sexta-feira, 31 de maio de 2013


Minhas reflexões no tuiter (@carvalhosuzete), neste mês de maio do Ano da Graça de 2013:
 
1º Maio – Rede segura requer linha forte, não linha dura. 
03/05 – A criatividade nos introduz em uma consciência atemporal.  Dura é a volta à realidade. 

05/05 – Redes sociais: nova Ágora em que a mulher também tem voz.
09/05 – Indiferença social é o caldo de cultura que realimenta as exclusões.
15/05 – Não basta ser Verde, há que respeitar todas as cores. 
15/05 – Por uma Cultura de Paz, num mundo colorido e diversificado.
19/05 – A quem aproveitam esses boatos que levam a atos de barbárie?
21/05 – Provérbios e piadas são algumas das formas de desconstrução do feminino que perpetuam a discriminação.
23/05 – Eu e você(s) formamos nós, às vezes cegos, às vezes górdios.  Que tal transformá-los em laços?
24/05 – Tragicômico o espetáculo da dança dos egos.
25/05 – Quem tem o que dizer, pode falar baixo que tod@s ouvirão.
31/05 -  História sem Memória é cultura manipulada.

quinta-feira, 23 de maio de 2013


 

 

XEQUE-MATE

 

                                                                      Suzete Carvalho*

 

Como toda escritora que se preza, procuro manter olhos e ouvidos bem abertos e, na medida do possível, a boca fechada, ainda que não me rodeiem mosquitos.  A propósito, só pra não perder o mote, é bom lembrar que nós, ypiranguistas, teremos que redobrar os cuidados, pois a dengue está aí a nos rondar, pronta para o ataque.  Mosquitos à parte, o fato é que, eventualmente, sou brindada com alguns insights mais (do meu ponto de vista) ou menos (do ponto de vista da crítica de plantão) interessantes.

 

Consideradas as palavras acima como mero preâmbulo, o que quero dizer é que a(o) observador(a) mais atento, toda reunião de pessoas com objetivos “pretensamente” comuns, seja em encontros de trabalho, de lazer ou até mesmo familiares, acaba se revelando como um microcosmo que reflete as mazelas – e as alegrias, porque não dizer - da sociedade como um todo.

 

Assim, por conta da fidelidade a compromissos sócio-familiares - e quem não os tem -, tenho participado necessariamente de discussões, debates ou diálogos (como prefiro chamar esses encontros) que me permitem filosofar, inclusive nas redes sociais, sobre nossos papéis nos diferentes contextos relacionais e as máscaras que utilizamos para desempenhá-los. O tema me é tão caro, que já há mais de dez anos publiquei por aqui – Rev.nº 116, mai/jun/2002 – uma crônica intitulada “Máscaras de Si”.

 

Peões e peoas despreparados que somos neste descomunal jogo de xadrez em que transformamos a vida, movemos nossos egos (ou por eles somos movidos) em busca do xeque-mate – meta suprema de todo jogador -, medindo “forças” com o pretenso adversário, sem nos darmos conta de que o outro é apenas um(a) parceiro(a) e de que o objetivo do jogo é o aprimoramento de nossas relações pessoais e comunitárias.

 

Abrir caminho para a vitória “comendo” peças que possam tornar-se empecilhos, tocaiar o inimigo, excluí-lo sempre que possível, nos causam verdadeiro frenesi nessa ânsia desenfreada pela dominação.  Humilhar o Rei – aquele em quem projetamos poderes imaginários -, subjugando-o e o fazendo dobrar-se ante todos é o supremo delírio a inflar nossos egos.

 

 

*A autora é pós-graduada em Jusfilosofia e Mestre em Direito do Trabalho pela USP. Ex-Diretora Cultural do Cay, é também patrona da Biblioteca-Centro de Estudos e seus demais escritos podem ser acessados no Facebook e no blog www.novaeleusis.blogspot.com .   

 

Publ. in Revista do Ypiranga, mar/abril/2013, pág. 13.     

