sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

“A líder (hoje talvez a chamassem bispa) era muito severa. Durante as orações não era permitido atender a chamados/portas/campainhas/telefones. “O Senhor vem em primeiro lugar”, explicara às amigas fiéis, que se reuniam semanalmente em sua casa. Naquela tarde, o telefone soou insistentemente no outro cômodo, mas a senhora lançou um olhar de advertência à plateia (sim, ela necessitava plateias) e deu início ao Cântico de Aleluia, com voz estridente, para abafar o ‘ruído’. Ao término da reunião, deram Graças à misericórdia divina e passaram à sala contígua, para um chazinho com fofocas, digo, com biscoitos. A viúva (sim, a líder era viúva) ligou o aparelho de som, colocou uma música de louvação e, discretamente, acessou a secretária eletrônica do telefone, de onde a voz cada vez mais fraca de sua única filha se fez ouvir: “Mãããe, socorro, acho que estou tendo um in.. far.. tooo”... Hoje, toda vez que houve o som da campainha ou do telefone da Casa de Saúde onde vive há duas décadas, sem que jamais alguém a tenha visitado, a velha senhora põe-se a gritar: “É ela, é ela!”.”




sc/07/12/2012. Da série “microcontos macrorrealistas”.

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