quinta-feira, 29 de março de 2012

Impróprio

Talvez
ela jamais
venha a ter
uma opinião
própria
ensinaram-lhe
que não é
próprio.

sexta-feira, 16 de março de 2012

E lá vamos nós, uma vez mais, a meio caminho entre o carnaval e a Páscoa. Águas de março a fechar um verão escaldante, porém, atípico, a brincar de esconde-esconde com a brisa do outono. Formas poéticas de falar das linhas cinzentas que entremeiam os ciclos da vida.
De uma vida paradoxal, que nos leva da alienada euforia a uma reflexão que tem como ápice o renascimento do divino em nós, simbolismo da Páscoa. Comemorar é (ou deveria ser) “lembrar com” as outras pessoas, um agir adequado à significação daquilo que se está celebrando, melhor dizendo, agir (também) com o coração.
O fato é que, da serpentina ao ovo de chocolate, nossas emoções são sobrepostas pelos interesses de Mercado, pelas imposições da Mídia e pelo nosso ego, instância relacional que não consegue equacionar sequer as questões do cotidiano.
Assim, acabamos por banalizar os sérios problemas que se fazem sentir sob a forma de preconceito e violência, especialmente a domiciliar, ou seja, “no meio do caminho tinha uma pedra”, mas não nos permitimos tirar nossas máscaras para que possamos vê-la e apreendê-la em seu verdadeiro significado.
Enquanto divago por essas questões, minha conselheira Dª Nena é mais objetiva: - “Você está querendo falar das comemorações do “Dia Internacional da Mulher”, não é?”. – “Não exatamente, minha cara. Estou é tentando dizer que essas datas comemorativas não farão sentido se não estivermos atentos ao que se passa em nosso entorno, seja nas celebrações de alegria, seja naquelas que visam a ressacralização da vida.

*Publ. no Jornal Gazeta do Ipiranga (Coluna da Suzete), em 09/03/2012, Caderno D, pág. 6.

sábado, 10 de março de 2012

Caminito

Para minha mãe, falecida ontem


“Na tampa
a pomba
da paz
simbolizava
a libertação
das carências
e medos que
a orfandade
precoce
legara àqueles
olhos de gata
assustada
a despertar
sentimentos
ambivalentes
agora cerrados
para sempre.

Aberto o ataúde
a transfiguração
sua última magia
arrancou
o pranto convulsivo
que eu não sabia
escondidinho
no âmago
de meu ser
ao som
de Caminito
ricamente
orquestrado
Shiva
a arrebatou
para o eterno
bailado
Cósmico...”

Sc/