terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Quero fazer




Quero fazer

a minha parte

até o último

momento

com lucidez

com arte

e ao menos desta vez

com mais atrevimento.

Quero fazer

o meu momento

com amor e paz

agradecendo a todos

filha amigos e netos

companheiro

e desafetos

e doando à reciclagem

toda a amostragem

que ficou lá atrás.

Quero fazer

do amor

um baluarte

a minha luz

a minha vida

superando

toda a dor

que nela possa

estar contida.

Quero fazer

o que não fiz

por medo ignorância

ou condicionamento

pois é chegada a hora

de apenas ser feliz

os bons frutos (re)colher

preparar a travessia

sem grande correria

polinização

ultimando

para se acaso houver

uma outra...

encarnação.

Enfim eu quero fazer

um botão de lótus

uma aurora

da vida

que me resta

quero fazer do agora

uma grande Festa...

de despedida.



sc/18/12/2012

sábado, 15 de dezembro de 2012

Haiku do Ano




“A História sem

Memória é cultura

Manipulada.”



sc/15/12/2012

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

“A líder (hoje talvez a chamassem bispa) era muito severa. Durante as orações não era permitido atender a chamados/portas/campainhas/telefones. “O Senhor vem em primeiro lugar”, explicara às amigas fiéis, que se reuniam semanalmente em sua casa. Naquela tarde, o telefone soou insistentemente no outro cômodo, mas a senhora lançou um olhar de advertência à plateia (sim, ela necessitava plateias) e deu início ao Cântico de Aleluia, com voz estridente, para abafar o ‘ruído’. Ao término da reunião, deram Graças à misericórdia divina e passaram à sala contígua, para um chazinho com fofocas, digo, com biscoitos. A viúva (sim, a líder era viúva) ligou o aparelho de som, colocou uma música de louvação e, discretamente, acessou a secretária eletrônica do telefone, de onde a voz cada vez mais fraca de sua única filha se fez ouvir: “Mãããe, socorro, acho que estou tendo um in.. far.. tooo”... Hoje, toda vez que houve o som da campainha ou do telefone da Casa de Saúde onde vive há duas décadas, sem que jamais alguém a tenha visitado, a velha senhora põe-se a gritar: “É ela, é ela!”.”




sc/07/12/2012. Da série “microcontos macrorrealistas”.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

PALAVRAS AO VENTO




Palavras ao vento

se perdem

em meandros de

egos cegos

labirintos

de incompreensão



Mais apropriado

suponho então

seguir instintos

forçá-las a soprar

noutra direção

quiçá dar de ombros



Buscar outra fonte

em desvio de jornada

escrevinhar ao léu

ao sabor da maré

navegar mar a dentro

esconder-se nas brumas

sumir no horizonte.


Escrito em janeiro/2012 e publ. hoje na Página NOVA ELEUSIS que mantenho no Facebook.

Haiku do mês




“Conecte-se ou

os deuses não ouvirão

sua oração.”



sc/03/12/2012

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Crônica




Ser Mulher*



Suzete Carvalho**



“Ninguém nasce mulher; torna-se mulher” dizia a escritora Simone Du Beauvoir há mais de seis décadas, indicando dessa forma que a condição feminina é resultado de um sistemático condicionamento histórico-cultural, fundado num jeito patriarcal de ser e estar no mundo. Autora do Livro “O Segundo Sexo”, Simone inspirou as novas gerações a repensar as questões de gênero, sendo uma das principais responsáveis pela relativa evolução da mulher no espaço público, há milênios sob o domínio exclusivo dos homens.

Assim, por exemplo, a inserção da mulher no mercado de trabalho em igualdade de condições com o homem tem sido um processo muito difícil em virtude dessa tradição androcêntrica (ou, se preferirem, machista) que ainda marca nossa sociedade, privilegiando a presença masculina na maioria dos postos de comando e atribuindo aos homens os melhores salários, enquanto reluta em admitir que “a rainha do lar” é uma expressão forjada para mantê-la confinada ao espaço privado.

E por falar em espaço público e privado, uma das questões que releva considerar neste espaço, já que este é um Jornal dedicado à Mulher, é que somos, no mínimo, a metade da população e, também, que nos foi atribuído, desde sempre, o papel de “cuidadoras” por excelência. Por esse motivo, somos ainda, majoritariamente, professoras, secretárias, enfermeiras, telefonistas, empregadas domésticas e, claro, donas-de-casa, sendo que os demais espaços de realização profissional estão sendo conquistados árdua e paulatinamente.

Assim é que nos é conferida grande parte da responsabilidade para com a educação de “nossas” crianças e o cuidado com os familiares idosos. Por outro lado, cobram-nos uma beleza física e moral que, digamos a bem da verdade, não é (tão) exigida de nossos companheiros, o que faz com que dediquemos boa parte de nosso tempo com compromissos e preocupações que, muitas vezes, acabam por nos afastar da verdadeira realização, seres humanos integrais que somos.

Realização à qual, justiça seja feita, a legislação brasileira nos tem aberto as portas, já que, a Constituição garante a igualdade de homens e mulheres, sem distinções de qualquer espécie. O que nos amarra, ainda, à condição de “segundo sexo”, para usar a expressão de Simone de Beauvoir, é esse legado cultural patriarcal, arraigado socialmente, que nos tem condicionado a ser meras coadjuvantes – haja vista, entre outras situações, a ainda ínfima participação das mulheres nas eleições - num mundo tão rico em oportunidades.

Cabe também à mídia abrir portas a um tempo mais igualitário e, nesse contexto, este Jornal tem dado sua contribuição ao apresentar mulheres de sucesso nas mais diversas várias áreas, numa demonstração de que não nos faltam coragem e competência para, ombro a ombro com os homens – ou, se preferirem, ao lado de nossos companheiros - transformar a realidade, qualificando a convivência entre todos com vistas a um futuro mais digno e mais feliz.



*Publ. in Jornal Mulher, Nov/2012, pág.02.

**A autora escreve sobre temas abrangentes da experiência humana. Alguns de seus escritos podem ser acessados no blog www.novaeleusis.blogspot.com



quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Átomos




“Cada átomo

um sistema solar

no pluriverso

humano

cada Universo

um átomo

no multiverso

cósmico.”



sc/22/11/2012



terça-feira, 20 de novembro de 2012

Haiku do dia




“Indiferença

É a grande questão da

desigualdade.”



sc/20/11/2012



segunda-feira, 19 de novembro de 2012

“Oh, ego


visionário

sempre a

rodopiar

em torno

de seu eixo

imaginário.”

sc/19/11/2012





segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Entorno




“O mais ligeiro

olhar poético

ao entorno

revela veredas

inimagináveis

belezas

e surpresas

adoráveis.”



sc/12/11/2012





domingo, 11 de novembro de 2012

Domingo, 11 de Julho de 2004, 12:53




De onde vem essa dor?



Da Reportagem







JOSÉ LUIZ ARAÚJO



Não é preciso virar o foco das lentes para as barbaridades no Oriente Médio, para termos um claro exemplo da intolerância. Ela acontece em todos os lugares, em diferentes culturas, em mínimos gestos, mostrando que o ser humano ainda tem muito o que aprender sobre si mesmo.

Para Suzete Carvalho, especializada em Filosofia do Direito (e mestre em Direito do Trabalho pela USP), a intolerância pode ser considerada uma das piores dores da alma, porque revela a insegurança do ser diante da diversidade, daquilo que não conhece ou não compreende.

‘‘O medo do diferente nos faz adotar mecanismos de defesa, como a retaliação e, eventualmente, a retalhação, contribuindo para perpetuar a ausência de paz no mundo’’, afirma a especialista.

Suzete Carvalho explica que retaliação é revide, com ofensa igual ou superior ao dano recebido; é vingança, desforra, represália. Difere de retalhação ou retalhadura, que significa ‘despedaçar’ e também ‘difamar’.

‘‘Como a difamação, muitas vezes, pode ser usada como forma de retaliação, eventualmente há alguma confusão entre os termos’’, afirma ela.

Formação preocupante

Para a especialista em Filosofia do Direito, a educação (formal e não formal, em casa, na escola, na rua...) tem fundamental importância para que o ser humano se torne mais tolerante, uma vez que, analisa, somos educados para sermos competitivos, invejosos e preconceituosos, portanto, para sermos justamente intolerantes.

‘‘Somos incentivados desde cedo a vencer todas as competições e a não levar desaforo para casa. Nossos pais, professores, a Igreja e a sociedade como um todo nos dão exemplos diários de intolerância, embora afirmem o contrário’’, acredita.

Pode parecer que, no dia-a-dia, a mulher seja mais tolerante do que o homem, mas não há essa distinção. Suzete Carvalho explica que ambos são tolerantes em algumas situações e intolerantes em outras. A diferença de gênero restringe-se à questão biológica. No mais, homens e mulheres têm os mesmos defeitos e qualidades, deficiências e potencialidades.

Apesar de toda a carga de influências que recebemos diariamente em todos os nossos momentos (familiar, social e profissional), Suzete Carvalho entende que é possível aprender a ser mais tolerante, uma vez que bondade e tolerância absolutas não existem, são puras abstrações. Para ela, luz e sombra convivem no ser humano.

‘‘Tolerância é a aceitação de nossos limites recíprocos, é respeito por nós mesmos e pelo outro. Não significa tolerar a injustiça social, nem renunciar às próprias convicções’’, analisa.

Aceitar diferenças

Assim, de acordo com a especialista em Filosofia do Direito, tolerância não é condescendência, mas significa respeitar e aceitar a diversidade de nossos modos de expressão, de nosso jeito de ser.

‘‘Aliás, os seres humanos não têm que ser tolerados, mas reconhecidos em seu valor próprio de pessoas merecedoras de respeito e dignidade, pelo simples fato de serem humanos, independente da tradição cultural a que pertençam, de sua origem étnica e racial, da sua cor ou idade e de suas opções, sejam religiosas, sejam sexuais.’’

Para Suzete Carvalho, situações de violência e injustiça não podem ser admitidas, mas falar em ‘tolerância zero’ é abrir espaço à intolerância e à truculência institucionalizadas, daí o fato de a questão ser muito complexa e envolver vários outros questionamentos.

Ela lembra que, de acordo com a Carta das Nações Unidas, praticar a tolerância é viver em paz uns com os outros. ‘‘A meu ver, a melhor forma de aprendermos a tolerância é praticá-la nas pequenas coisas do dia-a-dia, com aqueles que nos são próximos. A concretização da paz requer uma tomada de consciência individual, bem como processos educativos que ensinem a pensar e a dialogar’’, avalia.

Já ao Estado, acredita ela, compete elaborar e aplicar leis justas e imparciais e implementar políticas educacionais, comprometendo-se com sua eficácia. No âmbito individual, informação, autocrítica, ética, capacidade de indignação (contra a injustiça) e compaixão são alguns dos caminhos que levam à construção de uma cultura de paz.



Leia também:

» Insensibilidade e Indiferença

» Tédio e solidão

» Desejos e compulsões

» Depressão na Velhice









--------------------------------------------------------------------------------





sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Novembro




Cumprido nosso dever cívico de eleger aqueles que comandarão as cidades brasileiras nos próximos anos, o mês de novembro nos abre as portas com o Dia de Todos os Santos a ressacralizar nosso cotidiano, seguido do Dia dos Mortos, a nos colocar pés no chão. O mês, que chega carregado de feriados e se oferece com uma temperatura mais equilibrada (que ninguém é de ferro!),também é dedicado à Consciência Negra, o que nos alerta para o falta de sentido dos preconceitos que carregamos como um peso morto a macular nossos relacionamentos.

Importante mesmo, me parece, é que nos conscientizemos de que essas homenagens são apenas lembretes daquilo que deveríamos celebrar e agradecer todos os dias: o exemplo de tantas pessoas abençoadas, a herança (gen)ética que recebemos como uma dádiva a fazer de nós o que somos e a maravilhosa miscigenação brasileira, que tanto nos enriquece.

O fato é que, se prestarmos atenção, inúmeros são os motivos que a vida nos dá cotidianamente para agradecer e confraternizar com nossos irmãos e irmãs, mas, infelizmente, a maioria de nós não conseguiu se libertar dos condicionamentos culturais a que fomos submetidos, nem à manipulação dos interesses de Poder, seja Político, seja de Mercado.

Assim, a própria mídia, por vezes, se deixa contaminar pela ideia de que tudo é uma “festa”, haja vista a declaração de uma repórter, que ouvi pelo rádio, na quinta-feira anterior ao feriado de finados: “E agora me despeço, esperando que todos aproveitem bem esses dias de festas”. À guisa de curiosidade cultural e linguística, lembro que esse dia é celebrado em muitos países e em Portugal é chamado o “Dia dos Fiéis Defuntos”

A propósito, novembro é fértil também em “feriados prolongados”, boa oportunidade, a meu ver, de repensarmos nossa postura diante do consumismo desenfreado a que nos instigam as propagandas e aproveitarmos com a família as excelentes programações culturais que esta incrível cidade que é São Paulo, nos oferece às mancheias.

Às pessoas que preferem ater-se ao bairro, lembro que nossa Região é pródiga em clubes, museus, parques, cinemas e outras tantas opções, incluindo - pra quem não consegue deixar de lado essa necessidade que nos plantaram de comprar/consumir/presentear -, bazares com refinados trabalhos artesanais que revertem seus lucros para projetos sociais e que refogem ao desgastante e perigoso marketing de poderosas empresas: “Não deixe para a última hora. Compre agora e pague a primeira prestação somente no próximo ano”.

*Publ.hoje (9/11) na Coluna da Suzete do Jornal “Gazeta do Ipiranga”, Cad.C-1.









terça-feira, 6 de novembro de 2012

Solitude




“Minh’alma faminta

anseia por solitude

prenhe em que pese

o aparente paradoxo

de solicitude.”



sc/06/11/2012.

domingo, 4 de novembro de 2012

“De repente


você percebe

que tudo passou

como um sonho

que se esvai por

entre as rendas

dos lençóis.”



sc/02/11/2011

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

sábado, 27 de outubro de 2012

Homenagem da Escola de Governo à fundadora Maria Victoria Benevides


Escola de Governo





Estamos saudando hoje Maria Victoria Benevides, através da republicação deste texto da Professora Suzete Carvalho, originalmente escrito para a Revista Thot da Associação Palas Athena, nº 66 de agosto de 1997. Trata-se de um documento relator do 1º Congresso de Educação em Direitos Humanos e Cidadania, impressionante em sua atualidade. A Escola de Governo já contava naquele momento, seis anos de existência, e agora, completando a maioridade, quanto trabalho ainda por ser feito...

Equipe da Escola de Governo

PAINEL



Educação em direitos humanos e cidadania

A Constituição de 1988 declarou formalmente que o Brasil é um Estado de Direito, assegurando o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a igualdade e a justiça como valores supremos, dentre outros, de uma sociedade sem preconceitos, fundada em princípios como a cidadania e a dignidade humana. Teve ainda o mérito de ser a primeira Carta a incluir entre os direitos e garantias fundamentais os sociais, que nas Constituições anteriores estavam subordinados ao título referente à ordem econômica e social.

Vê-se que, do ponto de vista formal, nossa lei maior revela uma visão avançada no que se refere à questão dos direitos humanos. Antecipou-se até mesmo à Conferência Mundial de Viena, de 1993, que consolidou sua indivisibilidade e universalidade, consagradas pela Declaração Universal de 1948, pioneira na inclusão dos direitos sociais ao lado das liberdades individuais. Assim como esta surgiu como reação à barbárie da II Guerra Mundial, a Constituição Brasileira de 1988 nasceu da necessidade de aplacar os clamores da nação, após duas décadas de anti-democracia, caracterizada pela censura, legislação de exceção, tortura, ausência de cidadania e de liberdade de expressão, para dizer o mínimo de uma ditadura que se impôs pela força militar.

Todavia, como toda reação emocional, a nova legislação - embora avançada - não se baseou numa ética interna, dando assim margem a conchavos políticos, que por sua linguagem vaga e ambígua criaram obstáculos à aplicação de muitos dos direitos conquistados. A cidadania ressurgiu mutilada e o processo educativo permaneceu desmotivador, fragmentado, apenas informativo.

Por essas e outras razões, diz-se que nossos direitos humanos são mais de discurso do que de recursos. Como conseqüência, vemos o ressurgimento do individualismo exacerbado, que se traduz na carência de solidariedade, opondo um consumismo desenfreado ao recrudescimento da miséria; a banalização da violência em todos os níveis; a falta de crítica característica da ausência de formação ética, contrastando com o crescente inconformismo dos excluídos de sempre; as constantes denúncias de violação de direitos humanos por policiais mal preparados e mal pagos; e a manipulação da realidade por uma rnídia que se coloca (salvo exceções) a serviço da manutenção do status quo.

Mas, nesse labirinto de contradições, o persistente trabalho ético de homens e mulheres conscientes e corajosos mantém acesa a luz da esperança, possibilitando encontros como o I Congresso de Educação em Direitos Humanos e Cidadania, realizado nos dias 5 a 7 de maio último, na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, pela Rede Brasileira de Educação em Direitos Humanos, sob a coordenação geral de sua presidente, a educadora Margarida Bulhões Pedreira Genevois.

A Rede é uma organização não-governamental, suprapartidária e sem finalidades lucrativas, que surgiu em 1995, tendo como princípios a educação em direitos humanos e o compromisso permanente com a cidadania para todos, com um papel de "irradiação", no dizer do Secretário de Direitos Humanos, José Gregori. Este, ao falar na sessão de instalação do congresso - da qual participaram também o cardeal Dom Paulo Evaristo Arns e o Secretário da Justiça de São Paulo, Belizário dos Santos Jr. -, declarou que o objetivo do encontro era "contagiar cada vez mais pessoas para a conscientização dos direitos humanos".

Para a vice-presidente da Rede, a cientista política Maria Victória Benevides, educar em direitos humanos é formar mentalidades; trata-se de um processo dinâmico e constante, que inclui a educação para a paz, a solidariedade (nossa carência principal), a tolerância (virtude essencialmente ativa) e a ética, como bases de uma nova cultura de respeito à dignidade humana.

POR UMA CULTURA DE DIREITOS DA PESSOA - O congresso contou com a participação de educadores de várias áreas, que enunciaram suas preocupações, fruto de intensa vivência no plano nacional e internacional, fascinando a platéia pela inteligência e cultura postas a serviço dos direitos humanos. Na impossibilidade de citar todos, registramos algumas das personalidades de renome, como Leticia Olguín, da Universidade da Costa Rica;Luiz Perez Aguirre, do Serviço de Paz e Justiça do Uruguai; Antonio Manuel dos Santos, da UNESP; Alfredo Bosi, da USP;Aldaíza Sposati, da PUC/SP; Vera Candau, da PUC/I\J. A coordenação dos painéis foi feita por representantes da Rede, como Terezinha Fram e Júlio Lerner, que dispensam apresentação. Houve ainda depoimentos corajosos e encorajadores, de representantes de movimentos, núcleos e projetos de vários estados brasileiros, que enriqueceram o congresso, relatando suas experiências.

Mereceu destaque o importante trabalho desenvolvido em países da América Latina, como Costa Rica, Peru, Chile, México, Uruguai e Brasil, que lutam pela construção de uma cultura de direitos humanos que derrube as arcaicas estruturas .que, a partir do inconsciente individual e coletivo, ainda impregnam o nosso dia-a-dia, pois somos herdeiros de tradições fatalistas, como a ibérica, e discrirninatórias, como a greco-romana.

A idéia de globalização - um dos grandes desafios para a educação em direitos humanos – foi detectada como uma das maiores farsas do nosso tempo, já que o mundo globalizado existe há séculos, sob a forma de mercantilismo, imperialismo e colonialismo, bem como a todo-poderosa Economia de Mercado, à qual se submetem governantes e governados, que torna os ricos cada vez mais ricos e transforma os pobres em miseráveis; eis a antiga deusa, cujo culto renasce das cinzas, como a Fênix, a subverter os valores das sociedades em crise ética.'

