sábado, 14 de novembro de 2009

Dver de Gratidão

Em geral, todos nós conhecemos os nossos direitos, seja de ir-e-vir, votar, expressar nossa indignação, receber salário justo como contraprestação de nosso trabalho, ter acesso à saúde e à justiça, não ser discriminados, ter privacidade, amigos, lazer, enfim, de viver nossa própria vida com liberdade e dignidade.

Também conhecemos, verdade seja dita, muitos de nossos deveres, como o de cumprir a lei, pagar nossos impostos, proteger nossos filhos e, nos últimos tempos, até encampamos nossos deveres para com a Natureza, que se ressente da exploração milenar. Também é verdade, sejamos honestos, que em geral nos esquecemos de alguns deveres éticos para com aqueles com quem convivemos.

O fato é que, embasados em nosso recém adquirido “direito de crítica”, focamos, em geral, os eventuais erros e omissões dos outros, especialmente de pessoas que se doam generosamente a trabalhos voluntários, como é o caso daquelas que tomam a si a responsabilidade de gerir organizações não governamentais, em benefício de alguma das tantas comunidades que compõem a sociedade.

Clubes desportivos, associações de classe, instituições beneficentes e educacionais são alguns desses núcleos em que as pessoas se reúnem (ou deveriam reunir-se) em torno de um ideal comum – o bem de toda a comunidade. Feliz ou infelizmente – reflexos que somos da sociedade como um todo – apenas alguns dos componentes dessas “famílias” se dispõem ao difícil trabalho de organizar e manter a Casa em funcionamento, entregando-se de corpo e alma a equacionar interesses e divergências.

Como em toda democracia que se preza, o olhar crítico dos cidadãos – “vigilantes de plantão” que somos todos – busca acentuar aquilo que não foi feito ou que o foi, a nosso ver, de maneira incompleta. Em suma, nosso mote é um velho e conhecido ditado: “Hay gobierno, soy contra”. Mas nosso trânsito pela cidadania e plena liberdade de expressão é recente e, na ânsia de recuperar o tempo perdido, embaralhamos direitos e deveres, privilegiando a crítica em detrimento da participação e da gratidão.

Passam-nos despercebidos os intrincados meandros políticos que envolvem a realização dos projetos de toda gestão, vale dizer, não vemos a complexa rede de pessoas e de áreas a serem equacionadas, em seus diferentes e tantas vezes divergentes interesses e modos de ser e compreender as questões. Esquecidos de uma dos mais elementares deveres éticos – o Dever de Gratidão -, projetamos naqueles que fazem, tudo aquilo que faríamos “melhor”, ainda que nada façamos.

*Publ. in Revista do Ypiranga nº 148, set/nov/2009, pág. 5.

**Coerente com a proposta da crônica, cumpro o grato dever de agradecer de público a carinhosa homenagem que me foi prestada nessa mesma edição, pela Redação da Revista e Diretoria Administrativa do Clube Atlético Ypiranga.

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