quinta-feira, 28 de março de 2013


P a i x ã o
 
“Te procurei 

no mais profundo 

do meu ser 

no alto dos Céus 

no fundo 

dos infernos 

tramei façanhas 

rasguei véus 

escalei muros 

e montanhas

remexi monturos 

clamei à razão 

mas na avidez da busca 

em que os sons 

se fazem roucos 

 e tudo se ofusca 

custei a perceber 

os tons mais puros 

dos sussurros Teus 

suaves e ternos

tão próximos aos meus 

ouvidos moucos 

descalibrados 

pelos trancos duros 

da frenética Paixão.”

 

Sc/28/03/2013 (Quinta-feira da Paixão)

sábado, 9 de março de 2013


COLUNA DA SUZETE

 

QUEBRA-CABEÇAS

 

                                                                               

Às vezes, em minhas reflexões, imagino a vida como um imenso quebra-cabeças que, por algum motivo incompreensível, somos levados a montar sem que sequer tenhamos um modelo. Alguém, cujas intenções desconhecemos, nos teria remetido uma enorme caixa com os dizeres “Jogo da Vida”.  Dentro, misturam-se inúmeras peças que identificamos como partes de um jogo de armar que imediatamente nos fascina pelo colorido, pelo prazer lúdico e, principalmente, pelo desafio que todo enigma proporciona.

 

Despejamos avidamente o material sobre um tablado, que servirá de pano de fundo para a nossa “construção” e nos deslumbramos com as sutis diferenças de tonalidade e formato que apresentam, com a incalculável quantidade de peças, com o tamanho de nossa própria curiosidade. Excitados com a novidade, enchemos as mãos aleatoriamente e atiramos as peças para o alto, na esperança de que, ao caírem, a sorte nos ofereça alguma pista para o início da empreitada.  Cedo, porém, nos damos conta de que somente com uma boa dose de paciência, perseverança e bom senso. chegaremos a lograr algum êxito.

 

Paulatinamente, nos dispomos a ir separando as peças que formarão a moldura do trabalho e ordenando-as ao redor do tablado, sobre o qual passamos a nos debruçar diariamente, embora nem sempre com a mesma disposição de espírito. Vez por outra, questionamos o motivo de havermos nos lançado a essa tarefa que nos parece inglória, sem sentido, inútil mesmo.  Diante das progressivas dificuldades começamos a vacilar, fraquejamos, pensamos em desistir.

 

Alguns, mais afoitos, chegam a destruir as partes já organizadas, por lhes faltar a visão do conjunto. A seguir, num momento de lucidez, lamentam o próprio descontrole...e recomeçam. As primeiras recompensas da dedicação surgem no vislumbre de pequenos quadros, que vão surgindo aqui e ali, não obstante a existência de vazios entre eles – que alguns veem como clarões e outros como buracos negros, dependendo da cor do tatame (pano de fundo) que utilizaram.

 

Com o tempo, embora cansados, às vezes exaustos, quase todos conseguimos levar a bom termo a tarefa que nos impusemos ou – e jamais saberemos – que nos foi sutilmente imposta pelo nosso enigmático doador. Realizada a missão, alguns têm forças para erguer-se do tablado – em que pesem as dores nas juntas pelas desconfortáveis posturas assumidas – e conseguem admirar o conjunto de sua obra.  São os privilegiados.

 

Outros, infelizmente, são excluídos do prazer final – como sempre o foram – e simplesmente adormecem no duro chão sobre o qual permaneceram ajoelhados durante tanto tempo, sem terem oportunidade de saber o que – se é que – construíram. De qualquer maneira, todos acabam por dormir o sono dos justos.

 

 

Publ. no Jornal “Gazeta do Ipiranga, edição de 08/03/2013, pág. A-7.