Trocadilhos como a transformação do Welfare State - o Estado de Bem-estar Social, que se tornou alvo do neoliberalismo - em Fare Well State - adeus ao bem-estar social, ou "estado de mal-estar social", na inteligente tradução de uma estudante -, imprimiram sutileza crítica ao encontro. Como afirmou Dalmo Dallari, descontraindo o auditório: "Sou otimista, mas não sou cego".

A defesa de uma universidade pública e gratuita, compromissada com a sociedade, que tenha como característica básica a formação transdisciplinar e realista, fundamentada num universo ético, foi consensualmente apresentada como uma utopia possível, sem a qual não há como remover a aura de abstração dos direitos humanos, concretizando-os no cotidiano.

A BUSCA DO ETHOS PERDIDO - Para o atual reitor da USP, Flávio Fava de Morais, a universidade é o "ancoradouro dos que ousam pensar". Nela, o estudante deve viver a "aventura da inteligência", partindo do "exercício da meditação reflexiva" e praticando (não proclamando, pois hoje não há mais lugar para pedantismo e arrogância) "os conceitos da cidadania". Para tanto, ela tem que vencer mitos como segregação e meritocracia, equilibrando ações afirmativas e multiculturalismo, com base num pluralismo integrador dos direitos humanos que só acontece na educação.

Assim se reafirma a idéia democrática de que os seres humanos se educam em comunhão, porque educação é acima de tudo um ato de amor, ou não passará de mero treinamento, como ensinava Paulo Freire, do alto de sua paixão radical pelos condenados da Terra, os excluídos de sempre. É nesse trabalho que deve ser, antes de mais nada estabelecida com clareza a distinção entre o respeito às diferenças, que pertence ao campo dos valores, e a manutenção das desigualdades, que são perversas porque se inserem no campo das discriminações delituosas. A indignação diante do preconceito, que em nosso país se revela principalmente contra a tríade "mulheres, negros e pobres", deve ser manifestada na vida privada como na política, não se permitindo quaisquer formas de discriminação - ocultas ou explícitas -, num trabalho perseverante de resgate da dignidade humana.

Não se pode conviver com as contradições de uma sociedade que descarta pobres e velhos, oferecendo-lhes um salário mínimo que, por seu valor, é um atentado aos direitos humanos, revelando um "preconceito legalizado"; que se esconde, com medo de suas próprias crianças, relegadas ao abandono; que denigre a imagem de seus próprios funcionários, aceitando ingenuamente a tese útil à corrupção que grassa nos mais altos escalões, de que retirar os direitos dos servidores públicos é a panacéia moralizante e estabilizadora de toda a economia.

É preciso denunciar a violência simbólica, que faz parecer naturais formas de discriminação como o desprezo, a indiferença e a humilhação, e modos de exploração habilmente camuflados pela retirada de direitos paradigmáticos de categorias ditas "privilegiadas". Esse argumento autoritário inviabiliza a detecção dos verdadeiros privilégios, mantidos por uma legislação basicamente de exceção. Esta perpetua a vigência de medidas provi sórias, jamais discutidas e votadas pelo poder competente, e por isso transformadas em instrumentos fragmentadores de direitos e bens públicos, o que se procura compensar por meio de tributos ditos transitórios, mas que também se eternizam.

Precisamos nos libertar do duplo discurso e descruzar os braços, exercendo nossa cidadania de forma responsável, crítica mas participativa, pois a possibilidade de mudança numa sociedade em crise se dá no reencontro do ethos perdido, que se manifesta pela conscientização e aplicação dos verdadeiros valores, cujo habitat inicial somos nós mesmos, e que tem o condão de se ampliar em progressão geométrica, a partir de nossas mais corriqueiras ações e relacionamentos familiares, até alcançar as mais complexas estruturas sócio-econômicas e políticas.

São essas as noções consensuais mínimas sobre o complexo trabalho de educação a ser enfrentado. Elas são extraídas da experiência e sabedoria de homens e mulheres dedicados ao resgate da liberdade, igualdade e dignidade humanas, que harmonizaram e integraram, como as contas de um colar, todos os participantes do congresso, do humilde e atento estudante ao conferencista internacionalmente conhecido, e que ficam como mensagem da "esperança como virtude revolucionária" que nos legou Paulo Freire.



SUZETE CARVALHO é pós-graduada pela Universidade de São Paulo (Filosofia do Direito e Direito do Trabalho), conferencista e professora da Associação Palas Athena.



Texto retirado da Edição 66 – 1997 da Revista Thot publicada pela Associação Palas Athena



Sugestões para o Site

Compartilhe suas sugestões para melhorarmos o site da Escola de Governo.




CAMPANHAS











quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Melhor Idade?




“Pele enrugada

muita flacidez

luta corporal

contra a gravidade

coisas da idade

dirão alguns

a sorrir

sem piedade.

Desfaçatez?

Leviandade?

Assomo

de malvadez

ou tão só

sinceridade?

Outros talvez

sem notar a ironia

santa ingenuidade

usam a terceira via:

“Viva a Melhor Idade!”.



sc/24/12/2012



segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Crônica de Outubro*




“Outubro é o mês da criança”, proclamam as propagandas mercadológicas que pululam em todas as mídias, ansiosas por abocanhar nossas parcas economias. “É o mês das eleições”, garantem os políticos em sua desabrida ânsia de Poder e, também, diga-se a bem da verdade, as pessoas conscientes da importância da cidadania. Oh, não, este é o mês dedicado à Padroeira do Brasil, retrucam inúmeros fiéis, já que o país é majoritariamente católico. Ora, diriam as pessoas idosas, o mês começa com o “Dia da Terceira Idade”, portanto o mês é nosso!

Sem dúvida, todas essas comemorações são válidas, como tantas outras, já que cada dia do ano tem sido dedicado a algo ou alguém, mas, ao que me parece, importante mesmo seria procurar entender o que tantas “festas” estão a nos sinalizar, ou melhor, o que simbolizam. Em outras palavras, eu diria que, talvez fosse interessante que nos detivéssemos um pouquinho para pensar o que nos compete fazer para que realmente essas celebrações façam algum sentido. Ou não.



• Introdução a uma crônica abortada...

sábado, 20 de outubro de 2012

Haicai de uma tarde outonal




“Danço qual folha

de outono ao sabor

da inspiração.”



sc/
Publ. hoje no Mural de m/facebook.

G R A T I D Ã O 


“Aos Céus


minha gratidão

pela Luz

pela vastidão

pelo azul

que se reflete

no mar

e nos olhos teus.”



sc/ out/2012.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Consolo




“Consola-me saber

que sempre há de haver

um novo amanhecer.



Consola-me lembrar

que li nos olhos teus

que sempre me hás de amar.



Consola-me pensar

que apesar do meu sofrer

tudo sempre há de passar.



Consola-me compreender

que saber lembrar pensar

são formas do meu sonhar.



Consola-me acreditar

que consigo versejar

meu sofrer pensar sonhar.”



sc/out/2012

Escrito em um momento de (des)consolo...







quinta-feira, 11 de outubro de 2012

COLUNA DA SUZETE




Um outubro (ainda mais) Rosa



A primavera, este ano, chegou um tanto indecisa, alternando “veranicos” e invernicos”, talvez a se solidarizar com nossas próprias indecisões e emoções abaladas pelas perdas e ganhos das últimas semanas ou – o que é mais lógico e provável –, talvez essa seja mais uma das formas de reação da Natureza ao descaso com que tem sido tratada desde sempre pelo ser humano.

Aliás, parece-me que a ideia aplica-se também às questões político-sociais, nas quais o interesse pessoal, infelizmente, tem sobrepujado o interesse coletivo, subvertendo um dos princípios fundamentais que deveriam nortear a vida em sociedade: o bem-comum, respeitadas as diferenças individuais.

Apesar desses pesares, nossa Região é privilegiada, pois basta um olhar ao entorno da Avenida Dom Pedro, rumo ao Parque da Independência – como, verdade seja dita, em outros tantos logradouros dessa Terra abençoada -, e nossas esperanças se renovam ante a festa colorida com que as flores dos ipês se oferecem ao olhar, sem preconceitos sequer contra a ausência de cidadania que ainda nos acomete.

Esse cenário deslumbrante com que a Primavera nos presenteia, aliado às tantas comemorações entre as quais destaco o aniversário do líder pacifista Mahatma Gandhi no dia dois, não por acaso celebrado como o Dia Internacional da Não-Violência e também dos Anjos da Guarda, o que nos leva às homenagens a personalidades santificadas, da lavra de Terezinha do Menino Jesus (dia primeiro) e de Francisco de Assis (dia quatro), são ícones do amor inconteste que só por si teriam, a meu ver, o condão de sacralizar o mês de Outubro.

Minha sugestão é, já que estamos exatamente no Dia da Criança e às vésperas do Dia dos Professores, que repensemos juntos nossos hábitos consumistas e seu impacto sobre o meio-ambiente, com vistas a outubros verdadeiramente primaveris e coloridos para todos. Esse é o primeiro passo, como lembra minha sábia conselheira Dª Nena, para irmos conscientizando as novas gerações sobre sua própria responsabilidade para a preservação da Natureza.

Enfim, já que vivemos num país de maioria católica, lembro ainda que hoje o dia é também consagrado à Padroeira do Brasil, mas o mais importante, quero crer, é que nos respeitemos mutuamente em todos os momentos, sejam quais forem nossas crenças, status e opções de qualquer espécie, pois, queiramos ou não, somos todos interdependentes e, se não nos conscientizarmos disso a tempo, só nos restará dizer “Nunca mais”, como “O Corvo” de Edgard Alan Poe.



