quarta-feira, 5 de agosto de 2009

A discriminação pela linguagem

Às voltas com minha pesquisa sobre a mulher no campo da filosofia, deparei com um texto da advogada Letícia Massula intitulado Até tu, Gil?, publicado no blog de Liliane Ferrari a propósito do tema A mulher e a opressão da linguagem, que vem corroborar minhas preocupações, observações e experiências sobre o assunto.
Linguagem é poder e, como tal, tem sido utilizada como uma das mais potentes formas de manipulação, discriminação e exclusão das chamadas “minorias”, expressão que por si só já demonstra seu poder discriminatório simbólico, haja vista que não se refere a uma inferioridade numérica, mas sim meramente ideológica.
Assim é que, dentre as “minorias”, incluem-se, além das mulheres – que na verdade representam metade da população -, também os afro-descendentes (homens e mulheres que, juntos, por seu lado também constituem a maioria populacional), além das pessoas com algum tipo de deficiência, bem como os homossexuais e os índios, dentre outros grupos ditos “minoritários”.
Enfim, um único termo, aqui tomado como exemplo – “minoria” – por si só já demonstra a devastação que a linguagem pode impor (e impõe) à imensa maioria de homens e mulheres relegada pela “brancura patriarcal” a uma cidadania de segundo grau. Incontáveis outros exemplos poderiam ser aqui lembrados, mas citarei apenas mais um, deixando aos leitores o convite para que me auxiliem a compor um dicionário da linguagem discriminatória.
Trata-se da palavra “deficiência”, que pressupõe déficit, incompletude, ausência de eficiência ou de capacidade para uma ou mais ocupações. Ora, em assim sendo, todos deveríamos ser considerados deficientes, já que cada um de nós – homens ou mulheres, ricos ou pobres, de todas as idades e raças – queiramos ou não, apresentamos dificuldades para a realização de inúmeros afazeres.
Encerro fazendo minhas as palavras do educador Paulo Freire, epigrafadas no texto da Dra. Letícia: “A recusa à ideologia machista, que implica necessariamente a recriação da linguagem, faz parte do sonho possível em favor da mudança do mundo”.

4 comentários:

Liliane Ferrari disse...

Suzete!!!
Que ótimo seu post!!! fico feliz qdo as coisas q publico servem e são lidas com interesse.

Aproveito e te informo q dia 30 de agosto vamos fazer encontro de blogueiras! Se puder vá! Todas as informações aqui:
luluzinhacamp.com

bj
Lili

Cozinha da Matilde disse...

Oi Suzete,

Obrigada pela menção a este texto que me é muito querido!

E a propósito do termo deficiência te conto aqui uma história: uma amiga, vítima da talidomida, que nasceu nasceu sem as pernas e tem apenas um braço com 3 dedos, sempre abre suas palestras (ela é especialista em direitos das pessoas com deficiência)dizendo que na verdade é muito eficiente, pois com apenas 3 dedos faz tudo o que nós, com 10, fazemos!

um abraço,

Letícia (a advogada que virou cozinheira)

Suzete Carvalho disse...

Olá, Liliane
Que bom que você gostou da postagem. Sempre leio com interesse matérias importantes e bem escritas como a sua. Obrigada pela presteza em atender ao convite para visitar o meu blog.
Quanto ao encontro de blogueiras, fiquei encantada com a ideia de trocar experiências e conhecimentos. Farei o possível para estar presente.
Abração e apareça sempre.
Suzete

Suzete Carvalho disse...

Oi, Letícia
Sou eu quem agradece. Sua amiga deve ter muito a nos ensinar. Também tenho um amigo (ex-colega de pós) especialista em direitos de pessoas com deficiência e doutor em Direito do Trabalho, que é cego desde os 23 anos e acaba de ser nomeado pelo presidente Lula para um cargo de desembargador no TRT de Curitiba.
Postei recentemente uma "celebração" a respeito, sob o título "De Justiça e Origamis". Quando puder, dê uma lida e deixe um comentário, pois sua lucidez faz a diferença.
Sobre expressões preconceituosas, você acha que estou "viajando" ao pensar em organizar um dicionário de palavras discriminatórias na linguagem corrente e na terminologia, inclusive a jurídica?
Talvez nossos leitores e os da Liliane pudessem nos ajudar a começar um levantamento.
Mudando de "pato pra ganso" (apesar de eu ser vegetariana), vou visitar sua Cozinha, cujo "aroma" já está me dando água na boca. Quem sabe na próxima visita você nos brinda com uma receita?
Abração.