XEQUE-MATE
Suzete
Carvalho*
Como toda escritora que se preza,
procuro manter olhos e ouvidos bem abertos e, na medida do possível, a boca
fechada, ainda que não me rodeiem mosquitos. A propósito, só pra não perder o mote, é bom
lembrar que nós, ypiranguistas, teremos que redobrar os cuidados, pois a dengue
está aí a nos rondar, pronta para o ataque. Mosquitos à parte, o fato é que, eventualmente,
sou brindada com alguns insights mais
(do meu ponto de vista) ou menos (do ponto de vista da crítica de plantão)
interessantes.
Consideradas as palavras acima
como mero preâmbulo, o que quero dizer é que a(o) observador(a) mais atento,
toda reunião de pessoas com objetivos “pretensamente” comuns, seja em encontros
de trabalho, de lazer ou até mesmo familiares, acaba se revelando como um
microcosmo que reflete as mazelas – e as alegrias, porque não dizer - da
sociedade como um todo.
Assim, por conta da fidelidade a
compromissos sócio-familiares - e quem não os tem -, tenho participado
necessariamente de discussões, debates ou diálogos (como prefiro chamar esses
encontros) que me permitem filosofar, inclusive nas redes sociais, sobre nossos
papéis nos diferentes contextos relacionais e as máscaras que utilizamos para
desempenhá-los. O tema me é tão caro, que já há mais de dez anos publiquei por
aqui – Rev.nº 116, mai/jun/2002 – uma crônica intitulada “Máscaras de Si”.
Peões e peoas despreparados que
somos neste descomunal jogo de xadrez em que transformamos a vida, movemos
nossos egos (ou por eles somos movidos) em busca do xeque-mate – meta suprema
de todo jogador -, medindo “forças” com o pretenso adversário, sem nos darmos
conta de que o outro é apenas um(a) parceiro(a) e de que o objetivo do jogo é o
aprimoramento de nossas relações pessoais e comunitárias.
Abrir caminho para a vitória
“comendo” peças que possam tornar-se empecilhos, tocaiar o inimigo, excluí-lo
sempre que possível, nos causam verdadeiro frenesi nessa ânsia desenfreada pela
dominação. Humilhar o Rei – aquele em quem
projetamos poderes imaginários -, subjugando-o e o fazendo dobrar-se ante todos
é o supremo delírio a inflar nossos egos.
*A autora é pós-graduada em
Jusfilosofia e Mestre em Direito do Trabalho pela USP. Ex-Diretora Cultural do
Cay, é também patrona da Biblioteca-Centro de Estudos e seus demais escritos
podem ser acessados no Facebook e no blog www.novaeleusis.blogspot.com .
Publ. in Revista do Ypiranga,
mar/abril/2013, pág. 13.
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