segunda-feira, 26 de maio de 2014

2014 Promete...


C r ô n i c a escrita em fevereiro 2014 e “Censurada” pelo Jornal com o qual colaborava há anos e que foi “abduzido” por um Partido Político...

                                               “2014 promete...”                  

Uma das fontes de inspiração de quem se dedica a escrever crônicas, é ouvir conversas de pessoas desconhecidas, em lugares públicos.  Assim é que, há dias, em uma lanchonete, ouvi a instigante frase de um dos jovens que ocupavam uma mesa próxima: “Pois é, “véi”, 2014 promete!”. Uma voz feminina se fez ouvir: “Verdade, mas...” e, infelizmente, o papo promissor se interrompeu, com a chegada da garçonete: “Querem fazer o pedido agora?”.  Para minha frustração, eles queriam, sim – afinal é para isso que se vai a uma lanchonete, não?

Durante alguns minutos, apurei os ouvidos na esperança de que a conversa retomasse seu rumo, mas qual(!), a turma já “sacara” seus Iphones/Ipods/Smarths, sei lá mais o quê e o diálogo(?)  assumiu uma linguagem um tanto codificada: - “Oh isso, mano!”. – “Demorô!”... e as frases e risadas soltas, entremeadas por termos em inglês e “internautês” – só inteligíveis aos iniciados – tiveram o condão de fazer com que eu me recolhesse às minhas próprias reflexões, reprimindo a vontade de me aproximar e fazê-los retomar o assunto.

“É nisso que dá ficar ouvindo a conversa alheia”, brincou minha nobre conselheira Dª Nena. – “Você não percebe que eles me inspiraram?” retruquei, indignada com sua risadinha de quem parece estar pensando: “Ponha-se no seu lugar, mulher!”. O fato é que a simples expressão “Verdade, mas...”,  emitida pela jovem, soou como música a meus ouvidos, pois estou certa de que ela, se instada a falar - como, aliás, a maioria dos adolescentes, em que pese sua linguagem cifrada – nos ajudaria a repensar alguns dos tantos temas candentes a serem enfrentados pelos cidadãos e cidadãs brasileiras, neste Ano da Graça de 2014.

A grande questão é que 2014 é um ano decisivo e promete, sim, mas promete o quê, exatamente? Acredito que a resposta mais plausível a essa importante questão, proposta por jovens aparentemente desconectados da realidade social, seria: “Depende de mim, de você que me lê, de todos nós, brasileiros e brasileiras. Depende da nossa consciência e atitude”. Aproveito para lembrar, já que estamos em “Ano de Copa”, que já é hora de deixarmos de lado, por exemplo, o velho “complexo de vira-latas” (para usar a expressão criada por Nelson Rodrigues, exatamente a respeito do futebol) atitude que já começa a se tornar piada na imprensa estrangeira.  Será que é isso que queremos?

Enfim, aproveito para lembrar que é também “Ano de Eleições”, o que requer o exercício consciente de nossa responsabilidade para o futuro do país e que já é hora de pensarmos por nós mesmos, sem nos deixarmos levar pelos ‘maucaratistas’ de plantão (ou, se preferirem, pelos ‘arautos do caos’), sempre prontos a denegrir iniciativas sociais que vêm recebendo aplausos e sendo, literalmente, copiadas e implantadas mundo a fora. É preciso que nos cuidemos, para não sermos inocentes úteis, nas mãos daqueles que venderiam a própria mãe, a alma, o país, em sua ânsia pelo Poder.