quinta-feira, 23 de maio de 2013


 

 

XEQUE-MATE

 

                                                                      Suzete Carvalho*

 

Como toda escritora que se preza, procuro manter olhos e ouvidos bem abertos e, na medida do possível, a boca fechada, ainda que não me rodeiem mosquitos.  A propósito, só pra não perder o mote, é bom lembrar que nós, ypiranguistas, teremos que redobrar os cuidados, pois a dengue está aí a nos rondar, pronta para o ataque.  Mosquitos à parte, o fato é que, eventualmente, sou brindada com alguns insights mais (do meu ponto de vista) ou menos (do ponto de vista da crítica de plantão) interessantes.

 

Consideradas as palavras acima como mero preâmbulo, o que quero dizer é que a(o) observador(a) mais atento, toda reunião de pessoas com objetivos “pretensamente” comuns, seja em encontros de trabalho, de lazer ou até mesmo familiares, acaba se revelando como um microcosmo que reflete as mazelas – e as alegrias, porque não dizer - da sociedade como um todo.

 

Assim, por conta da fidelidade a compromissos sócio-familiares - e quem não os tem -, tenho participado necessariamente de discussões, debates ou diálogos (como prefiro chamar esses encontros) que me permitem filosofar, inclusive nas redes sociais, sobre nossos papéis nos diferentes contextos relacionais e as máscaras que utilizamos para desempenhá-los. O tema me é tão caro, que já há mais de dez anos publiquei por aqui – Rev.nº 116, mai/jun/2002 – uma crônica intitulada “Máscaras de Si”.

 

Peões e peoas despreparados que somos neste descomunal jogo de xadrez em que transformamos a vida, movemos nossos egos (ou por eles somos movidos) em busca do xeque-mate – meta suprema de todo jogador -, medindo “forças” com o pretenso adversário, sem nos darmos conta de que o outro é apenas um(a) parceiro(a) e de que o objetivo do jogo é o aprimoramento de nossas relações pessoais e comunitárias.

 

Abrir caminho para a vitória “comendo” peças que possam tornar-se empecilhos, tocaiar o inimigo, excluí-lo sempre que possível, nos causam verdadeiro frenesi nessa ânsia desenfreada pela dominação.  Humilhar o Rei – aquele em quem projetamos poderes imaginários -, subjugando-o e o fazendo dobrar-se ante todos é o supremo delírio a inflar nossos egos.

 

 

*A autora é pós-graduada em Jusfilosofia e Mestre em Direito do Trabalho pela USP. Ex-Diretora Cultural do Cay, é também patrona da Biblioteca-Centro de Estudos e seus demais escritos podem ser acessados no Facebook e no blog www.novaeleusis.blogspot.com .   

 

Publ. in Revista do Ypiranga, mar/abril/2013, pág. 13.     

 

 

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