 

 

sexta-feira, 10 de maio de 2013


COLUNA DA SUZETE

                                                               Noêmia                                                                                     

 

Sempre dei muita importância aos sonhos que, se bem analisados, em geral apontam um caminho para entendermos alguma questão que está a pedir nossa atenção, já que acredito que o subconsciente não se faz de rogado se a ele entregarmos humildemente nossas preocupações.   Sabe-se inclusive que em algumas culturas xamânicas há uma espécie de ritual matutino em que os membros da família se dedicam a ouvir e trocar ideias sobre seus sonhos, antes de se entregarem às ocupações do dia.

Pois bem, noite dessas sonhei com Noêmia e, ao acordar, lembrei que havia deitado pensando que o prazo para escrever a crônica de Maio estava se esgotando.  Maio, mês cujas principais celebrações – Dia do Trabalhador, das Mães, da Libertação da Escravatura - se bem consideradas, nos remetem a um tema que transcende a própria sobrevivência: o direito à igualdade de oportunidades e de dignidade no trabalho, no lar, na sociedade.

Tentando interpretar o sonho, no qual Noêmia tentava agredir um juiz, lembrei de como a conheci, na década de 70. Servidora Pública durante o dia, estudando à noite, dona de casa e mãe, eu estava à beira de um estresse quando alguém recomendou que eu contratasse Noêmia: “Olha, dona, eu lavo, passo e cozinho o “triviá”, mas só “inzinjo” bife todo dia”.   Informei que sentia muito, mas não poderia contratá-la, porque carne vermelha não fazia parte de nosso cardápio. Para minha surpresa, ela respondeu: “Então tá bão, vai, eu aceito comer só o que vocês come...”.

Muito sofrida e sempre “com um pé atrás”, Noêmia era o que se pode chamar uma “figura”, mas logo se adaptou ao ritmo da casa. Antes de contar como meu sonho entrou no contexto desta crônica, cabe lembrar que, àquela época, a lei não concedia o direito ao recebimento do 13º salário aos servidores públicos (e eu o era) e às empregadas domésticas. Tentando compensar a exclusão – que eu também sentia na própria pele – na antevéspera de Natal (menos de seis meses após havê-la contratado) entreguei a Noêmia, à guisa de abono, uma quantia correspondente à metade de seu salário.

Qual não foi minha surpresa quando ela, atirando com violência o maço de notas sobre a mesa, declarou: “Não preciso de esmola. Vou procurar é já meus direitos na Justiça”, e lá se foi pisando duro para o Tribunal do Trabalho (que, aliás, estava em recesso de fim de ano).  De qualquer forma alguém a informou de seu engano, pois, no dia seguinte, reapareceu simulando condescendência: “Tá bão, vai, desta vez vou aceitar aquele “meu” dinheiro e não se fala mais nisso!”.  Embora penalizada, entreguei o dinheiro, acrescido do valor do aviso prévio e das verbas rescisórias, pois nunca prescindi de respeito e paz.

Enfim, quero crer que o sonho foi uma metáfora de meu sonho real que é ver, ainda que paulatinamente, que a cada ano, novas conquistas sociais vão sendo comemoradas.  Hoje, ao menos diante da lei, trabalhadores e trabalhadoras fazem jus aos mesmos direitos; ainda que a passos lentos, o índice de analfabetismo vem diminuindo; nem todas as mães que trabalham fora cumprem necessariamente uma tripla jornada, pois muitas já contam com companheiros mais conscientes; e o racismo – legado de uma cultura colonialista – já é criminalizado pela legislação, em que pesem os esforços em contrário daqueles a quem aproveita a ignorância humana.