Publ. hoje, 11/10/2012, em m/Coluna no Jornal Gazeta do Ipiranga, Cad.C-4.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Haicai do momento




“Viver é sonhar

sob a ilusão de um

manto corporal.”



sc/02-10-2012

sábado, 6 de outubro de 2012

Haicai da Véspera




“Daqui e dali

arte surrealista

votar por aqui.”



sc/06/10/94- Véspera de eleições municipais em todo o país...



terça-feira, 2 de outubro de 2012

Hoje, dia em que se comemora o centésimo quadragésimo primeiro aniversário do nascimento de Gandhi e que a ONU houve por bem declarar como o Dia Internacional da Não-Violência, acredito oportuno transcrever um trecho de m/Ensaio “Por que Gandhi Hoje?”






“Insistência, persistência, paciência e firmeza de propósitos consistiram nas grandes virtudes que fundamentaram o pragmatismo gandhiano, a embasar seus dois princípios máximos: ahimsa e sathyagraha (de sathya, verdade e agraha, firmeza). No ensinamento gandhiano o ahimsa não é um escudo para a covardia, mas uma arma para os bravos, muito mais poderosa que todas as armas já inventadas pelo engenho humano.

A sutileza desse princípio vai muito além de não matar, pois nele não cabe sequer alimentar maus pensamentos ou permitir que o sofrimento se propague, compactuando com a dominação ou vilania. Também não significa deixar de se proteger ou de cumprir o dever, nem renunciar aos direitos conquistados ou submeter-se à tirania. É, isto sim, uma práxis corajosa, que passa necessariamente pelo respeito às diferenças, necessidades e direitos do outro e de nós próprios, em suma, pela dignidade dos seres humanos.

É um exercício de perdão, visto como ação mais nobre do que a punição, até porque, no dizer de Gandhi, ninguém é suficientemente bom para julgar o outro. Sua sugestão é que procuremos ver nossos próprios erros com uma lente de aumento, como fazemos com os erros dos outros, para podermos chegar a uma avaliação mais equânime. Essa é uma prática de amor, solidariedade e compaixão (de pathos, paixão ou sofrimento, em grego), com o sentido de compreender e minimizar a dor do outro, seja ele quem for.”



Publ. in Thot nº 79, “Política e Poder: Gandhi Hoje”, SP:Palas Athena, out/2003, pág. 4/9.



segunda-feira, 17 de setembro de 2012

“Não fique


aflita

Maria

nem se

omita

persista

resista

invista

em si

passe em

revista

sua alma

de artista.”



sc/17/09/2012.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

O Grito e a Independência




Há exatas 190 primaveras, D.Pedro de Alcântara, com o decantado Grito da Independência, inseria para sempre o bairro do Ipiranga, sua colina, seu riacho, na História do Brasil, após um amplo e polêmico processo político que envolveu personalidades que hoje batizam aleatoriamente nossas Ruas.

Importante lembrar aqui as circunstâncias finais que teriam impelido nosso “Defensor Perpétuo” ao feito épico: a recepção de três cartas fatais para o destino do colonizador, para a leitura das quais – além de um possível mal-estar intestinal -, Sua Alteza apeara às margens do hoje não tão acolhedor Riacho do Ipiranga.

A primeira missiva, de seu pai, continha um ultimato para que retornasse a Portugal; a segunda, do então Ministro José Bonifácio, aconselhava-o a romper com Portugal e a terceira, praticamente esquecida pela história, de sua esposa Maria Leopoldina, na qual externava poeticamente sua posição ao advertir: “O pomo está maduro, colhe-o já, senão apodrece”.

Importante lembrar também que, para reconhecer nossa “Independência”, a Corte Portuguesa exigiu o pagamento de 2 milhões de libras esterlinas, importância gentilmente emprestada aos “irmãos” brasileiros pela Grã-Bretanha, marcando o início de nosso endividamento externo.

O fato é que o “Grito do Ipiranga”, ainda que tenha sido uma construção “a posteriori”, criada pela fértil imaginação do pintor Pedro Américo, coloca indefectivelmente nossa região na história pátria, atraindo visitantes de todas as partes ao belíssimo Parque da Independência e a seu Majestoso Museu, motivo de orgulho aos homens e mulheres que aqui vivem e convivem.

Fato é também que a tela de Pedro Américo não alcançou nem de longe a repercussão (ao menos no exterior) obtida por um outro “Grito”, a obra do pintor norueguês Edvard Munch, arrematada em leilão de 2010 pela incrível quantia de 106,5 milhões de dólares.

Resta dizer, enfim, que embora saibamos que “independência” é uma expressão relativa e paradoxal, já que somos todos – seres humanos ou nações - sempre interdependentes, estamos unidos em torno de um ideal comum: um mundo sem dominadores a impedir nossa liberdade de ser e de viver de acordo com nossa própria consciência, vale dizer, um mundo melhor, mais pacífico e igualitário.

Celebremos, pois!

Publ. hoje (14/09/2012), no Jornal Gazeta do Ipiranga, Caderno A-7 (Coluna da Suzete).









quarta-feira, 12 de setembro de 2012

“Poemas


assomam

aos olhos

da alma

lágrimas

em processo

de mutação

sangue

represado

a transbordar.”



sc/ 12/09/2012.



Sobre a Bhagavad Gita


(Prolegômenos ao resumo de uma leitura metafórica)



A Gita, no meu humilde entender, nada mais é do que um grande papo entre o Ego (personificado por Arjuna) e o Superego (Krishna). Em outras palavras: Sabe aquela viagem às profundezas de seu próprio ser? Pois bem: Krishna (seu Eu superior ou divino) é o piloto.

Importante lembrar que essa Sublime Canção foi extraída de um “momento” do grande épico hindu “Marabharata” (Grande Índia), um dos maiores e mais conhecidos “relatos”, ao lado do Ramayana, das escrituras védicas.

Dito isso, ouso uma interpretação: O Mahabharata é você, ser humano integral. Você e todas as suas instâncias. Você e suas lutas homéricas com vistas ao transcendente. Sim, cada um(a) de nós é um grande épico, uma grande metáfora da condição humana.

A Gita, um néctar do Mahabharata, canta, em seus 700 versos, um poema de redenção, retratando apenas o instante (o campo de Kurukshetra) que precede uma das mais importantes batalhas travadas por Arjuna - uma “guerra justa” entre as principais forças do ser humano -, em que os dois ramos rivais (da mesma família), os kurus e os Pandavas, se alinham para o enfrentamento.

Essa, a meu ver, é a mais trágica disputa pelo Poder, a que se trava no interior do ser humano, mantendo-o em perene tensão entre as forças contrárias que o impelem.



sc/12/09/2012

Cf. prometido, há dias, em comentário a uma postagem da amiga Sonique Mota no facebook.



terça-feira, 11 de setembro de 2012

Conselho




Na luta

pela justiça

buscando

equanimidade

não imite

o opressor

tentando usar

força bruta

há uma arma

poderosa

mais forte

que dinamite

e só requer

ousadia

basta apenas

se dispor

a ser artificiosa.



Sc/set/2012

Poema inspirado em depoimentos de “Mulheres que Constróem” (Evento promovido pelo IBRADD em 27/08/2012, em SP).











segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Três haicais




1)

“Somos moinhos

de vento a rodar sem

sair do lugar.”



2)

“A gaiola em que

estamos presos só

abre por dentro.”



3)

“Alguns recheiam

seus sonhos com ódio

outros com amor.”



Publ. também em m/Mural no Facebook.

sábado, 8 de setembro de 2012

Não possuía lá tantos sentimentos, apenas um medo de viajar de avião somente proporcional à grande paixão que nutria pela filha. O medo remontava a um desastre aéreo que o levara, como único sobrevivente, a ser entrevistado por um Jornal da cidade: “Não consigo esquecer aquela sensação terrível de ver a terra subindo rapidamente”. Já, a paixão, o levara a proibir o namoro da filha com “aquele cafajeste” que flagrara, tempos antes, sacudindo uma moça pelos braços: “Ele é violento, filha, não é homem pra você”. Rejeitado, o rapaz passou a ameaçá-la, o que demonstrou que o pai tinha razão. Sem saber das ameaças e feliz com a determinação da filha de não retomar o namoro, José resolveu cumprir a promessa feita a Sta. Rita se a moça o obedecesse: enfrentaria a temida e sempre adiada viagem aérea para visitar a irmã doente. Uma vez mais, a Terra subiu rapidamente ao seu encontro, poupando-o de ver a notícia estampada na primeira página do mesmo Diário: “Rejeitado, rapaz mata ex-namorada a tiros”.




Da série “Microcontos macrorrealistas”.



Conto baseado em lembranças antigas, assomadas à memória durante os depoimentos de algumas “Mulheres que Constróem”, em recente Encontro promovido pelo IBRADD.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Coração Cego

“Sou um


coração

cego

fadado

à supervisão

da razão

malgrado

não nego

minh’indignação

contra essa

intromissão

do Superego.”



Publ.hoje em m/Mural no facebook.





domingo, 2 de setembro de 2012

O chefe:Mariazinha, escreva tudo que você sabe sobre a última Jurisprudência do Tribunal.No mínimo, cinco páginas, entendeu? O senhor tem pressa? Pra ontem! O colega (dias depois), portando uma importante Revista técnica:Mariazinha, você viu o excelente artigo do teu chefe? O Presidente do Tribunal:Parabéns, doutor.É de uma cabeça como a sua que estamos precisando.Vou nomeá-lo Chefe do meu Gabinete. O Chefe (mais tarde):Não se preocupe, Mariazinha, não vou te abandonar.Você vai como minha secretária, a não ser que prefira ser lotada no Arquivo morto.


Da série “Microcontos macrorrealistas”.



