COLUNA DA SUZETE
QUEBRA-CABEÇAS
Às vezes, em
minhas reflexões, imagino a vida como um imenso quebra-cabeças que, por algum
motivo incompreensível, somos levados a montar sem que sequer tenhamos um
modelo. Alguém, cujas intenções desconhecemos, nos teria remetido uma enorme
caixa com os dizeres “Jogo da Vida”.
Dentro, misturam-se inúmeras peças que identificamos como partes de um
jogo de armar que imediatamente nos fascina pelo colorido, pelo prazer lúdico
e, principalmente, pelo desafio que todo enigma proporciona.
Despejamos
avidamente o material sobre um tablado, que servirá de pano de fundo para a
nossa “construção” e nos deslumbramos com as sutis diferenças de tonalidade e
formato que apresentam, com a incalculável quantidade de peças, com o tamanho
de nossa própria curiosidade. Excitados com a novidade, enchemos as mãos
aleatoriamente e atiramos as peças para o alto, na esperança de que, ao caírem,
a sorte nos ofereça alguma pista para o início da empreitada. Cedo, porém, nos damos conta de que somente com
uma boa dose de paciência, perseverança e bom senso. chegaremos a lograr algum
êxito.
Paulatinamente, nos dispomos a ir
separando as peças que formarão a moldura do trabalho e ordenando-as ao redor
do tablado, sobre o qual passamos a nos debruçar diariamente, embora nem sempre
com a mesma disposição de espírito. Vez por outra, questionamos o motivo de
havermos nos lançado a essa tarefa que nos parece inglória, sem sentido, inútil
mesmo. Diante das progressivas
dificuldades começamos a vacilar, fraquejamos, pensamos em desistir.
Alguns, mais afoitos, chegam a
destruir as partes já organizadas, por lhes faltar a visão do conjunto. A
seguir, num momento de lucidez, lamentam o próprio descontrole...e recomeçam.
As primeiras recompensas da dedicação surgem no vislumbre de pequenos quadros,
que vão surgindo aqui e ali, não obstante a existência de vazios entre eles –
que alguns veem como clarões e outros como buracos negros, dependendo da cor do
tatame (pano de fundo) que utilizaram.
Com o tempo, embora cansados, às
vezes exaustos, quase todos conseguimos levar a bom termo a tarefa que nos
impusemos ou – e jamais saberemos – que nos foi sutilmente imposta pelo nosso
enigmático doador. Realizada a missão, alguns têm forças para erguer-se do
tablado – em que pesem as dores nas juntas pelas desconfortáveis posturas
assumidas – e conseguem admirar o conjunto de sua obra. São os privilegiados.
Outros, infelizmente, são excluídos
do prazer final – como sempre o foram – e simplesmente adormecem no duro chão
sobre o qual permaneceram ajoelhados durante tanto tempo, sem terem
oportunidade de saber o que – se é que – construíram. De qualquer maneira,
todos acabam por dormir o sono dos justos.
Publ. no Jornal “Gazeta do
Ipiranga, edição de 08/03/2013, pág. A-7.