segunda-feira, 6 de julho de 2009

Poluição virtual

Todos nós temos alguns conhecidos bem intencionados, porém, sem muito discernimento crítico, que entopem (literalmente) nossas caixas postais com mensagens repetitivas, às quais acrescentam, à guisa de título, suas observações pessoais: “belíssimo”, “não perca”, “esta é demais”, ou, o que é pior, “repasso porque concordo”.
São incontáveis paisagens, animais, crianças, castelos etc, envelopados em frases de autoria e saber questionáveis, com um fundo musical, este sim, geralmente agradável. Mas a grande e atávica questão que ora ressurge e nos bombardeia dissimulada em cores e sons é a do preconceito, do qual as mulheres, em regra, são as “vítimas” priorizadas, embora nenhuma das outras chamadas minorias esteja livre de ataques eventuais.
Geralmente deleto “em bloco” essa ingênua poluição virtual, salvo quando algum título atrai minha atenção por se relacionar com algum tema objeto de meus estudos e interesses. É o caso de um e.mail recém-recebido de um de meus mais fiéis “fornecedores” dessa cultura virtual alienada e alienante, que ostentava (em vermelho) o título: “REPASSO PORQUE CONCORDO: Cristãos contra a Lei da Ditadura Gay”.
Pois bem, dentre as “pérolas” do extenso teor do e.mail, destaco uma das várias frases de “alerta” aos riscos do “implante gayzista” (sic), que, sob a ótica dita “cristã”, o projeto de lei 6.418/2005 - que inclui o preconceito contra a orientação sexual entre os crimes de discriminação -, em tramitação no Senado, traria: “Pais precisarão de autorização estatal antes de levar seus filhos a reuniões que critiquem o homossexualismo”(!!!!!).
Após declarar haver recebido “informações confidenciais” de uma Assessora Jurídica da Frente Parlamentar Evangélica sobre a “articulação do governo para apoiar a glorificação do homossexualismo e a criminalização de cristãos anti-sodomia”, passam os autores a tecer considerações altamente discriminatórias também às religiões afro-brasileiras, chamadas por eles “bruxarias vindas da África”, para ao final sugerir em letras vermelhas garrafais, que se repasse a nota em nome da “liberdade de expressão”(?), encerrando triunfalmente: “Que Brasil você vai querer para os seus filhos?”.
Aproveito a pergunta para propor algumas reflexões aos leitores: Que Brasil podemos querer para nossos filhos, se continuarmos a criá-los sob a ótica de um preconceito ancorado em pressupostos ensinamentos cristãos? Que Brasil podemos querer para nossos filhos se continuarmos a projetar nossos recalques naqueles que têm a coragem de assumir suas próprias propensões naturais? Que Brasil podemos querer para nossos filhos se continuarmos a disseminar informações discriminatórias, fomentando a ignorância (da realidade) e a exclusão (de todos que não se adequem aos nossos próprios interesses)?

Nenhum comentário: