quarta-feira, 9 de junho de 2010

NÓ GÓRDIO V

Em Nó Górdio IV, postado em 25 de agosto de 2009, abordei a questão da rotina como algo que embaraça nossos passos, condenando-nos à repetição e ao monólogo, embora nos aflore com uma enganadora sensação de segurança. Ao final, deixei como proposta de reflexão a seguinte pergunta: “Afinal, estamos condenados a nos repetir ad eternum ou a rotina (de pensamentos, palavras ações e meras atitudes semi-automáticas do cotididano) seria mais um nó górdio a ser desatado?”.

Ao reler, agora, os comentários à série de Artigos “Nó Górdio”, percebo que a jornalista Maristela Ajalla já havia proposto, em 27/05/2009, uma interessante “saída” para a ambiguidade da questão, ao lembrar que: "Se existem possibilidades de desenroscos dos passos do passado, só mesmo com novos enroscos nos passos do presente” (pois) “O enroscar é um ciclo... o coro das Moiras”.

O fato é que, acreditando poder nos desembaraçar da rotina estafante, muitas vezes somos colhidos nas tramas da imensa teia de relacionamentos que a todos envolve – já que o mundo nada mais é do que uma complexa rede de experiências, saberes e relações – e, inadvertidamente, acabamos aprisionados em algum novo “nó” caprichosamente apertado pelas artesãs do destino humano.

Melhor seria contentarmo-nos com as tediosas pequenas agruras do cotidiano rotineiro? Seria nosso desejo de transcendência uma afronta às determinações das deusas que, enfurecidas, criariam um sobre-acúmulo de nós górdios ao acionar a roda da Fortuna, de forma a emaranhar ainda mais os fios que traçam nossos destinos? Seríamos nós, afinal, meros joguetes em mãos de prepotentes demiurgos ou as mazelas em que nos envolvemos – seja na passividade da rotina, seja na tentativa de afrontar o destino – devem ser debitadas a nós própri@s, nossos pensamentos, palavras, ações e omissões?.

Desculpem-me @s leitor@s o afastamento involuntário das postagens neste blog – menina de meus olhos de tudo que escrevinho -, mas, como espero ter deixado claro, fui levada (durante os últimos tempos) de roldão por mares revoltos, nunca dantes navegados. Questões de toda ordem se apresentaram, impondo cuidados e afazeres, mas, perdoem-me as Senhoras do Destino, não me renderei enquanto as forças vitais não abandonarem meu corpo (mesmo que cansado e dolorido) e minh’alma prenhe ainda de inspiração.

6 comentários:

Eugênia Pickina disse...

Querida Suzete, o texto afeta diretamente àquel@s que vivem as lutas diárias e seus comandos (inconscientes?), a imago da Roda da Fortuna e seu (invencível?) ciclo - arte do destino? Muito grata pelo post provocativo e que me fez sondar a minha vida e seu debruçar sobre os dias... Mas, como você, busco sempre ater-me ao devir e à esperança do (precioso) inesperado... Bjs. Escreva mais e sempre! Embora entendidas as razões. Bjs.

Suzete Carvalho disse...

Eugênia querida
O texto tem, sim, a ver com nossas lutas diárias, mas, minha intenção foi alertar (principalmente a mim mesma) para o fato de que tantas vezes acreditamos que a rotina pode nos consumir e planejamos novos vôos, mas acabamos caindo nas malhas do destino. Por exemplo, se você tem intenção de "cair fora" de uma relação (seja de amor, amizade ou trabalho), e marca data para isso, acaba encontrando motivos que a obrigariam a fazê-lo, às vezes com mais sofrimento do que o previsto.
O que quero dizer é que a experiência me tem ensinado (e não há meios de eu aprender - ou apreender - a lição) que, ainda que a vivência pela qual estamos passando não nos seja grata, é melhor deixar que as coisas fluam sem grandes arroubos do tipo: "a partir de tal data isto vai acabar, de uma maneira ou de outra". Motivos, ás vezes, muito mais dolorosos do que aqueles que estávamos vivenciando.
Parece-me que neste caso, a vida se encarrega de nos oferecer "n" motivos que não estavam em nossos planos, para dar consecução ao desiderato.
Não que devamos ser passiv@s, lá isso não, mas, tranquilidade, confiança e gratidão pela oportunidade de servir, podem servir de alavancagem para um devir mais gratificante.
Comandos conscientes, como sugere seu comentário, são imprescindíveis para que possamos transcender o "invencível?" ciclo do destino.
Continuarei, sim, a escrevinhar, esperando que Mnemosina e suas filhas, as Musas, me acompanhem até o fim da jornada e que eu possa transcender com integridade física e emocional as dificuldades momentâneas que se interpuseram nesse trajeto.
Bjos. Namastê.

Maira Macri disse...

Floor, td bem? Voltei pro blog, rs... Eu tinha me afastado por causa da internet. Agora ele está de cara nova. Precisamos tomar um café! Vamos marcar? Bjs e saudade. Ma.

Suzete Carvalho disse...

Olá, Maira
Você está de blog novo, não é? Só tenho o endereço do anterior e preciso mudar o link. Que bom que vc voltou, mas deixe o endereço aqui para @s leitor@s, está bem?
Na primeira chance, marcaremos um café. Beijos e seja sempre bem-vinda.

Anônimo disse...

Suzete
Tudo bem?
O coro das Moiras sempre retorna em cena. Parece uma prisão. Podemos mudas de ares, trabalhos e amores...até mesmo de visual. Mas não fugimos dos nossos passos e sempre nos enroscamos. Quem sabe este seja o sentido da vida: permitir os enroscos.
Bjos, saudades, namastê
Maristela Ajalla

Suzete Carvalho disse...

Olá, Maristela
Como sempre, muito interessante seu comentário. Mudamos exteriormente, mas não conseguimos mudar aquilo que já somos. Na fuga (de nós mesmos) nos enroscamos em nossos próprios passos. Quem sabe, no estágio de consciência que o ser humano (ainda) atravessa, seja esse mesmo o sentido da vida: "um cíclico - ou cármico - enroscar-se, ou envolver-se".
Como transcender esse estágio que tanto nos limita? Qual o verdadeiro sentido do des-envolvimento, des-apego ou des-ilusão de que nos falam as escrituras hinduístas? Escapar de Maya (a grande ilusão do viver), talvez seja esse o salto quântico que nos permitiria encontrar o caminho para a libertação (do sofrimento, segundo o budismo) ou da ignorância da realidade(de qual seja o verdadeiro sentido da vida), de acordo com a Filosofia Yoga.
Volte sempre, jornalista milagreira, seus desafios fazem a diferença.
Saudade. Namastê.