O conto foi baseado em lembranças “detonadas” pelo depoimento de uma das mais ilustres homenageadas no evento “Mulheres que Constróem”, promovido pelo IBRADD, em SP, em 27/08/2012.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Mariazinha

Seu nome é Mariazinha, mesmo, ou é Maria? É Mariazinha, porque o pai diz que Maria, só a mãe de Deus. Ah, ele que escolheu seu nome?Então, ele deve ter ficado muito feliz por ter tido uma filha mulher, não é? Né, não.Pai ficou é bravo.Ele diz que mainha é só parideira de filho mulher. Mas quem dá o sexo para os filhos, é sempre o homem, Mariazinha.Todo pai tem duas sementinhas, uma azul e uma cor-de-rosa.Se ele põe a sementinha cor-de-rosa na mãe, nasce uma menina.Conte isso pro seu pai. Vixi, doutora, conto não!Lá em casa, cor-de-rosa e culpa é sempre coisa de mulher.Se eu conto, a mãe vai ficar “culpada e apanhada”...




sc/

Da série “Microcontos Macrorrealistas”.



O conto foi inspirado em depoimento da ginecologista e escritora Dra. Albertina Duarte - cujo trabalho com adolescentes tem repercussão internacional, levando-a a ser indicada ao Nobel da Paz -. (evento “Mulheres que Constróem” -, promovido pelo IBRADD em SP, em 27/08/2012).



domingo, 26 de agosto de 2012

Por vezes


sou hidrogênio

em fusão

sou hélio

sou parte

de um processo

de alquimia

sou estrela

branca anã

sem acesso

com reveses

de explosão

radiativa

de implosão

de emoções

vácuo quântico

a voltear

buraco negro

eis o que sou

por vezes.



Sc/

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Haiku do dia




“Se você não tem

asas use a sua

imaginação.”



sc/



A mim apenas me cabe transcrever esse e outros conselhos poeticamente soprados na calada da noite por m/daimon...



segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Haiku do (meu) momento


“Palavras também

são armas e seu uso

requer cuidado.”



Publ.em 17/08, em m/Mural no facebook, o haiku me permitiu mediar interessante debate entre os amigos, que enriqueceram os versos com sua experiência e sabedoria.

Assim, a Professora/Escritora de Aracaju, Lilian Farias, lembra que as palavras podem ser ferramentas ou armas; o Representante Comercial Catão Montez Neto (com vasta experiência em Farmácia) propõe a Consciência como o melhor remédio; a Jornalista Maristella Ajalla acredita no “kokotama” japonês (espírito da palavra); o Advogado José Augusto Brito (Guto Brito para @s amig@s) acrescenta que as palavras têm alma; o Escritor José Santana Filho lembra que as palavras podem ser navalhas ou balas de bacuri (cupuaçu), “boas de degustar”; O Professor Targino José da Silva se refere à importância das palavras na Educação Infantil e, enfim o Médico e ex-Secretário da Saúde de Ribeirão Preto, Dr. Álvaro Gradim, sugere que “é melhor ficar calado do que expressar o real sentimento do momento”.

Namastê a tod@s.



sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Haicai do dia




“Que o ego não

nos transforme em seres

alienados.”



Publ. em (e por causa do) facebook.

domingo, 12 de agosto de 2012

Simplicidade


simpatia

(semblante sorridente)

serviço

sensibilidade

silêncio

solidariedade

são de sobejo

sem segredo

sempiternos

sopros

da sabedoria.



Substratos

sublimes

da senda

da santidade

são simples

sugestões

significantes

sem sofismas

ou sortilégios

a salvaguardar

a sacralização

do Ser.



sc/







sábado, 11 de agosto de 2012

COLUNA DA SUZETE


Santa Paciência



Paciência não é o meu forte. Estava exatamente pensando nisso, dia desses, quando deparei na rede social com uma bem-humorada metáfora que recomendava o uso de um hipotético remédio para o problema da impaciência, o “Tolerato de Paciência, 500 mg, uso oral”, que me inspirou a escolher o tema para a crônica deste agosto que, espero, já tenha superado a aura de “mês de cachorro louco”, como diziam meus avós.

Me ocorre ainda lembrar o dito popular que afirma que “de médico e de louco, todos temos um pouco”, daí porque estamos sempre a diagnosticar problemas e prescrever soluções para as loucuras da sociedade e, por que não dizer, às nossas próprias insanidades. Haja paciência!

Pois bem, comentando que estava interessada no assunto, alguém me sugeriu assistir ao vídeo “Terça Insana, Santa Paciência”, uma apresentação irreverente e ensandecida da paciência, ali personificada em ambígua santidade. “Vade retro”, pensei, “paciência é uma virtude a ser exercitada (ao menos assim me foi ensinado) e somente uma aliada da Santa Ignorância poderia dizer tanta blasfêmia (embora eu deva confessar que dei algumas risadas).

Nesta altura da crônica, minha conselheira Dª Nena resmunga: “Você está me deixando impaciente!”. Então, trato de ir direto à pergunta que não quer calar: Afinal, será que há alguém tão virtuoso que não perca a paciência no trânsito caótico da hora do rush, numa daquelas intermináveis filas de banco, de ônibus, de um Pronto Socorro Público ou no empurra-empurra de uma estação de metrô?

O fato é que, sabemos todos, filas de espera não são o único problema a requerer nossa mais santa paciência, muito ao contrário. Pessoas e situações do cotidiano conseguem, literalmente, nos “tirar do sério”, testando nossa capacidade de tolerar as mazelas políticas, nas quais se incluem todas as questões sociais, das familiares às associativas e até mesmo, seja dito a bem da verdade, as religiosas.

Enfim, a meu ver, virtudes como a paciência devem, sim, ser praticadas, desde que seja preservado nosso direito à indignação diante de atitudes presunçosas, antiéticas e discriminatórias que se propagam na coletividade dificultando o conviver.



Publ. no Jornal “Gazeta do Ipiranga”, 10/12/2012, Caderno D-8.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

segunda-feira, 23 de julho de 2012

C I N ZA S



Quisera oferecê-las

à deusa Ganga

cujas madeixas

brotam das neves

eternas do Himalaia

aprisionada porém

à força das circunstâncias

entendi haver por bem

transformar o último

ritual de sua passagem

que sonhara grandioso

em humilde oferenda local.



Com status de floresta

em mágica montanha

o parque se engalanou

pleno de luz e de amores

e a festa de despedida

deu-se na pequena fonte

que brotou da Terra Pura

e levou por entre as flores

o que restou de uma vida.



sc/

sexta-feira, 13 de julho de 2012

COLUNA DA SUZETE


Idades da Vida

Suzete Carvalho*

Minha mãe, recém falecida, dizia que eu já nasci “lendo e escrevendo”, tamanha a paixão que sempre devotei à palavra escrita, mas foi somente após minha aposentadoria, há pouco mais de duas décadas, que comecei realmente a usufruir dessa dádiva que somente ao ser humano é concebida: a capacidade de compreender, interpretar, pensar e repensar a vida.

Estava exatamente elucubrando a esse respeito dia desses, quando me caiu às mãos interessante artigo da Revista Época deste mês, intitulado “Como a idade faz nosso cérebro florescer”, no qual são analisadas algumas das possíveis origens biológicas da sabedoria que a maturidade – a estação da colheita, segundo o Talmude - pode (e deve, a meu ver) proporcionar.

O fato é que, nossos condicionamentos culturais eivados de todo tipo de preconceito, não nos permitem perceber o quanto a linguagem é opressora e limitativa de nossas possibilidades, confinando o próprio pensamento. Assim, por exemplo, a palavra aposentar vem do antigo apousentar (sentar pouso), de onde aposento (quarto), ou seja, aposentado seria aquele que se limita a seus próprios aposentos, deixa de voar, se recolhe, pressupondo, portanto, inatividade.

Como escrevi algures, o aposentado geralmente é idoso, de idadoso, aquele que tem muita idade, visto pelo senso comum como ‘aquele que já passou da idade ativa’. Hoje esse conceito está mudando, mas como ocorre em todo processo cultural, antes que se encontre um novo equilíbrio o pêndulo tende a oscilar, e então os mais afoitos caem no extremo oposto utilizando expressões que também não correspondem à realidade, como é o caso da falaciosa expressão ‘melhor idade’.

Enfim, todas as idades têm seus privilégios, desde que haja qualidade de vida, assim como em todas as fases há percalços. O que jamais se pode perder é a capacidade de indignação diante da injustiça, a vontade de expressar aquilo que sentimos, o desejo de lutar por tudo em que acreditamos e de desfrutar daquilo que conquistamos. Para isso é essencial participar, trocar experiências e, nessa troca, renovar nossas visões de mundo e ativar nossas potencialidades físicas e intelectuais, sejamos homens ou mulheres, jovens ou idosos de todas as cores, tendências e procedências.



*A autora escreve neste espaço toda segunda sexta-feira do mês. Alguns de seus escritos em prosa e verso podem ser acessados e comentados no blog www.novaeleusis.blogspot.com

**Publ. no Jornal “Gazeta do Ipiranga”, edição de 13/07/2012, Caderno D, pág. 6







domingo, 8 de julho de 2012

Haicai do mês




“Pensar a vida

repensar a morte e

não pensar a dor.”



Publ. no facebook em 08/07/20122

sexta-feira, 29 de junho de 2012

EU DIGO NÃO AO NÃO




Nasci vivi e cresci

sob o signo do não

dura palavra de ordem

dos adultos de então

hoje semeio desordem

nas asas de um outro não

pois muito muito sofri

com a discriminação

e pois digo não ao não

não e não porquê não

não ninguém pode dizer

que o não da mulher

é sim bem assim

tal qual pretendem

patriarcas de plantão

não podem não

pois lá no fundo eles sabem

que um não será sempre não

por princípio e vocação

e que um bem dito não

não requer explicação

se é que me entendem

os que vivem na ilusão

dos tempos que lá se vão

quando o povo era refém

da pouca legislação

que dava ensejo também

à angústia da exclusão

aos guetos eu digo não

pois não aceito esse não.



Publ. in Antologia “Eu digo não ao não”. Póvoa de Sta.Iria, Portugal: Lua de Marfim Editora, 2012, pág. 73.











quarta-feira, 13 de junho de 2012

domingo, 10 de junho de 2012

”A Casa parece lotada”, disse a visitante. - “No inverno sempre há vagas, porque muitos se vão”. Ingênua, perguntou: “A família vem buscá-los”?”. – “Não, querida, os deuses”, respondeu a diretora da Casa de Repouso.


