sexta-feira, 13 de abril de 2012

DANÇANDO NA CHUVA

Semana passada, numa dessas tempestades de fim de tarde, embora eu estivesse a poucos metros de casa, fiquei um bom tempo esperando a chuva amainar para, simplesmente, atravessar a rua.
Pouco mais tarde, ao ligar o computador, deparei com o vídeo da famosa cena de Gene Kelly em “Cantando na Chuva”, que alguém postara em meu facebook e que me fez lembrar de uma deliciosa experiência da adolescência em que, voltando com meus pais de um passeio ao Forte de Itanhaém, fomos surpreendidos por uma chuva torrencial.
Meu pai, que havia assistido ao filme e ficara encantado com a performance do ator, sugeriu, sonhador incorrigível que era, que não ficássemos aguardando a tempestade passar, mas, ao contrário, fizéssemos a pé o percurso de volta ao centro da cidade: “Que tal irmos cantando e dançando na chuva?”.
Fascinadas com a ideia, eu e minha irmã disparamos na frente, com medo de que meu pai sucumbisse aos protestos de minha mãe, que de tão preocupada se esquecera de que ninguém nos conhecia na cidade: “Não tem cabimento! O que as pessoas irão pensar?”.
Voltando ao facebook, descubro que outra pessoa sugerira à reflexão a seguinte frase do filósofo Nietzche: “E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música”.
“Haja sincronicidade!”, filosofei com meus botões. Pois bem, a principal lição que, extraio dessas “coincidências significativas” e que gostaria de compartilhar com os leitores e leitoras, é a de que por termos sido tão condicionados(as) pela cultura a nos preocuparmos “com o que os outros pensam” (se é que pensam), não percebemos que nossa liberdade é tolhida exatamente pelas pessoas que não conseguem “escutar a música” que alimenta nossos sonhos.
Afinal, no fundo, no fundo, quem não gostaria de sair dançando e cantando na chuva?

Publ. hoje na “Coluna da Suzete” do Jornal Gazeta do Ipiranga, pág. D-4.

2 comentários:

Anônimo disse...

Querida, como sempre, você retira de um fato comum, a chuva, e o tomar chuva ou não, e nos educa sobre a perda de nossa vulnerabilidade... E ainda por esta preocupação contínua sobre o que o outro pensa, e como explica, se pensa...
Obrigada. Beijinhos. Eugenia

Suzete Carvalho disse...

Eugênia querida. Acredito que são exatamente os fatos comuns do dia-a-dia que nos oferecem a oportunidade de aprender sobre nós mesm@s, nossas dificuldades e potencialidades em relação ao conviver. Você, generosamente, sempre me incentivando a continuar...
Grata, sempre. Abraços.