quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Diferentes e complementares

Dentre as questões existenciais que venho trabalhando há anos, talvez a mais arraigada no ser humano seja a do Preconceito, legado cultural do patriarcalismo que se revela, queiramos ou não, das mais simples atitudes e palavras do cotidiano à lógica de discursos que se pretendem, exatamente... antidiscriminatórios.

Nem mesmo conceituados cientistas, artistas e escritores escapam das armadilhas mentais que o preconceito nos arma, geralmente revelado em atos falhos ou nas entrelinhas de seus escritos, às vezes contidos inadvertidamente em livros e artigos que se pretendem... pedagógicos.

Assim, por exemplo, hoje leio na home da Uol, a seguinte “chamada”: O que fazer em casos de preconceito contra homossexuais na escola, que remete ao artigo intitulado Preconceito homossexual, de autoria do psiquiatra e escritor Içami Tida, constante da página Uol Educação.

No artigo, o autor discorre sobre hormônios e educação, informando que os preconceitos são assimilados pelas crianças, devido à cultura machista e “ensina”: “As mulheres são diferentes e complementares, mas não são inferiores aos homens”. (sic/grifei).

Pergunto: Teria o educador (cf. currículo) pretendido dizer que os seres humanos são diferentes e complementares entre si e, portanto, não há falar em hierarquia entre eles? Sujeito ao imprinting cultural que nos macula a todos, teria o Dr. Içami revelado inconscientemente seu próprio machismo?

Enfim, o autor de Quem ama, Educa (entre outras mais de duas dezenas de livros), conclui o artigo com o seguinte conselho: “Cabe a todos nós, professores, pais, educadores e cidadãos em geral preparar pessoas mais saudáveis, livres de preconceitos, não importa quais sejam”.

Com o devido respeito à experiência, conhecimentos técnicos e renome do ilustre psiquiatra, eu diria que cabe a cada um(a) de nós, nós prepararmos para que sejamos realmente pessoas mais saudáveis interior e exteriormente, vigiando nossos próprios preconceitos para que possamos – com transparência – servir de espelho às gerações mais jovens.

6 comentários:

Eugênia Pickina disse...

Amiga Suzete, bárbaro o seu post! Você, sim, com clareza, nos faz refletir sobre o legado patriarcal que dissemina posturas discriminatórias com sutileza e argumentos que mascaram o domínio do masculino, que cria a visão polarizada e as relações hierarquizadas... Tiba, "sem querer", caiu numa cilada... Infelizmente, homens, mulheres, pensad@res de diversos campos continuam a propagar esse legado. Sofri tanto quanto fiz minha dissertação... O tema estava ligado ao patriarcado, o privado e o sofrimento (silencioso e político, por favor!) de feminino, que precisa ser integrado, junto com a ideia de alteridade... Por um mundo melhor. Adorei a reflexão. Continue. Bjs e abraços no seu querido coração.

Suzete Carvalho disse...

Olá, amiga Eugênia
Você tem razão quando fala nas sutilezas que permeiam os argumentos mantenedores do machismo. Vejo-as como uma violência simbólica que alimenta o senso comum e, por consequência, o status quo dos agentes da dominação, dentre os quais os políticos, juristas e acadêmicos em geral têm assento privilegiado.
Imagino as dificuldades que você enfrentou para desenvolver o tema.
Espero que continuemos a refletir juntas sobre tantas questões sutis, porém tão significativas...para um mundo melhor.
Abraço carinhoso.

Anônimo disse...

Olá. Sem dúvida, de reconhecida pertinência o assunto tratado e, aproveitando o gancho do parágrafo final do post, acredito que são os exemplos que ensinam e não o discurso empregado. Discurso contrário à atitude não educa, ao contrário, deseduca e prejudica duplamente.
Gostei do seu blog! Parabéns!
Saudações.

Suzete Carvalho disse...

Olá, Marcos
Prazer em recebê-lo por aqui.
Concordo com você. De fato, talvez precisemos de menos discursos e mais recursos (interiores). Tenho procurado me cuidar para ser transparente.
Também visitei seu blog e fiquei encantada com a versatilidade (vai da mais moderna tecnologia à mágica arte da culinária).
Meus cumprimentos e apareça sempre.
Abraços, Suzete.

Ana Paula Andrade disse...

Adorei, vou linkar seu blog nos meus. Grata pelo encontro.
Abraço fraterno,
Ana
Blog's:
Rede Matríztica
Pedagogia do Encontro
Clã Filhas da Lua

Suzete Carvalho disse...

Olá, Ana Paula
Que bom que você gostou. Quem sabe podemos trocar mais ideias sobre esse e outros assuntos.
Volte sempre. Vou visitar seu blog e já sei que vou gostar.
Abraço.