Da série “Micro contos Macrorrealistas”

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Wu Wei




Tento encontrar-me

nos quintilhões

de átomos

que se atraem

a moldar

minha matéria

e me perco

nos incomensuráveis

vazios de seus

interstícios.

Ipiranga via Bacabal e Rio de Janeiro




Instada pelas provocações de Sonique Mota, uma linda e culta bacabalense, resolvi escrever sobre dois assuntos que dizem muito aos ipiranguistas pelas excelentes opções que a região oferece: cultura e gastronomia. Antes de entrar no tema propriamente dito, é preciso dizer que Bacabal é uma bela cidade maranhense com pouco mais de cem mil habitantes e que descobri Monique por suas inteligentes postagens nas redes sociais.

Pois bem, vou tentar refazer o caminho que me levou a enveredar aqui por esse tema. Dia desses, ao publicar uma crônica em meu Mural no facebook, recebi a “visita” de Sonia Saliba, querida amiga e “Chef” do inefável “Seo Virgulino”, onde nos sentimos como se estivéssemos em nossa própria casa, tal a disponibilidade de Sonia. Aproveitei a oportunidade para homenageá-la, respondendo: “Este é o único prato que sei cozinhar. Quisera que fosse tão gostoso como os que você nos oferece”.

Assim é que, entre vários comentários “deliciosos” à minha crônica, o bato-papo acabou se transformando numa boa “festa gastronômica” onde as letras eram o prato principal, levando Heloísa Campos Freire, uma carioca que também tenho a felicidade de ter como amiga virtual, a lembrar do excelente filme norueguês “A festa de Babette”.

É assim que vejo nosso bairro, como uma grande festa, com suas memoráveis comemorações, seja nos Jardins do Parque da Independência, com destaque para as atividades lítero-musicais do Museu, seja em seus vários clubes e associações, com destaque para o centenário Vovô da Colina, do qual tive a honra de ser Diretora Cultural, ainda que por breve espaço de tempo.

Quanto à gastronomia, faço minhas as palavras da redação da Revista do Ypiranga, na edição de janeiro/fevereiro de 2011, para a qual, aliás, contribui com a crônica “Ora, minha Senhora”: “A variedade de estilos e serviços é enorme e há programas para todos os gostos: para quem gosta de sair em família, para quem prefere curtir o Happy Hour com a galera e também para os casais românticos”.



Pub. no Jornal Gazeta do Ipiranga, Coluna da Suzete, Cad. C-8, em 08/06/2012

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Pensar sobre as questões abrangentes da experiência humana tentando apreender o sentido da vida, se é que o há, tem sido a minha (pré)-ocupação principal desde sempre, mas, muito, muito especialmente nestes tempos em que “reciclar” é a palavra de ordem.


Reciclar arcaicos condicionamentos culturais, sempre prenhes de preconceitos – que entendo como projeção do medo de encarar o diferente em nós mesm@s -, reciclar as velhas formas de relacionamento com-o-outro-seja-quem-for, o que transcende o nosso entorno e inclusive o chamado “meio-ambiente”, para abarcar a própria consciência.

Pensar e escrevinhar a respeito, analisando vivências a respeito de temas eleitos dentre as leituras dos (nem sempre tão) clássicos e as observações de um cotidiano – ou uma sociedade, se preferirem – em acelerada mutação, isenta de pré-julgamentos, tem sido meu leitmotiv para encarar a septuagésima década nesta estrada sem retorno, ou seja, para (re)encarar a condição humana e, de conseguinte, a minha própria.

E eis senão quando, descubro que tantas e tantas vezes me perco de mim mesma ou daquilo a que me propus, permitindo que meu ego se rebele ao constatar que enfurnei escritos e escriturações, sejam meras anotações, sejam livros mais que “prontos e acabados”, deixando escapar a oportunidade de compartilhar pensamentos eventualmente inovadores, se é que os tenho, se é que algo se inova neste sempiterno caminhar.

Assim é que, dia desses, navegando pelas redes sociais, deparei com um link da poetisa pernambucana Lilly Falcão, que remetia a um texto da antenada escritora Martha Medeiros, cujo mote andava a me assediar há tempos, tendo até sido objeto de anotações que eu relegara, como em tantos outros casos, para futuras publicações.

A simples leitura do título - “Melhor coisa que nunca lhe aconteceu” – teve o condão de me fazer lembrar que havia anotado vários “não-acontecimentos felizes”, um dos quais, pelos importantes reflexos que teve em minha vida, me sinto instada a compartilhar.

Em síntese, já que me estendi muito nos preâmbulos, trata-se do seguinte. Quando minha filha nasceu, eu estava terminando de cursar a Faculdade de Direito, cujo diploma me daria acesso a uma função de relevância no Tribunal em que eu exercia, então, um cargo público. Por algum motivo insondável, a pessoa com quem eu contava para me ajudar a cuidar dela – e que morava conosco há muitos anos – (aqui, minha neta está sugerindo que eu escreva “se periquitou”, mas não o farei porque, como ela mesma concluiu: “Não ficaria bem, né, vó?”) – simplesmente se foi sem explicações ...

A questão, na verdade, é bem mais complexa do que estas vãs palavras podem demonstrar, mas uma coisa é certa: jamais me arrependi de não haver vestido a máscara de Executiva Pública que me era oferecida numa bandeja de prata. Abrir mão das pompas e reverências a um senso comum castrador de ideias teve o condão de me apresentar à liberdade de ser.

sábado, 2 de junho de 2012

Sinapses




Ouço as

ideias

sondando

e rondando

prontas a

magnetizar

as mentes

antenadas.

Captá-las

é questão

de frequência.







sexta-feira, 25 de maio de 2012

Movimentos


lentos

sincronizados

qual bailarino

tentava

subverter

o tempo

a fim de que

não revelasse

a proximidade

de seu próprio

fim.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Admiração?



Você afirma

que me admira

por meu saber

mágico

extraordinário

mas seu olhar

antropofágico

afirma o contrário.



sexta-feira, 11 de maio de 2012

MAIO

Mês do Trabalhador, das Mães, das Noivas, da Libertação da Escravatura, da Liberdade de Imprensa, e outras tantas efemérides mais, ou menos, importantes, maio tem até o Dia Nacional do Milho, cereal cujo nome significa “sustento da vida”, haja vista que foi o alimento básico de várias civilizações antigas importantes, como a dos Maias - aqueles mesmos cujo Calendário deu margem a interpretações fatalistas que dizem que o mundo terminará em 21/12/2012.
Reverenciado na arte e na religião por algumas das culturas pré-colombianas, como os incas e os maias, que já eram avançadas milênios antes da “descoberta” da América, esse cereal é atualmente o terceiro entre os mais cultivados no mundo, perdendo apenas para o arroz e o trigo, tendo sido elevado a patrono de efemérides, como o Jubileu de Milho recém celebrado pela Gazeta do Ipiranga e, coincidentemente, as Bodas de Milho que eu e meu companheiro João Baptista celebraremos no próximo dia vinte e nove.
Este é também o mês em que se comemora a “explosão” da Contracultura. Para quem não estiver lembrado, trata-se daquele Movimento deflagrado na França em MAIO de 1968, que, ganhando espaço nos meios de comunicação, foi seguido de outros movimentos como o de Woodstock (hippie), que influenciaram os jovens de todo o Ocidente com suas propostas de mudança na estrutura social.
No Brasil, então sob a égide da ditadura militar, “caminhávamos contra o vento” e essa influência se fez notar praticamente apenas na música de protesto de jovens compositores como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque e Geraldo Vandré, entre outros, bem como na forma de vestir e falar de nossa juventude. A sociedade mal acompanhava os acontecimentos e, a propósito, lembro de um fato um tanto cômico acontecido nessa época.
Certa vez, ao entrar em casa, deparei com minha tia aos prantos.  Perguntada sobre o que havia acontecido, ela respondeu entre soluços: - “O Joãozinho” (seu filho adolescente) “me chamou de bicho”.  – “Você deve ter entendido mal, tia.” – “Não entendi mal, coisa nenhuma. Eu disse a ele pra levar guarda-chuva porque ia chover e ele respondeu: “É isso aí, bicho”. Caí na risada e ela aumentou o choro dizendo que, pelo jeito, eu também a considerava um bicho.
O fato é que minha tia não ficou lá muito convencida com as explicações que lhe dei, até porque ela não tinha como acompanhar as manifestações de uma sociedade em mudança. Imagino que, se vivesse hoje, ela ficaria inconformada ao ouvir meu neto dizer: “E aí, véi?”, expressão que “está na boca” de todos os jovens, de ambos os sexos, que se tratam dessa forma inclusive entre eles. Pessoalmente, acho “da hora”...

Publ. em 11/05/12 na “Coluna da Suzete” do Jornal Gazeta do Ipiranga nº 2744, Caderno D-8.

domingo, 6 de maio de 2012

Passo a passo

“Passo a passo prosseguia
sem  dar atenção ao   
invasor a esgarçar-lhe 
a área  patelar
até transformar 
seus garbosos passos 
em trôpego andar.   
Apegando-se tão só 
ao  tempo presente
caçador que era
de  prazeres  sensórios 
acreditava-se imune 
às garras do futuro.     
De súbito a doença    
insidiosa prostrou-o 
e   a  vida virada 
do avesso  esgarçou
o tênue tecido mental 
que revestia seu  
viver ilusório.    
Em decúbito 
dorsal   puseram-no
 dependente a aguardar 
que o tempo
esgarçasse de vez 
sua  textura vital.” 

quinta-feira, 19 de abril de 2012

De que vale

De que vale
cantar odes
à beleza
da lua
se sequer
vemos
a profunda
tristeza
no olhar
de uma
criança
de rua...

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Quem pode pode

Quem está fora
não entra
quem está dentro
não sai
quem se queixa
é abafado
e não escapa
ninguém
quem pode
pode e não deixa
que alguém
ameace o centro
do poder consolidado.