Resta dizer que está também em nossas mãos, duzentos milhões de cidadãos e cidadãs brasileiras que somos, consolidar definitivamente os direitos democráticos tão arduamente conquistados. Bastaria que cada um(a) de nós fizesse a parte que lhe compete, elegendo conscientemente os nossos representantes sem nos deixar levar por pseudo moralistas ou por notícias falsas retransmitidas por ingênuos “laranjas” do conservadorismo;  dando um basta à violência doméstica – raiz da violência urbana; educando nossas crianças para a Paz; agindo com a ética que exigimos das outras pessoas e respeitando-as pelo simples fato de existirem e teríamos muito, muito, mais a comemorar.

 

Publ. no Jornal “Gazeta do Ipiranga”, 10/05/2013, Cad. A-2.

quarta-feira, 8 de maio de 2013


                                As Más Caras do Poder

 

                                                                                                                Suzete Carvalho* 

 

Dia desses, um reencontro ocasional me fez voltar no tempo e relembrar um fato que eu julgara completamente superado.  À noite, cansada e indisposta, mergulhei em sono profundo e não deu outra: sonhei com algumas pessoas que durante anos fizeram parte de meu rol de relacionamentos de trabalho.

No sonho, eu entrava por engano em um local um tanto deprimente e, surpresa, encontrava alguns ex-colegas e os abraçava saudosa.  A seguir, percebendo que uma autoridade de então, parecendo profundamente abatida, entrara no local e fora ignorada pelos demais, procurei ajudá-la massageando suas mãos e braços literalmente gelados, quando levei um grande susto: de um salto, a personagem retirou uma máscara de gesso – que eu confundira com palidez – e soltou estridente gargalhada.

Acordei sobressaltada e me pus a filosofar sobre a questão: “Será que se houvéssemos sido alertados(as) no devido tempo, teríamos reconhecido as “máscaras” (ou, se preferirem, “más caras do poder” como tive oportunidade de poetizar algures), que hoje retornam para nos assombrar?  Será que já não é (mais do que) tempo de darmos um basta à violência simbólica de que temos sido vítimas – nós, os servidores e servidoras públicas, entre outras minorias – desde sempre?”.

Pois bem, entrei para o serviço público no final dos anos 50 e, por favor, não façam as contas, mas levem em conta que à época sequer se falava em assédio moral (ou sexual); que as mulheres casadas eram consideradas semi-capazes pela Lei Civil; que o país era tido como subdesenvolvido, sem acesso à tecnologia de ponta; que a discriminação de todas as minorias era um questão banal e que, enfim, ninguém vive tantas décadas e tantas experiências incólume.

O que quero dizer é que cada causo vivenciado fica encapsulado na memória ou, se preferirem, atravessado na garganta, aguardando uma oportunidade de se oferecer à experiência do “outro” para que as dores e as alegrias nele contidas possam agregar significações à vida de quem se dignar a repensá-lo.  Assim, tomo a liberdade de transcrever aqui um “microconto macrorrealista” que publiquei há algum tempo e que recebeu, nas redes sociais, o seguinte comentário do arquivologista carioca Glauco Rocha: “O Arquivo morto como metáfora de (...) assédio covarde e intolerante de quem está no controle. Ainda hoje isso é uma realidade”.

“O chefe:Mariazinha, escreva tudo que você sabe sobre a última Jurisprudência do Tribunal.No mínimo, cinco páginas, entendeu?   O senhor tem pressa?   Pra ontem!   O colega (dias depois), portando uma importante Revista técnica: Mariazinha, você viu o excelente artigo do teu chefe?Foi você quem datilografou?    O Presidente do Tribunal: Parabéns, doutor.É de uma cabeça como a sua que estamos precisando.Vou nomeá-lo Chefe do meu Gabinete.       O Chefe (mais tarde): Não se preocupe, Mariazinha, não vou te abandonar.Você vai como minha secretária, a não ser que prefira ser lotada no Arquivo morto.”

Que o Dia do Trabalho tenha o condão de nos fazer repensar - a nós e à sociedade como um todo – sobre a urgência de uma ética abrangente de valorização e reconhecimento que inclua os trabalhadores e trabalhadoras do serviço público, cuja contribuição para a manutenção e desenvolvimento do Estado democrático é imprescindível.

