainda que esses dons sejam gratuitos, é necessário agir para mantê-los, construindo diuturnamente nossa plena liberdade de ser e de viver em comunidade, sem dominantes e dominados, vale dizer, sem sermos manipuladores, nem nos deixar manipular.
Se quisermos realmente viver e legar a nossos filhos esse estado de equilíbrio e compreensão social, será indispensável levantar do sonho utópico de que podemos ficar deitados eterna e comodamente em esplêndido berço e procurar adestrar nossa musculatura intelectual e emocional, tanto quanto exercitamos nossos músculos físicos.

*Publ. in Revista do Ypiranga, nº 114, jan/fev/2002, pág.6.

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