sábado, 11 de agosto de 2012

COLUNA DA SUZETE


Santa Paciência



Paciência não é o meu forte. Estava exatamente pensando nisso, dia desses, quando deparei na rede social com uma bem-humorada metáfora que recomendava o uso de um hipotético remédio para o problema da impaciência, o “Tolerato de Paciência, 500 mg, uso oral”, que me inspirou a escolher o tema para a crônica deste agosto que, espero, já tenha superado a aura de “mês de cachorro louco”, como diziam meus avós.

Me ocorre ainda lembrar o dito popular que afirma que “de médico e de louco, todos temos um pouco”, daí porque estamos sempre a diagnosticar problemas e prescrever soluções para as loucuras da sociedade e, por que não dizer, às nossas próprias insanidades. Haja paciência!

Pois bem, comentando que estava interessada no assunto, alguém me sugeriu assistir ao vídeo “Terça Insana, Santa Paciência”, uma apresentação irreverente e ensandecida da paciência, ali personificada em ambígua santidade. “Vade retro”, pensei, “paciência é uma virtude a ser exercitada (ao menos assim me foi ensinado) e somente uma aliada da Santa Ignorância poderia dizer tanta blasfêmia (embora eu deva confessar que dei algumas risadas).

Nesta altura da crônica, minha conselheira Dª Nena resmunga: “Você está me deixando impaciente!”. Então, trato de ir direto à pergunta que não quer calar: Afinal, será que há alguém tão virtuoso que não perca a paciência no trânsito caótico da hora do rush, numa daquelas intermináveis filas de banco, de ônibus, de um Pronto Socorro Público ou no empurra-empurra de uma estação de metrô?

O fato é que, sabemos todos, filas de espera não são o único problema a requerer nossa mais santa paciência, muito ao contrário. Pessoas e situações do cotidiano conseguem, literalmente, nos “tirar do sério”, testando nossa capacidade de tolerar as mazelas políticas, nas quais se incluem todas as questões sociais, das familiares às associativas e até mesmo, seja dito a bem da verdade, as religiosas.

Enfim, a meu ver, virtudes como a paciência devem, sim, ser praticadas, desde que seja preservado nosso direito à indignação diante de atitudes presunçosas, antiéticas e discriminatórias que se propagam na coletividade dificultando o conviver.



Publ. no Jornal “Gazeta do Ipiranga”, 10/12/2012, Caderno D-8.

2 comentários:

Anônimo disse...

"Su", entrei para matar as saudades e não resisti, precisando comentar. Lembrei-me de uma letra do Lenine (a canção chama-se "Paciência"): "Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma, até quando o corpo pede um pouco mais de alma, a vida não para. Enquanto o tempo acelera e pede pressa, eu me recuso, faço hora,vou na valsa, a vida é tão rara.Enquanto todo mundo espera a cura do mal e a loucura finge que isso tudo é normal, eu finjo ter paciência..." É bem por aí, fingimos ter paciência neste mundo louco e repleto de razões para indignação. Beijos, Patrícia

Suzete Carvalho disse...

Olá, Patrícia querida. Que bom que você passou por aqui. Não preciso dizer que seus comentários sempre enriquecem meus escritos e minha vida... "Neste mundo louco e repleto de razões para indignação" há também motivos de alegria, como ter uma amiga tão especial. Abraço apertadinho.