Acredito que os conceitos abaixo, sobre os quais
venho trabalhando há mais de uma década, podem ser objeto de reflexão neste
complexo momento pelo qual a sociedade está passando.
VIOLÊNCIA
E CIDADANIA - UM DIÁLOGO
IMPOSSÍVEL
Violência é o uso da força - física ou não - para
constranger ou para coagir alguém a fazer ou deixar de fazer alguma coisa. É agressão, conduta destrutiva que, em
princípio, não se confunde com a agressividade, entendida esta como força ou
dinamismo necessário até mesmo à sobrevivência. Assim, a agressividade
geralmente é positiva, enquanto a violência é sempre negativa. Violência ou agressão era a forma de solução
de conflitos pré-jurídica, em que se utilizavam as vias de fato, às quais mais
tarde vieram a sobrepor-se as vias de direito.
Toda violação de direito é, portanto, uma espécie de violência.
(...)
Violência simbólica - Por outro lado, um
pequeno número de privilegiados que detêm o poder sócio-político, midiático ou
econômico, alia-se na criação de formas hábeis de manutenção de seu status, agindo em geral
subrepticiamente, com receio de perder a hegemonia.
Não
sendo física, essa invisível “violência doce da razão”, geralmente passa
despercebida inclusive por aqueles contra quem se destina, cuja ingênua
cumplicidade acaba por legitimar a imposição, ajudando a neutralizar as
possíveis reações, pela consensualidade.
(...)
Alguns, mais conscientizados, movimentam-se no
sentido de uma participação efetiva em busca de melhores paradigmas,
esquivando-se das torrentes manipulatórias e procurando apreender o verdadeiro
significado dos acontecimentos, sem se deixar levar pela visão estereotipada
com que lhes são apresentados.
Reconhecem, assim, a premência de uma participação ativa de todos os
atores sociais para que se efetive a necessária mudança de comportamento
mental, que deve preceder as transformações sócio-político-econômicas.
(...)
Ser cidadão, portanto, é aplicar e fazer aplicar
concreta e indiscriminadamente os direitos (e deveres) humanos, tirando-os de
sua condição de mera abstração e desvirtuamento; é reconhecer os pontos de
fragilidade do sistema e envidar esforços para sua superação, participando
efetivamente da busca de soluções que nos beneficiarão a todos. Assim, o
alcance da cidadania plena não se coaduna com a violência sob qualquer de suas
formas.
sc/ Extratos de palestra ministrada no Espaço
“Creche da Cidadania”, na Livraria Ícone, em S.Paulo, no dia 23/04/2001, publ.
na íntegra, sob o título acima, in Thot
76/2001, pág.37/42.