quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Brincadeiras à parte

Comemorar é lembrar junto (de “com” e “memorar”), uma forma de festejar acontecimentos marcantes na vida social a que o ser humano se dedica desde as mais “priscas eras”, como diria meu avô. Aliás, sei que utilizar essa antiga expressão “já era”, “é do pântano” como diriam meus netos, mas a uso intencionalmente e aproveito para lembrar aos mais jovens que ‘prisco’ significa ‘antigo’, prístino, vetusto (e aqui, caberia mais uma frase da nova geração: “Agora você tá zoando!”).
A essa altura de minhas considerações, minha conselheira Dª Nena me alerta (ou, se preferirem, resolve me ‘zoar’): “Que tal sair logo dos ‘considerando’ e partir para os ‘finalmente’, antes que acabe o espaço reservado à crônica?”. P’ra provocar, pergunto se ela sabe que ‘considerar’ vem de sidus (astro, de onde ‘sideral’), com o sentido de contemplar os astros, especular sobre o futuro, e ouço um lacônico “Desisto”.
Tento ainda dizer que ‘desistir’ de contemplar os astros ou de especular sobre o futuro (desiderare, que se contrapõe a considerare) é o sentido de desejar, desligar-se da ideia de destino, mas, com medo de perder os sábios conselhos, desisto (desculpem, não resisti ao trocadilho). A propósito, des-culpar, é desistir de culpar...
Brincadeiras etimológicas à parte, o que eu pretendia, de fato, assuntar nesta crônica, era o profundo significado de se comemorar um evento centenário, dadas as modificações histórico-sociais, tecnológicas e até linguísticas que a que somos submetidos pelo tempo, ou melhor, que submetemos ao tempo, já que nós o atravessamos em desenfreada busca de realização (de realizar nossos desejos, custe o que custar, já que não se pode confiar nos astros).
O fato é que, não obstante todos os sofrimentos, perdas e dificuldades relacionais e econômicas, guerras internas e externas que abalaram a comunidade ypiranguista nestes mais de cem anos de existência, sobrelevam a união, a garra e o desejo inabalável de engrandecimento de seus incontáveis sócios mantenedores e/ou desportistas, anônimos ou não.
E é na compaixão revelada nos difíceis momentos de perda ou na incontida alegria das comemorações que se percebe o sentimento de amor que nos une em torno do mesmo ideal e que ficou evidenciado na frase emocionada de um de nossos dirigentes: “É nessas horas que fica patente que somos mesmo uma família”, ao que outro aduziu: “nos momentos de desentendimento, também”.
Por via das dúvidas, acho que vou patentear minhas crônicas...

• Pós-graduada pela USP e co-autora de livros jurídicos, Suzete Carvalho escreve sobre vários temas relacionados à experiência humana, disponíveis no blog www.novaeleusis.blogspot.com

Publ.in Revista do Ypiranga, agosto/setembro/2011, pág.9

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