sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Consciência Negra

Aproveitando o feriado prolongado que o Dia da Consciência Negra proporciona aos brasileiros, achego-me ao Guarujá como outras milhares de pessoas, em busca de um contato com a natureza e um pouco de relax dos afazeres cotidianos, embora carregue comigo permanentemente um, digamos assim, “certo alerta” para as questões sociais, pois ninguém consegue fugir daquilo que é.
Restaurantes para todos os gostos (e todos os bolsos) são mais um agradável apelo à quebra da rotina e optamos por um self service pelas várias possibilidades gastronômicas que oferece, mas também por ainda dispor de algumas mesas vazias, apesar de, à primeira vista, parecer lotado.
Antes mesmo de nos acomodarmos, um rápido relance pelo ambiente, nos traz a triste constatação: à exceção de um único jovem afro-descendente, a população negra da cidade não se fazia representar no restaurante. Pergunto a meu marido: “Onde estão os negros, nesse dia que lhes é dedicado?”. “Ali”, responde ele, apontando para duas belas jovens de uniforme, “servindo”!
Em sua sensibilidade, meu companheiro já havia notado, pela manhã, que na praia os únicos negros (in)visíveis eram os ambulantes e alguns meninos a serviço dos barraqueiros. Voltando a pé, pelo calçadão, pudemos notar também alguns “guardadores” de carros e uma jovem mulher que, cercada por várias crianças, trocava um bebê, sem maior proteção, sobre um dos frios bancos de cimento. Todos afro-descendentes.
Essa, infelizmente, a realidade social que (ainda) se nos apresenta em toda parte, muito especialmente em localidades turísticas, não obstante, seja dito a bem da verdade, uma legislação igualitária e políticas públicas voltadas à inclusão social, que jamais serão suficientes se não houver, da parte de toda a sociedade, um real envolvimento com essa questão dolorosa, que apresenta meandros histórico-sociológicos, culturais e econômicos a serem transpostos.
Como lembra minha conselheira, Dª Nena, trazer à efetiva participação, em direitos e deveres, mas acima de tudo, em oportunidades, cada uma das pessoas que compõem a população brasileira, independente de seu sexo (ou opções sexuais), sua raça, origem, idade ou quaisquer outras condições específicas, deve ser um compromisso inalienável de todos os seres humanos que têm o privilégio de habitar esta Terra abençoada.

4 comentários:

Eugênia Pickina disse...

Querida Suzete, seu post nos inspira o bom combate... Sofro pela contínua exclusão do negro, embora o sistema legal e algumas práticas sociais já reclamem o tratamento igualitário para todo ser humano. Negro, branco, amarelo, o que importa? Somos todos da família humana. Mas, como você e seu marido, assistimos diariamente à desigualdade social que separa o negro do acesso a bens e direitos... Felizmente, muitos já veem de maneira distinta e agem em sintonia com a inclusão, a cooperação e a fraternidade. Um dia qualquer o mundo será diferente... Não percamos a esperança. Obrigada. Saudades. Eugênia.

Suzete Carvalho disse...

Olá, Eugênia
Enquanto houver um único ser humano disposto ao "bom combate", haverá esperança de que "um dia qualquer o mundo será diferente".
Algumas etapas da luta já foram vencidas e hoje contamos, no mínimo, com uma legislação antidiscriminatória e, como diz você, "algumas práticas sociais já reclamem o tratamento igualitário para todo ser humano".
Há muito a ser feito, mas chegaremos lá. Enquanto isso, proclamemos nossa indignação contra toda e qualquer iniquidade social.
Por um mundo melhor.
Beijos.

Unknown disse...

ORGULHO ! Vó, como sempre "deitando" no que escreve , haha.
Consciência Negra é uma questão muito complicada, é muito vago. Consciência de que? por que um feriado? e por que negros não usufruem de um feriado que deveria ser de sua 'consciência'? Históricamente, os brancos tem um certo 'repudio' aos negros. E isso é algo que hipócritas dizem ter acabado, Mas se vêem um negro mal vestido em sua rua, atravessam, mas se fosse branco, continuariam tranquilamente. Já disse Einstein 'Só existem duas coisas eternas : O Universo, e a estupidez humana'.
90% dos moradores de favela são negros, à cada 4 horas, um jovem negro é morto violentamente em São Paulo (IBGE) E a culpa é de quem? Existem prefeitos ilustres que não adotaram o feriado e por que?
Aliás, por que não há um feriado da consciência Asiática, ou Índia, ou até mesmo Branca?
É discutível, aceitamos muito fácilmente o que nos impoem. Se pegam uma palmatória, estendemos a mão! aprender a dizer não, questionar. Por um país mais crítico e um poco mais inteligênte.

Vó, amo a senhora. (:

Suzete Carvalho disse...

Olá, querido
Até que enfim você deu o ar de sua graça por aqui.
De fato, essa é uma falsa questão, ou melhor, não deveria ser uma questão, mas o ser humano, com sua estupidez, está sempre a complicar a natureza e então acabamos tendo uma "questão complicada".
Quando você fala em "repúdio", acredito que esteja querendo dizer preconceito. Sim, infelizmente, de uma forma ou de outra, todos somos preconceituosos e tentamos tapar o sol com a peneira criando Dia da Mulher, do Idoso, da Criança, da Consciência Negra.
Não há culpados ou inocentes, há uma inconsciência generalizada e há que questionar, sim, questionar sempre, sem jamais perder a capacidade de indignação contra a hipocrisia social.
Façamos a nossa parte por um país mais crítico, transparente, corajoso e consciente.
Também te amo.
Beijos de avó.