A
hora é agora
Há milênios o ser humano se
reconhece como animal gregário por excelência (Aristóteles dizia “animal
político”), mas o espaço público nem sempre pertenceu a todas as pessoas, ou
melhor, até recentemente, os espaços públicos eram privilegiados, já que seu
acesso era negado – e o é, ainda, em várias partes do mundo - a grande parte da
população: as chamadas minorias que, se somadas, totalizam a maioria arrasadora
dos seres humanos.
Hoje, em que pesem as conhecidas
exclusões, homens e mulheres “ganharam” as ruas em várias partes do mundo, como
locais apropriados a toda forma de expressão política. Assim, a cidadania vem ganhando progressivamente um status nunca visto, apoiada agora por caminhos
jamais sonhados ou, como dizia o poeta, por “mares nunca dantes navegados” - os
espaços virtuais, com suas Redes que acatam todos os clamores e ideologias, sem
exceção, acabando por estabelecer um debate.
É bem verdade que todas as
pessoas que se dignarem ler esta crônica, sabem que esses espaços são vigiados –
oh, a premonição de George Orwell que, com seu “1984” antecipou o Grande Irmão
(Big Brother)! -, mas, a inteligência coletiva sempre encontrará formas de
driblar o “Olho que (acredita) tudo vê” e se expandir a ponto de transformar o
debate em diálogo, pressuposto necessário da liberdade.
O que quero dizer é que, ainda
que à revelia de fanáticos e manipuladores, a tendência mundial é a de uma
democratização (e uso essa expressão à falta de uma melhor, que com certeza
surgirá) sem precedentes de todos os espaços públicos, inclusive os da grande
mídia que, atordoada ante a força das vozes sociais, se vê forçada a mudar o
tom, inclinando-se ainda que com certa timidez por ora, a esse novo Poder que,
se bem usado, terá o condão de reverter valores distorcidos pelos sempiternos
donos do Poder, seja androcêntrico ou político-ideológico, seja religioso, seja
a mais perversa das dominações porque mantém a fome no mundo: o Poder de
Mercado.
Sim, minha experiência de mais de
seis décadas de observação, me faz crer que esta é a hora e a vez dos grupos
excluídos, sejam as mulheres antes confinadas ao espaço privado ou os idosos a
seus aposentos (daí o nome “aposentados); sejam as pessoas cujo nível de
pobreza as levaram a serem contempladas com a chamada bolsa-família – como um
primeiro passo para a inclusão social – como é o caso também das cotas para
indígenas e afro-descendentes; sejam, enfim, todos os homens e mulheres que não
se “enquadram” nas arcaicas e pré-determinadas concepções comportamentais que
lhe têm sido impostas desde sempre.
Algumas pessoas, mais místicas,
dirão que essa é a consciência da Nova Era. Outras,mais racionais, que isso é
pura utopia, mas, como o Educador Paulo Freire, acredito que toda utopia é uma
“esperança revolucionária”, aquela esperança que nos faz ir pacífica e
persistentemente à luta (ou às ruas e às redes sociais), na certeza de que
“quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.
Enfim, nas palavras de mestre Eckhart Tolle: “A hora é agora. O que mais
existe?”.
*Publ. na “Coluna da Suzete” do
Jornal “Gazeta do Ipiranga”, hoje (09/08/2013),
Cad. A-5.
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