Para Manoel, data venia

Sem pretender
Deus me livre
de poeta
dar bandeira
também me vou
pra Pasárgada
muito embora
eu não seja
amiga do rei de lá
vou levar a
a minha rede
meu violão
vou levar
vou fazer uma canção
pra dançar rir
ou chorar
mas se não adiantar
quando eu estiver
mais triste
a ponto de me matar
deito na beira do mar
mando chamar Yemanjá
para humilde lhe contar
que lhe dediquei um conto
para a homenagear.

*O conto a que me refiro, “Um corpo na praia”, será publicado na Antologia “Nossos Autores”, a ser lançada pela Editora Scortecci na Bienal de São Paulo em agosto de 2012.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

DANÇANDO NA CHUVA

Semana passada, numa dessas tempestades de fim de tarde, embora eu estivesse a poucos metros de casa, fiquei um bom tempo esperando a chuva amainar para, simplesmente, atravessar a rua.
Pouco mais tarde, ao ligar o computador, deparei com o vídeo da famosa cena de Gene Kelly em “Cantando na Chuva”, que alguém postara em meu facebook e que me fez lembrar de uma deliciosa experiência da adolescência em que, voltando com meus pais de um passeio ao Forte de Itanhaém, fomos surpreendidos por uma chuva torrencial.
Meu pai, que havia assistido ao filme e ficara encantado com a performance do ator, sugeriu, sonhador incorrigível que era, que não ficássemos aguardando a tempestade passar, mas, ao contrário, fizéssemos a pé o percurso de volta ao centro da cidade: “Que tal irmos cantando e dançando na chuva?”.
Fascinadas com a ideia, eu e minha irmã disparamos na frente, com medo de que meu pai sucumbisse aos protestos de minha mãe, que de tão preocupada se esquecera de que ninguém nos conhecia na cidade: “Não tem cabimento! O que as pessoas irão pensar?”.
Voltando ao facebook, descubro que outra pessoa sugerira à reflexão a seguinte frase do filósofo Nietzche: “E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música”.
“Haja sincronicidade!”, filosofei com meus botões. Pois bem, a principal lição que, extraio dessas “coincidências significativas” e que gostaria de compartilhar com os leitores e leitoras, é a de que por termos sido tão condicionados(as) pela cultura a nos preocuparmos “com o que os outros pensam” (se é que pensam), não percebemos que nossa liberdade é tolhida exatamente pelas pessoas que não conseguem “escutar a música” que alimenta nossos sonhos.
Afinal, no fundo, no fundo, quem não gostaria de sair dançando e cantando na chuva?

Publ. hoje na “Coluna da Suzete” do Jornal Gazeta do Ipiranga, pág. D-4.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Medo primordial

“Uivos doloridos
de um cão ferido
evocam sensações
arquetípicas do
medo primordial
ecoando na noite
da alma.”

Publ. hoje em m/facebook.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Doze haicais

1)
“Raios de luz
entre sombras seccionam
a escuridão”

2)
“Passos no tempo
passado e presente
ser no futuro”

3)
“O caminho é
único mas as trilhas
são inúmeras”

4)
“Os detalhes são
sincronicidades do
cotidiano”
5)
“Repensar cada
pensamento até que
a luz se faça”

6)
“Preconceitos são
metástases no corpo
da sociedade”

7)
“Ah esse Ego
que não nos permite ver
nosso entorno”


8)
“Nunca discuta
com leigos seja qual for
sua profissão”

9)
“Louco azáfama
na ânsia de chegar
a lugar nenhum”

10)
“Formas nada mais
são do que ilusão dos
nossos sentidos”


11)
“Passo a passo
recompomos da vida
os descompassos”

12)
“Uma página
em branco é apenas
página morta”

Publicados também, em diferentes datas, em m/Facebook.

sábado, 7 de abril de 2012

Agora

Dia após dia
Hora após hora
Caminhei
Mundo a fora
Para enfim
Descobrir
Que o lugar
É aqui
E o momento
É agora.

Publ. hoje em m/facebook.

Para PESSOA

Perdi-me
De mim mesma
E o navegar
Se me tornou
Impreciso.

Postado hoje em meu Facebook.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Impróprio

Talvez
ela jamais
venha a ter
uma opinião
própria
ensinaram-lhe
que não é
próprio.

sexta-feira, 16 de março de 2012

E lá vamos nós, uma vez mais, a meio caminho entre o carnaval e a Páscoa. Águas de março a fechar um verão escaldante, porém, atípico, a brincar de esconde-esconde com a brisa do outono. Formas poéticas de falar das linhas cinzentas que entremeiam os ciclos da vida.
De uma vida paradoxal, que nos leva da alienada euforia a uma reflexão que tem como ápice o renascimento do divino em nós, simbolismo da Páscoa. Comemorar é (ou deveria ser) “lembrar com” as outras pessoas, um agir adequado à significação daquilo que se está celebrando, melhor dizendo, agir (também) com o coração.
O fato é que, da serpentina ao ovo de chocolate, nossas emoções são sobrepostas pelos interesses de Mercado, pelas imposições da Mídia e pelo nosso ego, instância relacional que não consegue equacionar sequer as questões do cotidiano.
Assim, acabamos por banalizar os sérios problemas que se fazem sentir sob a forma de preconceito e violência, especialmente a domiciliar, ou seja, “no meio do caminho tinha uma pedra”, mas não nos permitimos tirar nossas máscaras para que possamos vê-la e apreendê-la em seu verdadeiro significado.
Enquanto divago por essas questões, minha conselheira Dª Nena é mais objetiva: - “Você está querendo falar das comemorações do “Dia Internacional da Mulher”, não é?”. – “Não exatamente, minha cara. Estou é tentando dizer que essas datas comemorativas não farão sentido se não estivermos atentos ao que se passa em nosso entorno, seja nas celebrações de alegria, seja naquelas que visam a ressacralização da vida.

*Publ. no Jornal Gazeta do Ipiranga (Coluna da Suzete), em 09/03/2012, Caderno D, pág. 6.

sábado, 10 de março de 2012

Caminito

Para minha mãe, falecida ontem


“Na tampa
a pomba
da paz
simbolizava
a libertação
das carências
e medos que
a orfandade
precoce
legara àqueles
olhos de gata
assustada
a despertar
sentimentos
ambivalentes
agora cerrados
para sempre.

Aberto o ataúde
a transfiguração
sua última magia
arrancou
o pranto convulsivo
que eu não sabia
escondidinho
no âmago
de meu ser
ao som
de Caminito
ricamente
orquestrado
Shiva
a arrebatou
para o eterno
bailado
Cósmico...”

Sc/

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Tão perto

“O Paraíso é ali
do outro lado do rio
só temos que atravessá-lo...
ele está todo encoberto
por brumas como
as de Avalon
só temos que atravessá-las...
e embora esteja tão perto
entre as margens que nos separam
formou-se uma correnteza
só temos que atravessá-la...”

sc/
Publ. hoje em m/facebook

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Não brinque

Não brinque com os deuses
Você os criou
Nos mitos e lendas
Nos castelos e tendas
Em todos os leitos
De amor e de dor.

Não brinque com os deuses
Nem lhes faça promessas
Eles estão aí aqui acolá
No alto dos céus
No fundo do mar
Ocultos por véus.

Não brinque com os deuses
Você lhes deu poder...

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Gato e sapato

Muitos são como cães
a lamber sapatos
outros arranham
como se fossem gatos
ou se nos grudam
como carrapatos
manipuladores a nos fazer
de ato em ato
a uns e outros
de gato e sapato.

Publ. hoje em m/facebook.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Carnaval 2012

É tempo de Escolas de Samba. Escolas sim, de arte e técnica, de civilidade e pesquisa, a preparar especialistas que a cada ano se superam para fazer dessa festa nacional, aquele que é considerado um dos maiores espetáculos populares da face da Terra.
Escolas que recontam, sob o signo da alegria e da beleza, a vida e a obra de grandes personalidades internacionais, mas principalmente, que cantam o rico folclore e as histórias de nossa gente, um povo que talvez somente se dê conta de sua própria grandeza nesses momentos de descontração, em que as agruras do cotidiano se banalizam ante a constatação de quão árduas foram as nossas lutas, quão espinhosas e merecidas nossas conquistas.
Minha conselheira Dª Nena, que sempre encontra uma forma de quebrar minhas empolgações literárias, me interrompe para lembrar que, talvez, o estereótipo (como dizem os mais eruditos) de que o povo brasileiro “só pega no batente” após o Carnaval é um mito que pode estar ligado à questão das prolongadas férias escolares, bem como do recesso tradicional de algumas categorias, como por exemplo a Magistratura.
O bom de possuir um “alter ego” personificado, é que se pode exercitar o direito de contestação. Fiel, portanto, ao meu temperamento crítico-contestador, faço uso desse direito: - “Procede, mas não justifica, querida, até porque já tratamos do tema da pretensa indolência da população brasileira, na crônica publicada em fevereiro do ano passado, sob o título “De Carnavais e outros Ais”. Lembra, agora?”.
Flagrada num, digamos assim, pequeno deslize, Dª Nena tenta prolongar a discussão, mas cala e se afasta com dignidade, ao perceber que o espaço de que dispomos não comportaria o debate. Além do mais, nuvens negras prenunciam a chegada de águas que lavam o verão. Missão cumprida, alma lavada, desligo o computador com medo de uma queda na energia...
Feliz Carnaval.

COLUNA DA SUZETE, in Gazeta do Ipiranga nº 2731, 10/02/2012, Caderno D, pág. 06.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Animais

Animais sencientes
ditos irracionais
a sofrer nas mãos
de irmãos
imorais
predadores cruéis
ditos racionais
tão conscientes
de seus plantéis.

Publ.em m/facebook.

