quinta-feira, 23 de julho de 2009

De Justiça e Origamis

Em resposta ao comentário postado em 15/07 pela jornalista Maristela Ajalla, informei que estaria ‘fora do ar’ por uns dias e que voltaria “com tudo” nesta semana, pois estava pressentindo que haveria algo a celebrar. Logo ao chegar, descobri que a realidade transcendeu minhas expectativas.
Duas notícias quase me levaram ao êxtase, resgatando minha fé na Justiça humana, já que da providência divina eu jamais duvidei. O que quero dizer, de fato, é que, embora muitas vezes a desesperança tente se apossar da minha alma, no fundo eu sempre soube que a vida nos retribui de alguma forma e no momento oportuno, toda a nossa dedicação e perseverança no aprimoramento da vida, na busca do conhecimento, na concretização de nossas potencialidades (que todos as temos em profusão).
Maior a gratuidade de nossa entrega, mais efetivo o retorno. Maior a abrangência do trabalho, maior a reverberação social. Maior a humildade e aceitação dos tropeços intercorrentes, maior a superação de nossos próprios limites e a fluidez dos resultados.
Pois bem, a primeira notícia desta semana que me enlevou, foi a nomeação pelo presidente Lula, do meu competentíssimo amigo Dr. Ricardo Tadeu da Fonseca, para o cargo de desembargador do Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região, em Curitiba.
Na década de 90, tive a honra e o prazer de ser colega de pós-graduação desse homem inteligente, corajoso e profundamente estudioso, que jamais se deixou abater, mesmo tendo perdido totalmente a visão física quando cursava a Faculdade, aos 23 anos de idade. Sua nomeação como magistrado resgata a profunda injustiça de sua desclassificação em 1990 para o cargo de juiz do trabalho, sob a preconceituosa alegação de “deficiência visual” como impedimento para o exercício do cargo, não obstante houvesse sido aprovado na fase escrita do concurso respectivo.
Sua brilhante carreira no Ministério Público do Trabalho, em cujo concurso público de títulos e provas em 1991, eliminou milhares de candidatos, revelou que meras dificuldades físicas não são absolutamente impeditivas para o exercício de funções técnicas e intelectuais ou que exijam juízos de valor. Ao contrário, os obstáculos podem ser um plus a mais para a competente realização profissional, dada a extraordinária capacidade de adaptação, o domínio da tecnologia e o indefectível desenvolvimento de todos os sentidos, alcançados por tantos homens e mulheres com alguma deficiência, dentre os quais Dr. Ricardo se destaca por essas e muitas outras qualidades.
Outra notícia alvissareira, agora no campo da arte, é a de que as exposições KIMONOS e SAMURAIS em ORIGAMI, da artista Alzira Cattony, passaram a pertencer ao acervo do Pavilhão Japonês-Ibirapuera e estão sendo catalogadas para serem preservadas. Em princípio, poder-se-ia dizer que eu sou suspeita para falar sobre esse trabalho, já que Alzira é minha prima-irmã (“mais irmã do que prima”, segundo suas palavras), mas o fato é que conheço as dificuldades da trajetória desse trabalho belíssimo, cuidadoso e delicado, cuja maestria deleita os olhos de todos quantos têm o privilégio de visitar suas exposições.
De parabéns a sensibilidade, a arte e a justiça brasileiras, em que pesem ainda tantas mazelas. De parabéns Alzira e Ricardo, símbolos de dedicação ao trabalho, a reencantar o mundo. Possamos nós comemorar outras conquistas em todos os campos, que pessoas dedicadas e competentes existem às mancheias, Brasil afora. Celebremos.

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