segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Sobre máscaras e más caras


                                               Sobre máscaras e más caras

 

                                                                                                                   Suzete Carvalho*

 

Há mais de uma década, escrevi uma crônica sob o título “Máscaras de Si”, publicada em outro periódico, na qual eu dizia que “as pessoas são interessantíssimas. Máscaras, de fato, de si e para si mesmas.” Hoje, assistindo a um vídeo sobre a violência de alguns mascarados infiltrados em manifestações legítimas para tentar desestabilizar a ordem democrática, retomo o tema.  

Preocupada com o rumo que a crônica vai tomando, minha conselheira Dª Nena trata de me alertar: “Não diga que você vai enveredar pela política. Não é do seu feitio.” – “Agora te peguei, minha cara: “O ser humano é um animal político e, aliás, é basicamente isso que o diferencia dos irracionais. Mas o assunto que me move hoje são as máscaras de que, queiramos ou não, cada um(a) de nós se utiliza no dia a dia como mecanismo de defesa ou, principalmente, de ataque.” 

Por uma dessas “coincidências significativas” que Jung denominou sincronicidades, nesta altura da crônica recebo via facebook o poema “Striptease”, de autoria da inspiradíssima Zélia Guardiano: “Desnudar a alma/ Deixá-la nua/ Em pelo/ Em pleno palco/ No meio do mundo/ Onde/ Qualquer nobre/ Ou/ Qualquer vagabundo/ Pudesse vê-la// Mostrar as vergonhas:/  Excessos/ Faltas/ Rugas/ Asperezas// Quem será tão artista?”.

Sim, poeta, é por isso que usamos máscaras quando nos apresentamos no teatro da vida! Artistas medíocres que somos, não ousamos desnudar nossas “vergonhas” ante a plateia – seja ela externa ou interna -, por medo de não sermos aceitos, já que não nos aceitamos a nós próprios(as). Adotamos uma máscara que a todos confunde e a incorporamos de tal forma que passamos, qual Narciso(s), a acreditar na imagem refletida no lago de nossas emoções. 

Já que o “espetáculo” não pode parar, nossa arte maior consiste em camuflar a realidade e apresentá-la de forma a preencher nossos interesses ou, se preferirem, nossos egos. Esse o lado perverso da vida de alguns políticos ultrapassados, que fazem de suas tribunas – inclusive a midiática - um palco de projeções de suas próprias mal-dissimuladas “ru(s)gas” e mazelas, sua cobiça e inveja, seu medo de perder o status e ser lançado ao ostracismo.

 

*Suzete Carvalho escreve neste espaço toda segunda sexta-feira do mês. Alguns de seus escritos em prosa e verso podem ser acessados e comentados no facebook e no blog www.novaeleusis.blogspot.com

**Publicado no Jornal “Gazeta do Ipiranga”, 08/11/2013, pág. A-3.

 

 

 

 

 

 

 

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