Corrida

Ladeiras íngremes
descidas vertiginosas
sol a pino
na corrida escabrosa
os olhos turva
pedras no caminho
causam tanto mal
quiçá, na próxima curva
a reta final...
o pódio, ah o pódio
reserva-se a quem
não diminui a marcha
atraído por uma mão
estendida, por uma
criança perdida
pelo aroma de uma flor
por promessas de amor

Escrito e publ. hoje no Mural de m/facebook

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Eu tive um sonho

Talvez pelo fato de haver terminado de escrever a crônica “Carnaval 2010”, a ser publicada na próxima sexta-feira em um Jornal da região, o mote (Carnaval) se aninhou em meu subconsciente como instrumento (ou passaporte) para a compreensão de uma situação que provavelmente eu não estava querendo ver.
Me explico: Sonho muito (dormindo ou acordada) e, por paradoxal que parecer possa, são essas “viagens oníricas” que me permitem colocar os pés no chão e repensar a vida, vale dizer, re-interpretar situações/comportamentos/relações com quem quer que seja (coisas/pessoas/conhecimentos), pois, a meu ver, tudo fala do mesmo.
Por isso, anoto rapidamente ao menos os detalhes que me parecem mais importantes desses “sonhos sonhados”, para posteriormente utilizá-los, seja em prosa ou verso, em meus escritos, o que me leva a novas interpretações.
Mas vamos à motivação desse intróito:
Hoje pela manhã acordei com a vívida lembrança de um sonho que me pareceu, à primeira vista, auto-explicável. Estava eu, meio deslumbrada, numa espécie de camarote protegido por um vidro, assistindo ao desfile de Carnaval de alguma Escola de Samba que se me afigurava muito importante.
Entre as alas, uma personagem vestida com simplicidade (sem máscara, nem fantasia), que identifiquei como a autora do samba-enredo e uma das diretoras da Escola, fazia reverências a algumas pessoas sentadas próximo à pista, proclamando sua admiração e gratidão a elas.
Como eu havia participado de seu trabalho, fornecendo dados técnicos e dando aporte cultural e econômico à Escola, fiquei esperando que ela vislumbrasse meus acenos por trás do vidro, mas Rita (era esse o nome dela), não se dignava olhar em minha direção.
Quando se aproximava a última ala, Rita pareceu me ver, mas em seguida desviou o olhar, dirigindo-se com um “Obrigada, tia Neusa” a uma senhora que se postou à sua frente.
No próprio sonho eu as identifiquei:
Rita, uma mulher/professora especial, a quem tive oportunidade de encontrar várias vezes em uma Ong à qual ambas doávamos voluntariamente nosso trabalho e que, ontem, “casualmente”, (re)encontrei em um comentário ao facebook de um amigo comum.
Neusa, uma senhora a quem conheci em uma palestra/oficina na Casa das Rosas e que, há alguns anos, fez um súbito sucesso com seu blog cultural, após ser entrevistada por Ana Maria Braga.
Enfim, não vou contar minha interpretação do sonho, mas devo confessar que, ao menos num primeiro “olhar” ela não me foi lá muito favorável. Após o café da manhã, meu desânimo aumentou, por motivos que não vêm ao caso.
Pronta a mudar de rumo, inclusive desativando o facebook, me deparo com um comentário a uma postagem feita ontem que, por si só, me reencaminha: Alex, um jovem e generoso amigo virtual, quer saber mais a respeito das filosofias da Índia, tema que me fascina e a cujas pesquisas (inclusive “in locu”) tenho dedicado boa parte de meu tempo e atenção.
Entendendo o fato como uma sincronicidade, volto a repensar criteriosamente meus próximos passos, pois a estrada que vislumbro já não se alonga tanto (ainda que se alargue) e há muito ainda a oferecer como gratidão ao que me foi dado experienciar nesta inefável passagem pela dimensão do tempo...
Ou terá sido a vida tão somente (mais) um sonho?
Namastê.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Sonambulismo

Acordo com a sensação
de haver sonambulado
um papel sobre o teclado
parece um recado
garatujado
eu havia escrevinhado
um haicai estruturado
a ser lançado
na próxima edição.

Escrito e publ. sábado (04/02/2012) em m/facebook.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

EU DIGO NÃO AO NO

EU DIGO NÃO AO NÃO

Nasci vivi e cresci
sob o signo do não
dura palavra de ordem
dos adultos de então
hoje semeio desordem
nas asas de um outro não
pois muito muito sofri
com a discriminação
e pois digo não ao não
não e não porquê não
não ninguém pode dizer
que o não da mulher
é sim bem assim
tal qual pretendem
patriarcas de plantão
não podem não
pois lá no fundo eles sabem
que um não será sempre não
por princípio e vocação
e que um bem dito não
não requer explicação
se é que me entendem
os que vivem na ilusão
dos tempos que lá se vão
quando o povo era refém
da pouca legislação
que dava ensejo também
à angústia da exclusão
aos guetos eu digo não
pois não aceito esse não.


Publ. in Antologia “Eu digo não ao não”, Lisboa:Lua de Marfim Editora, 2012.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Publicação Internacional



Será hoje, em Lisboa, o lançamento dessa interessante Antologia da Lua de Marfim Editora, na qual trinta e nove escritores expõem em prosa ou verso, suas visões sobre o intrigante tema "Eu digo não ao não". Tenho o prazer de participar com um trabalho poético.























quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Nove haicais

Nove haicais

A rede segura
requer linha forte
não linha dura.

xxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Às vezes somos
outras não somos
loucura em assomos.

Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Ação na inação
quintessência do
agir consciente.

Xxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Eu e você formamos
nós às vezes cegos
ou górdios.

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Idólatras do Bezerro
luta ferrenha
por medalhas.

Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Lua Terra Astros
a girar loucamente
no espaço.

Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Mantras
personificados a se
repetir “ad eternum”.

Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Toda amizade pede
reciprocidade
no trato.

Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Verso sobre o
Uno aqui e agora
Universo.

Publ. também em m/facebook.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Navegando

É por meio das impressões captadas pelos sentidos e levadas à região sensória do cérebro, que os seres humanos têm seus primeiros contatos com o mundo. São as sensações. Subjetivadas, essas percepções se transformam em sentimentos. Agitados ou estimulados inesperadamente, os sentimentos entram no campo das emoções.
Assim, prazerosos ou dolorosos, percepções, sentimentos e emoções vão se instalando em nosso cotidiano, embora nem sempre os saibamos distinguir.
As sensações, que compartilhamos com nossos irmãos irracionais, são inevitáveis e necessárias à própria sobrevivência. Já, os sentimentos, como contraponto à frieza da razão, ou seja, quando equilibrados, nos humanizam.
O problema (que nem sempre detectamos) surge quando irrompe a emoção, antecâmara da paixão. Ambas são intensas e dominadoras. Sua diferença está no grau de intensidade e duração.
Infelizmente, alguns dentre nós são reativos a qualquer estímulo emocional, especialmente os que abalam a auto-imagem que criaram, acabando por transformar sentimentos normais em arroubos de paixão que os fazem perder a razão. São passionais.
Alguns dos sentimentos que nos dignificam como seres humanos, como honra, amizade e lealdade, não convivem com paixões egocêntricas como a ambição e a inveja, pela grande porção de irracionalidade que estas abraçam.
Honra e amizade, de alguma forma, pressupõem lealdade. O ambicioso e o invejoso, mais cedo ou mais tarde, acabam por atropelar os sentimentos dignificantes, muito especialmente a lealdade.
Quando nossos desejos são frustrados, se não tivermos a maturidade emocional necessária para manter o equilíbrio, corremos o risco de abrir nossas portas interiores à invasão de paixões, algumas das quais são conhecidas no ocidente como “pecados capitais”, por seu potencial destruidor.
Desestabilizados, perdemos o rumo, comportando-nos como se estivéssemos navegando sem bússola, ao sabor dos ventos e das marés, em mar infestado por tubarões. O perigo é nos acostarmos em ilha deserta, ou pior, habitada por canibais, que nos receberão com a alegria própria de quem atrai a caça e a engorda para o abate no momento propício.

sc/

domingo, 29 de janeiro de 2012

Sociopatia

Um pé atrás
um dedo em riste
cenho carregado
coisa triste
um sociopata
mal-amado.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Orquestra

O quintal arborizado
do sobradão logo ao lado
hospeda u’a maviosa
orquestra passarinheira
que se achega pressurosa
a aurora a celebrar
mas a noite dolorosa
por fantasmas assombrada
não me permitiu saudar
a alvorada alvissareira
e voltei a dormitar
fantasmas a exorcizar.

Publ. hoje em m/facebook

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Palavras ao vento

PALAVRAS AO VENTO

Palavras ao vento
se perdem
em meandros de
egos cegos
labirintos
de incompreensão

Mais apropriado
suponho então
seguir instintos
forçá-las a soprar
noutra direção
quiçá dar de ombros

Buscar outra fonte
em desvio de jornada
escrevinhar ao léu
ao sabor da maré
navegar mar a dentro
esconder-se nas brumas
sumir no horizonte.

Publ. em m/facebook em 16/01/2012

Natal Concreto

Da noite especial
nasce um poema
não sei se para o bem
não sei se para o mal
do dia a dia o espelho
se reflete no Natal
Natal concreto
com mãe, com filha,
cunhado e neto
agregado (in)discreto
que da festa compartilha
noras genros e família
tem chato gato e sapato
tem parente lá do mato
muito doce e salgadinho
sempre chega mais um prato
tem mágoa tem desafeto
tem presente predileto
ganho do amigo secreto
Natal completo
ambivale o sentimento
pois na festa tão feliz
há tormentos bem sutis
mas também há jóia rara
ninguém sabe que é tão cara
amigo oculto tão culto
que tem nome que é de vulto
velho pobre moça nobre
e também algum esnobe
a mamãe que tudo encobre
de repente desaprova
o olhar irreverente
sorriso dissimulado
beijo abraço
pranto aflora
gente alegre comemora
as crianças querem colo
o amor não tem idade
saudade felicidade
‘stá na hora de ir embora
logo logo há bota fora
do casal mais abonado
do namorado atrasado
do velhinho dependente
curadora a tiracolo
fila andando
atrás vem gente
seja parente serpente
seja um novo bem-amado.

Publ. em m/facebook em 26/12/2011.