Sobre
máscaras e más caras
Suzete Carvalho*
Há
mais de uma década, escrevi uma crônica sob o título “Máscaras de Si”,
publicada em outro periódico, na qual eu dizia que “as pessoas são
interessantíssimas. Máscaras, de fato, de si e para si mesmas.” Hoje,
assistindo a um vídeo sobre a violência de alguns mascarados infiltrados em
manifestações legítimas para tentar desestabilizar a ordem democrática, retomo
o tema.
Preocupada
com o rumo que a crônica vai tomando, minha conselheira Dª Nena trata de me
alertar: “Não diga que você vai enveredar pela política. Não é do seu feitio.”
– “Agora te peguei, minha cara: “O ser humano é um animal político e, aliás, é basicamente isso que o diferencia
dos irracionais. Mas o assunto que me move hoje são as máscaras de que,
queiramos ou não, cada um(a) de nós se utiliza no dia a dia como mecanismo de
defesa ou, principalmente, de ataque.”
Por
uma dessas “coincidências significativas” que Jung denominou sincronicidades,
nesta altura da crônica recebo via facebook o poema “Striptease”, de autoria da
inspiradíssima Zélia Guardiano: “Desnudar a alma/ Deixá-la nua/ Em pelo/ Em
pleno palco/ No meio do mundo/ Onde/ Qualquer nobre/ Ou/ Qualquer vagabundo/ Pudesse
vê-la// Mostrar as vergonhas:/ Excessos/
Faltas/ Rugas/ Asperezas// Quem será tão artista?”.
Sim,
poeta, é por isso que usamos máscaras quando nos apresentamos no teatro da vida!
Artistas medíocres que somos, não ousamos desnudar nossas “vergonhas” ante a
plateia – seja ela externa ou interna -, por medo de não sermos aceitos, já que
não nos aceitamos a nós próprios(as). Adotamos uma máscara que a todos confunde
e a incorporamos de tal forma que passamos, qual Narciso(s), a acreditar na
imagem refletida no lago de nossas emoções.
Já
que o “espetáculo” não pode parar, nossa arte maior consiste em camuflar a
realidade e apresentá-la de forma a preencher nossos interesses ou, se
preferirem, nossos egos. Esse o lado perverso da vida de alguns políticos
ultrapassados, que fazem de suas tribunas – inclusive a midiática - um palco de
projeções de suas próprias mal-dissimuladas “ru(s)gas” e mazelas, sua cobiça e
inveja, seu medo de perder o status e
ser lançado ao ostracismo.
*Suzete
Carvalho escreve neste espaço toda segunda sexta-feira do mês. Alguns de seus
escritos em prosa e verso podem ser acessados e comentados no facebook e no
blog www.novaeleusis.blogspot.com
**Publicado
no Jornal “Gazeta do Ipiranga”, 08/11/2013, pág. A-3.
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