sexta-feira, 19 de junho de 2009

Ruídos de comunicação

Hoje tive uma experiência interessante, que me fez repensar minha própria postura social, especialmente por ter ocorrido logo após eu haver postado a matéria anterior, a que denominei “Sociopatia, o mal do século?”. Pois bem, ainda sob o impacto de meus próprios argumentos, desliguei o computador (meio contra a vontade) e me dirigi a uma loja de calçados onde na véspera encomendara uma sandália do tipo “crocs” (ou coisa que o valha), pois esquecera os chinelos em casa.

A propósito, escrevo do Guarujá, cidade à qual recorro quando minha saúde e minha alma estão necessitando de um relax, mas devo confessar que, além dos chinelos havia esquecido também de deixar em São Paulo as tensões cotidianas, das quais acreditara que o mero afastamento físico me libertaria.

Mas, vamos aos fatos. Ontem, cansada dos tênis e à falta dos chinelos, optei por andar descalça (ou melhor, de meias) pelo apartamento, mas senti que a friagem nos pés me incomodava ainda mais. Dirigi-me, então, ao Shopping “La Plage”, onde encontrei uma sandália que preenchia minhas necessidades até com certa vantagem. Mas a famosa Lei de Murphy logo se fez presente e, decepção, não havia o meu número. Edinho, simpático vendedor, logo se propôs a solicitar a minha “numeração” em outra loja do grupo, garantindo: - “Hoje mesmo,” (ontem) “ à tarde, a sandália já estará aqui”. – “Se você me der certeza, amanhã venho buscá-la”, respondi, certa de que havíamos estabelecido um compromisso.

A seguir, vi a mesma sandália numa loja próxima, mas declinei da sugestão da também amável vendedora, que se propusera a providenciar o meu número na mesma tarde: “É que eu já me comprometi com o vendedor de outra loja e não seria justo fazer a mesma encomenda a ambos. Se você tivesse minha numeração agora, eu poderia comprar, pois teria tempo de avisá-lo”.

Pois bem, hoje, fiel à minha palavra – apesar de já estar me acostumando e até gostando de andar sem os benditos chinelos - parei meus escritos a contragosto, conforme disse acima -, e me dirigi à loja, na certeza de encontrar a encomenda à minha disposição, mas... “ingrata surpresa!”, fui informada não apenas de que as benditas sandálias não haviam chegado, mas também de que, como Edinho estava de “folga”, as vendedoras não sabiam informar o que havia acontecido. Gentilmente, a funcionária que estava no caixa, propôs: - “A senhora não poderia esperar um pouco, para ver se conseguimos providenciar outro par?”, tendo recebido um sonoro “NÃO” de minha parte.

Decidida a postar uma crônica que intitularia “Ética x Ingenuidade”, me dirigi a uma cafeteria próxima, em busca de um café e um chocolate, conhecidos antídotos ao enfezamento (e uso propositalmente este termo, apesar de dele desgostar, por conhecer-lhe etimologia). Mal me acomodara, quando percebi que a citada funcionária vinha em minha direção, com um olhar bondoso, mas ainda um tanto assustado: - “Se a senhora ainda quiser, nós já conseguimos as sandálias”.

Voltei à loja, onde fui acolhida por quatro sorrisos que competiam em beleza com suas próprias portadoras, cujos olhos continuavam a denotar um certo receio de outra possível reação anti-social de minha parte. Mayara, Gislaine, Ieda e Ingrid somente ficaram à vontade quando as convidei para me ajudar na escolha de um novo título à crônica que eu já decidira escrever, mas cujo teor repensei em vista da doçura e paciência das quatro jovens vendedoras que, apesar de não possuirem a mesma bagagem cultural que meus estudos me permitem ostentar, nem a experiência acumulada pela idade, me deram uma lição de civilidade ao concluir que tudo não passara de um simples “ruído de comunicação”.

Entreguei a elas o endereço do blog, com o convite para que postem um comentário, o que me deixaria muito honrada.

4 comentários:

Daniela disse...

hahahaha
Adorei, mã, fiquei anciosa (novidade...) esperando o final, porque estava com dó (novidade...) das vendedoras...hahahahaha
beijokas saudades!

Suzete Carvalho disse...

Olá, querida, respondo de novo pois me esqueci de salvar a resposta anterior. Espero que não acabe sendo publicada em duplicata. Estou começando a achar que ando muito esquecida, que acha?
Pois bem, o que eu havia escrito em resposta ao seu comentário era mais ou menos o seguinte: "num primeiro momento, achei que você estava se referindo às vendedoras do Veredas ou mesmo da Maria Chica. Apenas depois de autorizar a publicação do comentário e ver em qual matéria se encaixava, percebi que o seu dó era das vendedoras referidas na crônica.(rsrs). Afinal, você adorou a matéria ou o episódio? Saudade e beijocas também.

Anônimo disse...

gostei do texto , tenho boas lembranças do guarujá dos anos 80

abraço

diniz

Suzete Carvalho disse...

Olá Diniz. Que bom que você gostou do texto.
Guarujá continua uma bela cidade, mas já não tem o charme daquele tempo. Mudou a cidade ou terei mudado eu?
Porque você não escreve um daqueles concisos poemas - cuja riqueza se revela na profunda observação e nas "deliciosas" metáforas -, a respeito de suas lembranças?
Abração.