quarta-feira, 7 de outubro de 2009

O copo está transbordando

Certa vez, em uma palestra sobre as Dores da Alma, ao dizer aos participantes que as crianças têm muito a nos ensinar, fui interrompida por um senhor muito indignado: - “Eu não tenho nada a aprender com meu filho. A senhora está invertendo as coisas. São os pais que devem ensinar as crianças e não o contrário”.
Percebendo que algumas mulheres meneavam a cabeça, discordando de meu interlocutor, propus-me a intermediar, mesmo antes do fim do encontro, um debate sobre a questão e não me surpreendi com o resultado: praticamente todas as mulheres que se dispuseram a falar concordaram com minha teoria, enquanto a maior parte dos homens achava a ideia uma “subversão de valores”.
O fato me veio à lembrança ontem, quando, desabafando em família uma questão (externa) que poderá nos trazer aborrecimentos, declarei num rompante: - “Nem que eu tenha que vender meu carro, prefiro gastar meu dinheiro com o melhor advogado da área do que pagar uma dívida que não é minha. Quero que esse bandido vá parar no olho da rua”. Minha filha, assustada (e preocupada com minha pressão arterial), retrucou: - “Pelo amor de Deus, mamãe, controle-se. Você não é assim”.
Nesse momento, Amanda, minha neta, que a tudo ouvia fingindo brincar, declarou do alto de sua “experiência” de seis anos de idade: - “Deixa a vovó desabafar, mamãe. Você não está vendo que o copo dela está cheio?”. E virando-se para mim: - “Você está certa, vó. Quando a raiva transbordar, você vai tomar a água mais limpa e resolver o problema com calma”.
Instantaneamente me reequilibrei, fascinada com sua “sabedoria”. Quando tentei elogiá-la e agradecer, Amanda desconversou: “Adoro suco de maracujá”. Até agora não sei se ela realmente estava com vontade de tomar um suco, ou se esse era mais um conselho (dadas as propriedades calmantes da fruta).
Já ia terminar esta crônica-depoimento, quando minha eterna conselheira Dª Nena, intervém: - “Você não acha que seus leitores e leitoras têm o direito de saber o que a atormentou a ponto de tirá-la do sério?”. – “Acho, sim, mas antes vamos ouvir o que a advogada (com quem marcamos uma consulta para amanhã) nos aconselha a fazer. Por enquanto, estou fazendo um download de tudo isso”.
Acho que, sem querer, acabei mexendo com seus “brios” de conselheira exclusiva, pois Dª Nena encerrou a conversa abruptamente: - “Quem tem muitos conselheiros, não tem nenhum”. É, parece que todo ego (mesmo que super ou alter) tem seus momentos de desequilíbrio. O jeito é deixar transbordar (permitir-se desabafar de alguma forma inofensiva a nós próprios e a outrem) esses sentimentos tão próprios do ser humano - a indignação contra as injustiças ou mesmo o ciúme, entre tantos outros – antes que contaminem a água de nosso copo.
Namastê.



5 comentários:

Eugênia Pickina disse...

Querida Suzete, adorei seu "desabafo" e o "transbordar do copo", reconhecido pela sua sábia neta de seis anos... Sempre digo que o Espírito é imortal e carrega sua vasta bagagem... E mesmo que ele esteja provisoriamente "vestido" de criança, estágio necessário para um novo despertar, sempre aprendemos com essas crianças maravilhosas, guardiãs do Mistério que nos enlaça.
Continue, por favor, a partilhar essas suas experiências revestidade de muita sabedoria - a que canta da Alma. Um beijo. Eugênia

Maira Macri disse...

Aameeei, querida xara pisciana... Nossos copos precisam transbordar. Eu costumo dizer "chover"... Deixe chover que, das nuvens negras, cai água límpida e fecunda!
Sempre achei que ninguém nunca entendia pq eu chovia...
Sei que existem tantos outros qe precisam disso!
Super bjos =*
com carinho, Ma.

http://mairamacri.blogspot.com/2008/04/pisciana.html (Veja este poeminha que fiz sobre ser pisciana...)

Maira Macri disse...

Ah,não precisa aceitar este:
Linkei vc lá no meu cantinho!
Precisamos tomar café e bater mais papo xD
Bjão!!!

Suzete Carvalho disse...

Olá Eugênia
Que bom ter você por aqui novamente. De fato, acredito que a sabedoria nos é inata, mas em vez de aprimorá-la, parece que o envolvimento com o ego, à medida que caminhamos na Terra, nos faz perder contato com a fonte. Em minhas reflexões, sempre achei que as crianças nascem com o Espírito desperto e a nossa lógica (nosso pseudo-conhecimento da realidade)é que as afasta da Luz. À medida que crescem, nós as submetemos a "filtros ideológicos" que obnubilam suas relações com o Cosmos, consigo próprias e com o Outro, não lhe parece? "Re-ligar-se" é sempre difícil. Nossa missão, talvez, seja no sentido de aprimorar esses relacionamentos "infantis", começando conosco mesmos(as)e assim, facilitando seu "despertar" na dimensão do tempo.
Como vê, você me inspira. Portanto, volte sempre.
Com carinho,
Suzete

Suzete Carvalho disse...

Olá, Maira, pisciana linda e talentosa.
Você é uma artista nata (como já disse em comentário ao seu blog). Compor, cantar, escrever a, ainda por cima, ter um traço firme e muita imaginação, são dons que não podem ser desperdiçados. Que a água límpida da chuva fecunde todas essas hortas e as faça brotar em criatividade ( e sucesso, que ninguém é de ferro).
Você é minha primeira "seguidora" e estou muito orgulhosa. Vou pedir a alguém para me ajudar a adicionar sua foto na barra lateral, pois, como escrevi na crônica de 29/09 (SOS Blogueir@as experientes), não sou muito boa nas "artes" da informática. Enquanto sua foto fica decantando em minha caixa,(para garantir), adicionei seu blog aos meus links.
Na primeira chance, vou tomar um café com você, para "papearmos".
Beijos.
Ah: Não consegui ler a poesia, pois a página não abre. Porque você não a posta aqui, numa nova visita?
Até breve e cuide-se, que você é muito preciosa.
Suzete