sexta-feira, 29 de junho de 2012

EU DIGO NÃO AO NÃO




Nasci vivi e cresci

sob o signo do não

dura palavra de ordem

dos adultos de então

hoje semeio desordem

nas asas de um outro não

pois muito muito sofri

com a discriminação

e pois digo não ao não

não e não porquê não

não ninguém pode dizer

que o não da mulher

é sim bem assim

tal qual pretendem

patriarcas de plantão

não podem não

pois lá no fundo eles sabem

que um não será sempre não

por princípio e vocação

e que um bem dito não

não requer explicação

se é que me entendem

os que vivem na ilusão

dos tempos que lá se vão

quando o povo era refém

da pouca legislação

que dava ensejo também

à angústia da exclusão

aos guetos eu digo não

pois não aceito esse não.



Publ. in Antologia “Eu digo não ao não”. Póvoa de Sta.Iria, Portugal: Lua de Marfim Editora, 2012, pág. 73.











quarta-feira, 13 de junho de 2012

domingo, 10 de junho de 2012

”A Casa parece lotada”, disse a visitante. - “No inverno sempre há vagas, porque muitos se vão”. Ingênua, perguntou: “A família vem buscá-los”?”. – “Não, querida, os deuses”, respondeu a diretora da Casa de Repouso.


Da série “Micro contos Macrorrealistas”

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Wu Wei




Tento encontrar-me

nos quintilhões

de átomos

que se atraem

a moldar

minha matéria

e me perco

nos incomensuráveis

vazios de seus

interstícios.

Ipiranga via Bacabal e Rio de Janeiro




Instada pelas provocações de Sonique Mota, uma linda e culta bacabalense, resolvi escrever sobre dois assuntos que dizem muito aos ipiranguistas pelas excelentes opções que a região oferece: cultura e gastronomia. Antes de entrar no tema propriamente dito, é preciso dizer que Bacabal é uma bela cidade maranhense com pouco mais de cem mil habitantes e que descobri Monique por suas inteligentes postagens nas redes sociais.

Pois bem, vou tentar refazer o caminho que me levou a enveredar aqui por esse tema. Dia desses, ao publicar uma crônica em meu Mural no facebook, recebi a “visita” de Sonia Saliba, querida amiga e “Chef” do inefável “Seo Virgulino”, onde nos sentimos como se estivéssemos em nossa própria casa, tal a disponibilidade de Sonia. Aproveitei a oportunidade para homenageá-la, respondendo: “Este é o único prato que sei cozinhar. Quisera que fosse tão gostoso como os que você nos oferece”.

Assim é que, entre vários comentários “deliciosos” à minha crônica, o bato-papo acabou se transformando numa boa “festa gastronômica” onde as letras eram o prato principal, levando Heloísa Campos Freire, uma carioca que também tenho a felicidade de ter como amiga virtual, a lembrar do excelente filme norueguês “A festa de Babette”.

É assim que vejo nosso bairro, como uma grande festa, com suas memoráveis comemorações, seja nos Jardins do Parque da Independência, com destaque para as atividades lítero-musicais do Museu, seja em seus vários clubes e associações, com destaque para o centenário Vovô da Colina, do qual tive a honra de ser Diretora Cultural, ainda que por breve espaço de tempo.

Quanto à gastronomia, faço minhas as palavras da redação da Revista do Ypiranga, na edição de janeiro/fevereiro de 2011, para a qual, aliás, contribui com a crônica “Ora, minha Senhora”: “A variedade de estilos e serviços é enorme e há programas para todos os gostos: para quem gosta de sair em família, para quem prefere curtir o Happy Hour com a galera e também para os casais românticos”.



Pub. no Jornal Gazeta do Ipiranga, Coluna da Suzete, Cad. C-8, em 08/06/2012

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Pensar sobre as questões abrangentes da experiência humana tentando apreender o sentido da vida, se é que o há, tem sido a minha (pré)-ocupação principal desde sempre, mas, muito, muito especialmente nestes tempos em que “reciclar” é a palavra de ordem.


Reciclar arcaicos condicionamentos culturais, sempre prenhes de preconceitos – que entendo como projeção do medo de encarar o diferente em nós mesm@s -, reciclar as velhas formas de relacionamento com-o-outro-seja-quem-for, o que transcende o nosso entorno e inclusive o chamado “meio-ambiente”, para abarcar a própria consciência.

Pensar e escrevinhar a respeito, analisando vivências a respeito de temas eleitos dentre as leituras dos (nem sempre tão) clássicos e as observações de um cotidiano – ou uma sociedade, se preferirem – em acelerada mutação, isenta de pré-julgamentos, tem sido meu leitmotiv para encarar a septuagésima década nesta estrada sem retorno, ou seja, para (re)encarar a condição humana e, de conseguinte, a minha própria.

E eis senão quando, descubro que tantas e tantas vezes me perco de mim mesma ou daquilo a que me propus, permitindo que meu ego se rebele ao constatar que enfurnei escritos e escriturações, sejam meras anotações, sejam livros mais que “prontos e acabados”, deixando escapar a oportunidade de compartilhar pensamentos eventualmente inovadores, se é que os tenho, se é que algo se inova neste sempiterno caminhar.

Assim é que, dia desses, navegando pelas redes sociais, deparei com um link da poetisa pernambucana Lilly Falcão, que remetia a um texto da antenada escritora Martha Medeiros, cujo mote andava a me assediar há tempos, tendo até sido objeto de anotações que eu relegara, como em tantos outros casos, para futuras publicações.

A simples leitura do título - “Melhor coisa que nunca lhe aconteceu” – teve o condão de me fazer lembrar que havia anotado vários “não-acontecimentos felizes”, um dos quais, pelos importantes reflexos que teve em minha vida, me sinto instada a compartilhar.

Em síntese, já que me estendi muito nos preâmbulos, trata-se do seguinte. Quando minha filha nasceu, eu estava terminando de cursar a Faculdade de Direito, cujo diploma me daria acesso a uma função de relevância no Tribunal em que eu exercia, então, um cargo público. Por algum motivo insondável, a pessoa com quem eu contava para me ajudar a cuidar dela – e que morava conosco há muitos anos – (aqui, minha neta está sugerindo que eu escreva “se periquitou”, mas não o farei porque, como ela mesma concluiu: “Não ficaria bem, né, vó?”) – simplesmente se foi sem explicações ...

A questão, na verdade, é bem mais complexa do que estas vãs palavras podem demonstrar, mas uma coisa é certa: jamais me arrependi de não haver vestido a máscara de Executiva Pública que me era oferecida numa bandeja de prata. Abrir mão das pompas e reverências a um senso comum castrador de ideias teve o condão de me apresentar à liberdade de ser.

sábado, 2 de junho de 2012

Sinapses




Ouço as

ideias

sondando

e rondando

prontas a

magnetizar

as mentes

antenadas.

Captá-las

é questão

de frequência.