 

A autora é associada da AFPESP, ex-professora universitária, ex-presidente de Associação de Classe e tem centenas de matérias publicadas. Pós-graduada em Filosofia do Direito e Direito do Trabalho (USP). http://novaeleusis.blogspot.com 
 
Publ. in "Folha do Servidor Público", maio/2013, pág. 17.
 

sexta-feira, 3 de maio de 2013


JUBILEU DE AMETISTA 

 

A Gazeta do Ipiranga, ao comemorar 55 anos de existência em 26 de abril, fez jus às homenagens a seu Jubileu de Ametista, pedra linda e preciosa sobre a qual consta que tem o condão de promover a paz, elevando os pensamentos entre os seres humanos.  Como colunista que procura honrar essa tradição, acredito oportuno fazer coro às mensagens publicadas na última edição. Parabéns e longa vida à Gazeta do Ipiranga!

                                                                                                                                                           Suzete Carvalho

 

Publ. hoje (03/05/2013) no Jornal “Gazeta do Ipiranga, pág. A-4.

                                                                                               
Minhas reflexões no tuiter em abril de 2013

@carvalhosuzete  :

1º/04 – “Somos os nossos deuses e os nossos demônios. Qualquer afirmação em contrário é especulação ou manipulação.”

02/04 – “Discriminar quem quer que seja ou é ignorância ou mau-caratismo.”

03/04 – “Oferecer a outra face é perpetuar a violência.  Dê um basta às agressões.”

04/04 -  “Paz na Terra a todos os seres e não tão somente “aos homens de boa vontade.” 

05/04 – “Preconceitos são metástases no corpo da sociedade.” 

06/04 -  “O caminho é único mas as trilhas são inúmeras.” 

07/04 – “O Poder tem propriedades alucinógenas, que podem levar a delírios megalomaníacos.”

08/04 – “O Poder Religioso é a mais alienada e alienante forma de poder”. 

09/04 -  “O conhecimento gera poder, mas a recíproca não é verdadeira”. 

10/04 – “Vemos o que queremos (ou podemos) ver e não a situação/pessoa/coisa em si”.

11/04 – “Temos que encarar nossa platéia interna e dialogar com o covarde, o invejoso, o violento e demais personagens que a compõem.” 

12/04 – “Politizar é polinizar os Direitos Humanos para que o mundo refloresça em Paz.” 

13/04 – Não vemos nosso lado sombra mas, somos equânimes, também não vemos nosso lado luz.” 

14/04 – “Algumas mentes obtusas não se dão conta de que são usadas como laranjas na disseminação de “notícias” desestabilizadoras”. 

15/04 – “Desmi(s)tificando os contos de fada: Pq as heroínas são sempre brancas, lindas e ansiosas por encontrar um príncipe encantado?” 

16/04 – “Como compreender o comportamento do outro se não conseguimos compreender nem mesmo o nosso?” 

17/04 – “Que povo é esse que tem medo de suas crianças e se curva ante ameaças patéticas atribuídas a um “Deus” preconceituoso e vingativo?”

18/04 – O verdadeiro diálogo pressupõe isenção de julgamento(s) “a priori”.

19/04 – Nunca tente dialogar com um(a) fanátic@.  A terminologia racional não faz parte de seu repertório. 

21/04 -  Vejo o passar dos posts na Rede como metáfora da vida real;  “Ainda que muito importantes, somos passantes, nada mais”.

23/04 – Quem inventou a expressão “melhor idade” ou não era velho ou já estava senil. 

24/04 – O buraco é sempre muito mais fundo do que nossa vã imaginação pode conceber. 

26/04 – Triste ver pequenas organizações a refletir as mazelas políticas que condenam...

27/04 – Que o ego não nos transforme em seres alienados.

29/04 – “De repente você percebe que tudo passou como um sonho que se esvai por entre as rendas dos lençóis.”