C r ô n i c a escrita em
fevereiro 2014 e “Censurada” pelo Jornal com o qual colaborava há anos e que
foi “abduzido” por um Partido Político...
“2014
promete...”
Uma das fontes de inspiração de
quem se dedica a escrever crônicas, é ouvir conversas de pessoas desconhecidas,
em lugares públicos. Assim é que, há
dias, em uma lanchonete, ouvi a instigante frase de um dos jovens que ocupavam
uma mesa próxima: “Pois é, “véi”, 2014 promete!”. Uma voz feminina se fez
ouvir: “Verdade, mas...” e, infelizmente, o papo promissor se interrompeu, com
a chegada da garçonete: “Querem fazer o pedido agora?”. Para minha frustração, eles queriam, sim –
afinal é para isso que se vai a uma lanchonete, não?
Durante alguns minutos, apurei os
ouvidos na esperança de que a conversa retomasse seu rumo, mas qual(!), a turma
já “sacara” seus Iphones/Ipods/Smarths,
sei lá mais o quê e o diálogo(?) assumiu
uma linguagem um tanto codificada: - “Oh isso, mano!”. – “Demorô!”... e as frases
e risadas soltas, entremeadas por termos em inglês e “internautês” – só
inteligíveis aos iniciados – tiveram o condão de fazer com que eu me recolhesse
às minhas próprias reflexões, reprimindo a vontade de me aproximar e fazê-los
retomar o assunto.
“É nisso que dá ficar ouvindo a
conversa alheia”, brincou minha nobre conselheira Dª Nena. – “Você não percebe
que eles me inspiraram?” retruquei, indignada com sua risadinha de quem parece
estar pensando: “Ponha-se no seu lugar, mulher!”. O fato é que a simples
expressão “Verdade, mas...”, emitida
pela jovem, soou como música a meus ouvidos, pois estou certa de que ela, se
instada a falar - como, aliás, a maioria dos adolescentes, em que pese sua
linguagem cifrada – nos ajudaria a repensar alguns dos tantos temas candentes a
serem enfrentados pelos cidadãos e cidadãs brasileiras, neste Ano da Graça de
2014.
A grande questão é que 2014 é um
ano decisivo e promete, sim, mas promete o quê, exatamente? Acredito que a resposta
mais plausível a essa importante questão, proposta por jovens aparentemente
desconectados da realidade social, seria: “Depende de mim, de você que me lê,
de todos nós, brasileiros e brasileiras. Depende da nossa consciência e atitude”.
Aproveito para lembrar, já que estamos em “Ano de Copa”, que já é hora de
deixarmos de lado, por exemplo, o velho “complexo de vira-latas” (para usar a
expressão criada por Nelson Rodrigues, exatamente a respeito do futebol) atitude
que já começa a se tornar piada na imprensa estrangeira. Será que é isso que queremos?
Enfim, aproveito para lembrar que
é também “Ano de Eleições”, o que requer o exercício consciente de nossa
responsabilidade para o futuro do país e que já é hora de pensarmos por nós
mesmos, sem nos deixarmos levar pelos ‘maucaratistas’ de plantão (ou, se
preferirem, pelos ‘arautos do caos’), sempre prontos a denegrir iniciativas
sociais que vêm recebendo aplausos e sendo, literalmente, copiadas e
implantadas mundo a fora. É preciso que nos cuidemos, para não sermos inocentes
úteis, nas mãos daqueles que venderiam a própria mãe, a alma, o país, em sua
ânsia pelo Poder.