domingo, 17 de abril de 2011

O MILAGRE DA VIDA

Às vezes, durante a vida, acontecimentos para os quais não estávamos preparados - se bem que poderiam ter sido previstos, se estivéssemos atentos -, nos abalam profundamente, a ponto de nos fazer sair do eixo, tal qual se deu com a Terra recentemente. Nesses momentos, pelos quais todos nós passamos, queiramos ou não, somos avassalados por tsunamis de emoção, que fazem transbordar nossas carências, nosso medo e insegurança a ponto de inundar os caminhos que antes percorríamos com displicente tranquilidade, sem nos dar conta de nossa vulnerabilidade.

É bem verdade que - por via das dúvidas, embora subestimando o poder dos mares revoltos – fomos construindo vida afora pequenos diques por toda a orla de nossas emoções, ingênuos mecanismos de defesa que acreditávamos ter o condão de nos proteger de todos os males. Diques que se rompem diante da pressão externa da mesma forma que, tomadas de surpresa, as fundações dos “sólidos edifícios” que construímos para nos abrigar das tormentas se desfazem qual castelos de areia, deixando desabrigados e perdidos nossos egos inflados em sua pretensiosa arrogância.

Egos que nos fazem esquecer que somos um entre bilhões de seres humanos, assim como a Terra é nada mais que um entre bilhões de planetas a girar em torno de bilhões de sóis, dispersos em bilhões de galáxias. Egos que, encarcerados nos individualismo, não se apercebem de nossa insignificância, da interdependência entre todos os seres e saberes e da necessidade de unirmos nosso conhecimento e nossas energias em prol do interesse comum.

O fato é que somos ignorantes até mesmo de nossos próprios processos mentais – e, principalmente, emocionais - , o que nos torna joguetes de forças que desconhecemos, sejam elas gravitacionais, atômicas ou mesmo econômico-financeiras, e que pretensiosamente acreditamos poder manipular, colocando inadvertidamente em risco, com nossa soberba, a vida do planeta e de seus habitantes.

Sentindo-me acuada por meus próprios pensamentos, peço socorro a minha conselheira Dª Nena que, prontamente, me tranquiliza: “Sua metáfora é interessante, mas talvez você devesse enfatizar mais a potencialidade para a superação, inata tanto nos seres humanos, quanto na Mãe-Terra. Potencialidade que se revela na pequena flor que desabrocha nos lugares mais inóspitos e devastados, ou no heroísmo cotidiano daqueles que revertem seu próprio sofrimento em solidariedade e amor. Esse o milagre da vida que, haja o que houver, renasce, se recria, continua...”


Publ. in Gazeta do Ipiranga, em 15/04/2011, pág. B-8.