segunda-feira, 12 de setembro de 2011

FACEBOOK

Quem se dedica a escrever sobre temas abrangentes da experiência humana precisa estar ‘antenado’ com as novas formas de relacionamento que a tecnologia oferece. Com esse propósito me lancei na interessante experiência do compartilhamento de amizades/ideias/ideais/sonhos/ realidades, enfim, de notícias (umas boas, outras nem tanto) e saberes (teóricos ou pragmáticos) que o Facebook nos proporciona.
Relacionamentos antigos ressurgem (do ‘Nada’), Fenix a nos relembrar marcas ambivalentes que as cinzas (do Tempo) insistem em remodelar. Relacionamentos atuais se consolidam na troca de ‘curtições’ e solidariedade, carinho e amizade, a alimentar nossas almas, mas também... nossos egos.
Enfim, o “face” tem a característica – como o próprio nome indica – de nos apresentar nossas (más)caras, nosso lado ‘Cara’ e nosso lado ‘Coroa’, moeda ambígua de troca que é nesse universo de personalidades de todas as ‘cores’ (lato senso).
Não obstante, esse contato nos enriquece na medida em que nos revela interesses/desejos/dores/alegrias comuns, expressos ou subentendidos, reforçando o sentimento de ‘pertença’ – esse estar-aqui - que nos ancora na comunidade, na sociedade, no mundo. ‘Somos’ se (e quando) @s outr@s existem.
Enfim, relacionar-se, ainda que virtualmente, é exercitar nossa musculatura psíquica e intelectual na busca de compreensão do sentido do viver. Oferecer nosso ‘melhor’ ao outro, seja ele quem for, é fazer jus à dádiva que a Providência nos oferece de estar conectados nesse incomensurável e multidimensional universo em que fomos tod@s lançad@s.
Namastê.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

De cabeças e Cabeçadas

Às vezes, uma simples palavra, frase ou situação, nos faz viajar no tempo e reviver acontecimentos que acreditávamos definitivamente sepultados. Uma das características de quem se dedica a escrever é aproveitar esses momentos para “fotografar” as experiências vividas e apresentá-las aos leitores e leitoras como “recordações de viagem”.
Essa forma de compartilhar vivências nos permite a todos, quero crer, repensar o cotidiano acrescentando-lhe novos pontos de vista. São viagens da alma, a exorcizar más lembranças e redimensionar alegrias, dando-lhes uma conotação mais realista. Essa a principal função da literatura.
Mas, como uma simples crônica não é o local nem a hora para viagens filosóficas mais profundas, como me alerta a bom tempo minha conselheira Dª Nena, vamos direto à frase que me inspirou estas ponderações: “A cabeça do velho está focada na doença”.
No contexto em que me foi dita, a expressão faz sentido, mas, nem sempre (graças a Deus) corresponde à realidade. Atualmente, boa parte das pessoas idosas, ainda que profissionalmente aposentadas, já não se limita aos próprios aposentos, como era o caso de minha avó sexagenária, sempre descansando em sua cadeira de balanço.
Ao contrário, libertos da subserviência que o ganha-pão e os compromissos familiares exigiam, a presença de idosos agora se faz sentir nos mais diversos campos de atuação, acrescentando qualidade à sua própria e às vidas de quem com elas convivem.
Assim, é com prazer que hoje vejo minha mãe nonagenária trocando e.mails com amigas de várias idades (ainda que às vezes tenha que nos pedir ajuda) ou se programando para assistir a uma palestra, cantar no Coral de uma instituição próxima à sua casa ou participar das várias reuniões e festinhas para as quais é convidada.
O fato é que não podemos mais conviver exclusivamente em ‘guetos’ (grupos de idosos, de homens, de jovens, etc), o que nos levaria a ‘focar a cabeça’ apenas em nossas próprias dores/interesses/desejos (dar as mesmas cabeçadas), perdendo a oportunidade de ‘abrir nossas cabeças’ a outras experiências e a novas visões de mundo.

Publ. in Coluna da Suzete,Gazeta do Ipiranga, 09/09/2011, pág. D-4.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Brincadeiras à parte

Comemorar é lembrar junto (de “com” e “memorar”), uma forma de festejar acontecimentos marcantes na vida social a que o ser humano se dedica desde as mais “priscas eras”, como diria meu avô. Aliás, sei que utilizar essa antiga expressão “já era”, “é do pântano” como diriam meus netos, mas a uso intencionalmente e aproveito para lembrar aos mais jovens que ‘prisco’ significa ‘antigo’, prístino, vetusto (e aqui, caberia mais uma frase da nova geração: “Agora você tá zoando!”).
A essa altura de minhas considerações, minha conselheira Dª Nena me alerta (ou, se preferirem, resolve me ‘zoar’): “Que tal sair logo dos ‘considerando’ e partir para os ‘finalmente’, antes que acabe o espaço reservado à crônica?”. P’ra provocar, pergunto se ela sabe que ‘considerar’ vem de sidus (astro, de onde ‘sideral’), com o sentido de contemplar os astros, especular sobre o futuro, e ouço um lacônico “Desisto”.
Tento ainda dizer que ‘desistir’ de contemplar os astros ou de especular sobre o futuro (desiderare, que se contrapõe a considerare) é o sentido de desejar, desligar-se da ideia de destino, mas, com medo de perder os sábios conselhos, desisto (desculpem, não resisti ao trocadilho). A propósito, des-culpar, é desistir de culpar...
Brincadeiras etimológicas à parte, o que eu pretendia, de fato, assuntar nesta crônica, era o profundo significado de se comemorar um evento centenário, dadas as modificações histórico-sociais, tecnológicas e até linguísticas que a que somos submetidos pelo tempo, ou melhor, que submetemos ao tempo, já que nós o atravessamos em desenfreada busca de realização (de realizar nossos desejos, custe o que custar, já que não se pode confiar nos astros).
O fato é que, não obstante todos os sofrimentos, perdas e dificuldades relacionais e econômicas, guerras internas e externas que abalaram a comunidade ypiranguista nestes mais de cem anos de existência, sobrelevam a união, a garra e o desejo inabalável de engrandecimento de seus incontáveis sócios mantenedores e/ou desportistas, anônimos ou não.
E é na compaixão revelada nos difíceis momentos de perda ou na incontida alegria das comemorações que se percebe o sentimento de amor que nos une em torno do mesmo ideal e que ficou evidenciado na frase emocionada de um de nossos dirigentes: “É nessas horas que fica patente que somos mesmo uma família”, ao que outro aduziu: “nos momentos de desentendimento, também”.
Por via das dúvidas, acho que vou patentear minhas crônicas...

• Pós-graduada pela USP e co-autora de livros jurídicos, Suzete Carvalho escreve sobre vários temas relacionados à experiência humana, disponíveis no blog www.novaeleusis.blogspot.com

Publ.in Revista do Ypiranga, agosto/setembro/2011, pág.9