segunda-feira, 4 de junho de 2012

Pensar sobre as questões abrangentes da experiência humana tentando apreender o sentido da vida, se é que o há, tem sido a minha (pré)-ocupação principal desde sempre, mas, muito, muito especialmente nestes tempos em que “reciclar” é a palavra de ordem.


Reciclar arcaicos condicionamentos culturais, sempre prenhes de preconceitos – que entendo como projeção do medo de encarar o diferente em nós mesm@s -, reciclar as velhas formas de relacionamento com-o-outro-seja-quem-for, o que transcende o nosso entorno e inclusive o chamado “meio-ambiente”, para abarcar a própria consciência.

Pensar e escrevinhar a respeito, analisando vivências a respeito de temas eleitos dentre as leituras dos (nem sempre tão) clássicos e as observações de um cotidiano – ou uma sociedade, se preferirem – em acelerada mutação, isenta de pré-julgamentos, tem sido meu leitmotiv para encarar a septuagésima década nesta estrada sem retorno, ou seja, para (re)encarar a condição humana e, de conseguinte, a minha própria.

E eis senão quando, descubro que tantas e tantas vezes me perco de mim mesma ou daquilo a que me propus, permitindo que meu ego se rebele ao constatar que enfurnei escritos e escriturações, sejam meras anotações, sejam livros mais que “prontos e acabados”, deixando escapar a oportunidade de compartilhar pensamentos eventualmente inovadores, se é que os tenho, se é que algo se inova neste sempiterno caminhar.

Assim é que, dia desses, navegando pelas redes sociais, deparei com um link da poetisa pernambucana Lilly Falcão, que remetia a um texto da antenada escritora Martha Medeiros, cujo mote andava a me assediar há tempos, tendo até sido objeto de anotações que eu relegara, como em tantos outros casos, para futuras publicações.

A simples leitura do título - “Melhor coisa que nunca lhe aconteceu” – teve o condão de me fazer lembrar que havia anotado vários “não-acontecimentos felizes”, um dos quais, pelos importantes reflexos que teve em minha vida, me sinto instada a compartilhar.

Em síntese, já que me estendi muito nos preâmbulos, trata-se do seguinte. Quando minha filha nasceu, eu estava terminando de cursar a Faculdade de Direito, cujo diploma me daria acesso a uma função de relevância no Tribunal em que eu exercia, então, um cargo público. Por algum motivo insondável, a pessoa com quem eu contava para me ajudar a cuidar dela – e que morava conosco há muitos anos – (aqui, minha neta está sugerindo que eu escreva “se periquitou”, mas não o farei porque, como ela mesma concluiu: “Não ficaria bem, né, vó?”) – simplesmente se foi sem explicações ...

A questão, na verdade, é bem mais complexa do que estas vãs palavras podem demonstrar, mas uma coisa é certa: jamais me arrependi de não haver vestido a máscara de Executiva Pública que me era oferecida numa bandeja de prata. Abrir mão das pompas e reverências a um senso comum castrador de ideias teve o condão de me apresentar à liberdade de ser.

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